Calçada tem de ser vista como parte importante da vida urbana, e não como lugar de passagem rápida de pessoas

Cidades civilizadas são construídas, literalmente, a cada passo, e é na infraestrutura de mobilidade a pé que se mede o respeito dedicado à população pelas prefeituras

Por Helena Degreas 10/02/2024 08h00 – Atualizado em 10/02/2024 12h39

Gestão eficiente e reorganização de prioridades podem transformar muitos lugares inadequados em excelentes espaços públicos – Fonte: freepik

Lembrei-me do jornalista Gilberto Dimenstein e do seu hábito saudável de, literalmente “andar por aí” e descobrir coisas e detalhes que só o passo lento, o olhar livre de intenções e o prazer estético são capazes de proporcionar. Tento, em vão, manter o hábito das longas caminhadas, mas “tá difícil”, Gilberto. É sério. O descaso para com o andar das pessoas é histórico e remonta o tipo de colonização de nossas terras. Está entranhado na gestão da coisa pública. Uma visita às cidades colonizadas pelos espanhóis mostra padrões rigorosos na forma urbana impactando diretamente na qualidade da paisagem vivenciada e nas calçadas. As ruas organizadas em um padrão de grade ao redor de uma “plaza” central revelam uma estrutura planejada, onde a igreja e o governo ocupavam lugares proeminentes. Essa disposição não apenas determinava a paisagem urbana, mas também exercia influência direta na construção das calçadas públicas. Ruas largas e alinhadas continuam a oferecer espaços generosos para a circulação de pedestres, enquanto a “plaza” central, frequentemente dominada por uma igreja de estilo barroco, transformava as calçadas em locais centrais para atividades sociais e religiosas.

Separados por um oceano de distância entre os continentes, a autoridade portuguesa presenciou o surgimento de povoamentos espontaneamente originados de expansões territoriais decorrentes de atividades econômicas, como bandeiras e mineração, religiosas, militares e indígenas. As ruas, frequentemente sinuosas, e, por extensão, as calçadas, ainda hoje, se adaptaram às características dos terrenos acidentados, seguindo as inclinações e larguras possíveis impostas pela topografia natural.

Poucos são os projetos urbanos de bairros e cidades executados por prefeituras e demais entes federativos. O que vivenciamos hoje é resultado de uma abordagem mais abstrata e centralizada proveniente de um planejamento urbano por meio do uso de taxas, coeficientes, indicadores e regulações que permitem ao proprietário de lotes e glebas praticamente definir a forma final do lugar por onde andam as pessoas. Para os bairros periféricos, mais distantes das áreas centrais, a abordagem da forma urbana final é ainda mais complexa pois a ausência de regulamentações urbanas e políticas públicas de habitação secularmente frouxas no atendimento das populações, levou e ainda leva, à autoprodução de bairros em áreas urbanas que ainda hoje resultam em vielas e becos prejudiciais aos cidadãos além de caminhos de acesso informais, rotas improvisadas que conectam diferentes partes do assentamento, frequentemente sem planejamento formal, enquanto vielas e becos formam estreitas passagens entre edificações, ocasionalmente constituindo redes complexas de caminhos sinuosos.

Embora a demanda por moradia cresça exponencialmente, os projetos urbanos de bairros e cidades implementados por prefeituras e outros entes federativos desde o século XX são insuficientes. A abordagem predominante, baseada em taxas, coeficientes e indicadores numéricos, prioriza o planejamento abstrato e centralizado, relegando a segundo plano as necessidades das pessoas que vivem e circulam nas cidades. Essa lógica coloca nas mãos dos proprietários de terrenos a responsabilidade final pela forma do lugar, sem considerar o impacto social e ambiental das decisões tomadas.

A situação nos bairros periféricos apresenta uma complexidade ainda maior. A histórica negligência do Estado na regulamentação urbana e na implementação de políticas públicas de habitação levou à autoconstrução de grande parte desses assentamentos. Isso se reflete em vielas e becos estreitos, muitas vezes sem planejamento formal, dificultando o acesso e a circulação dos moradores e configurando redes complexas de caminhos sinuosos. Frequentemente, essas áreas carecem de infraestrutura básica adequada, como pavimentação, iluminação e saneamento. A inexistência e a difícil implantação das calçadas é apenas um reflexo dessa realidade desafiadora.

No projeto #UmaRuaCadaDia, o Portal Mobilize especializado no conteúdo exclusivo sobre Mobilidade Urbana Sustentável vem publicando desde o primeiro dia do ano várias imagens que retratam as diferentes realidades das ruas e calçadas do território brasileiro. Rondon (PR), Hortolândia (SP), Caucaia (CE), Rio Formoso (PE) apresentam ruas com calçadinhas de pedra, ruas de terra, com mesinhas sobre o asfalto, estreitas e com carros estacionados sobre as calçadas, um mosaico das distintas realidades brasileiras dos locais por onde caminham os brasileiros. Questões de design/projeto frequentemente não são insolúveis; uma ênfase equivocada no tráfego automotivo ou medidas de segurança excessivamente rigorosas pode ser a linha que separa o fracasso do sucesso. A gestão eficiente e uma reorganização de prioridades podem transformar muitos lugares inadequados em excelentes espaços públicos.

A infraestrutura de mobilidade a pé, englobando calçadas, pistas e travessias, é importante para a eficiência da mobilidade urbana, seguindo diretrizes dos planos de mobilidade de implantação obrigatória nas cidades brasileiras. Infraestrutura de mobilidade a pé abrange espaços viários como calçadas, pistas, canteiros centrais e travessias, incluindo elementos como calçadões, faixas elevadas, passarelas, sinalizações específicas e mobiliário urbano. A rede de mobilidade a pé opera em conexão, seguindo uma hierarquia viária para integrar elementos e fluxos de pedestres, sendo essencial para planejar e operar a mobilidade a pé de maneira eficiente. Não é um lugar de passagem rápida de pessoas. É parte importante da vida urbana.

As calçadas, em particular, são medidas da civilidade de um lugar público, sendo elementos fundamentais para consolidar laços sociais e promover qualidade de vida urbana. O espaço público transcende definições jurídicas e normas urbanísticas. Primordialmente, é um resultado do uso social, influenciado pelas variadas formas como as pessoas o ocupam e dele se apropriam. A qualidade desse espaço encontra-se na construção social e política, levando em conta os modos de utilização, os significados atribuídos, a acessibilidade e as dinâmicas sociais que o envolvem. Desta forma, as calçadas como integrantes do espaço público, emergem como uma métrica da civilidade e qualidade urbana. Ao repensarmos nossos espaços públicos, considerando usos, acessibilidade e dinâmicas sociais, podemos transformar não apenas as calçadas, mas toda a experiência urbana. Tem alguma dúvida ou quer sugerir um tema? Escreva para mim no Twitter ou no Instagram: @helenadegreas

Vamos quebrar o asfalto e plantar árvores? Soluções para chuvas podem ser criativas e de baixo custo

Rotatórias, minirrotatórias e demais sistemas de sinalização do tráfego de automóveis têm o potencial de melhorar as condições estéticas locais e ainda colaborar com a absorção de águas

  • Por Helena Degreas
  • 02/03/2021 09h00 – Atualizado em 02/03/2021 09h40

Helena Degreas/Jovem PanRotatórias ajardinadas embelezam as vias e ajudam a absorver água das chuvas

As cidades enfrentam problemas relacionados à baixa capacidade de absorção das chuvas desde que o processo de urbanização adotado por nossa civilização assumiu a impermeabilização do solo por meio do uso de asfalto e do concreto como critério de ocupação do território. É como a água que usamos para regar um jardim: ela é absorvida pela terra. O pavimento utilizado para ruas e avenidas reduziu a capacidade de infiltração das águas pluviais. Como a água não tem por onde se infiltrar, o resultado é o escoamento superficial de um volume imenso que se acumula quadra a quadra e se transforma em enxurradas e inundações que, nas cidades, causam risco à integridade física das pessoas e danos materiais

Para captar, transportar e drenar a água das chuvas, o poder público municipal instala e mantém um conjunto de tubulações (galerias pluviais). Diferentemente do sistema de esgoto, as águas das chuvas não recebem tratamento específico e são direcionadas para os rios e córregos, podendo contaminar a local. Paralelamente, a necessidade de reduzir os custos do processo de urbanização leva prefeituras a adotarem, em seus planos diretores, estratégias e diretrizes para o adensamento populacional em bairros que dispõem de equipamentos públicos como escolashospitais e redes de transporte, mas onde há poucas pessoas morando e trabalhando. Um problema que pode surgir nestes casos é a capacidade de drenagem da infraestrutura instalada, que foi configurada para atender zoneamentos, densidade populacional e eventos climáticos (chuvas torrenciais que vêm ocorrendo sistematicamente nos últimos anos) de décadas passadas. PUBLICIDADE

Repensar a forma como as cidades vêm sendo construídas pode levar a soluções criativas e de baixo custo. Para além dos piscinões, é possível utilizar áreas de orientação de tráfego de veículos como rotatórias e faixas de sinalização viária como jardins, retirando a capa de asfalto e permitindo a infiltração das águas das chuvas. A foto que ilustra esta coluna foi tirada em um bairro predominantemente residencial na cidade de São Paulo, que, com o objetivo de reduzir a velocidade dos automóveis em seus cruzamentos e assegurar a travessia segura dos pedestres, teve implantadas rotatórias e demais sinalizações de segurança. População, Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e subprefeitura foram responsáveis pelo ajardinamento destes locais, que contam com a parceria de empresas e da população residente para a gestão da manutenção. Rotatórias ajardinadas sobre o asfalto não são novidade nas cidades brasileiras. A iniciativa para o ajardinamento destes locais é solicitada predominantemente pela população e realizada em parceria com secretarias ou subprefeituras, como no caso da cidade de São Paulo desde meados dos anos 2000. Algumas funcionam como vasos, outras têm capacidade de infiltração apenas e algumas atuam como jardins de chuva, não obedecendo a um critério específico.

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Prefeitura determina que donos de imóveis se responsabilizem por conservação e manutenção dos pavimentos urbanos, mas esses serviços deveriam ser feitos por uma autarquia.

  • Por Helena Degreas
  • 23/02/2021 09h00 – Atualizado em 23/02/2021 09h36

Helena Degreas/Jovem PanDegraus altos em calçada da zona oeste dificulta a mobilidade

O leitor já deve ter percebido que caminhar pelas cidades brasileiras é um ato de coragem. Os calçamentos são geralmente sofríveis. Perdoe-me Carlos Drumond de Andrade, mas no meio do caminho o pedestre encontrará não apenas uma pedra, mas também um buraco, um bueiro solto, uma tampa fora do lugar, bancas de jornal, lixeiras, postes com fios pendurados de todas as empresas prestadoras de serviços urbanos… E quem cuida disso? A prefeitura? O cidadão? Essa é a questão. Citei as calçadas como se em todos os bairros, mesmo naqueles mais distantes das regiões centrais, o calçamento existisse. Quem já teve o privilégio de viajar para cidades de países próximos ao Brasil deve ter observado que os pisos têm um padrão uniforme, são lisinhos, bem cuidados. A mesma qualidade pode ser encontrada nos equipamentos públicos, mobiliário urbano e na distribuição da vegetação pelas calçadas.https://3076e2066e9aeb4502c0bcc0a16c521a.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html

Por que os locais por onde circula toda a população brasileira é tão malcuidado? Em algum momento, todas as pessoas irão colocar o pé na calçada. Ir à banca, passar na farmácia, comprar algo da padaria da esquina, tomar o ônibus, levar uma criança para tomar sol, o seu pet para passear ou mesmo sentir o vento no rosto e ver gente na rua: são comportamentos rotineiros para as pessoas e que são realizados a pé ou em cadeira de rodas, com ajuda de muletas por exemplo; mais cedo ou mais tarde, mesmo os mais fanáticos por seus carros, em algum momento também sentirão o prazer de andar pelas ruas de suas cidades. Mas até os bairros mais ricos apresentam calçadas, em muitos casos, vergonhosas…PUBLICIDADE

No dicionário, a calçada é descrita como “caminho ou rua com pavimento de pedra”. E foi assim que tudo começou por aqui. Pedra para calçar as ruas de terra e proteger os pedestres. Todas as cidades têm suas histórias e respectivas datas, mas, aqui em São Pauloas primeiras calçadinhas foram feitas no século XVII, quando a cidade ainda era uma província. Sua função era muito importante: proteger as casas da água e da lama que resultavam das fortes enxurradas. Só isso. Para ilustrar a situação, recorro a um pequeno objeto em ferro fixado no chão e colocado logo à entrada das casas mais antigas. Alguns já devem ter visto. O tal objeto servia para limpar o barro da sola dos sapatos dos visitantes e moradores antes de entrar na casa. Em várias cidades, e apesar de existir há muitos anos, o objeto permanece útil e funcional ainda hoje.

Guias para separar o que de fato era passeio público, calçadas do leito destinado à circulação, primeiramente de mulas e carroças, e posteriormente dos automóveis, aconteceram apenas nos séculos seguintes. Aos poucos, a cidade foi se adensando, se espalhando no território, novos serviços foram sendo instalados. Veio a energia elétrica, abastecimento de água, coleta de esgoto, coleta de águas pluviais, gás, bombeiros, cabeamento para serviços diversos na área de comunicação, além de bancas de jornal, bancosárvores, esculturas, semáforos e tudo o que o leitor lembrar. Enquanto escrevia a coluna, fiz uma lista do nome das empresas prestadores de serviços que estão nas calçadas em torno da minha casa: por volta de 40. Todas têm permissões dos governos federalestadual e municipal para atuar sobre o espaço público e prestar serviços essenciais à vida de quem mora nas cidades. Todas têm manuais próprios para procedimento de implantação, distribuição e manutenção de seus serviços.https://platform.twitter.com/embed/Tweet.html?dnt=true&embedId=twitter-widget-0&frame=false&hideCard=false&hideThread=false&id=1364192198791729154&lang=pt&origin=https%3A%2F%2Fjovempan.com.br%2F&siteScreenName=portaljovempan&theme=light&widgetsVersion=889aa01%3A1612811843556&width=500px

À título de exemplo, cito a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), vinculada à Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes da cidade de São Paulo. Sozinha, ela responde por 14 manuais que tratam da sinalização urbana. Cada uma delas deve ter procedimentos e ações próprias para cumprir com o padrão de qualidade de seus serviços. Como organizar essa situação? Embora em praticamente todo o país a responsabilidade pelas calçadas seja do munícipe, pergunto-me como é possível que indivíduos sejam capazes de cuidar de todos os agentes públicos que atuam e intervêm diretamente no espaço em frente ao seu imóvel. Como garantir padronização das larguras e uniformidade quanto ao tipo e qualidade de piso utilizado se o munícipe escolhe a partir de seus interesses? Como garantir que uma calçadinha seja responsável por todos os caminhos e situações pelos quais um pedestre passa ao longo de suas caminhadas? Respondo: não é possível.

Para resolver a situação, o prefeito Bruno Covas promulgou o decreto nº 58.611, de 24 de janeiro de 2019, que tem como objetivo padronizar as calçadas de São Paulo. Ficaram definidos como responsáveis pelas obras e serviços relativos à implantação, conservação e manutenção de calçadas os proprietários, possuidores de títulos de propriedade e condomínios. As permissionárias que anteriormente citei deverão reparar os danos causados às calçadas após realizado o serviço. O munícipe deve seguir o conjunto de documentos e manuais que estão disponíveis no site da prefeitura. Por experiência própria, posso afirmar que os reparos destas empresas são inadequados. Calçadas acessíveis, com guias rebaixadas localizadas nos pontos adequados ao atravessamento de cidadãos vulneráveis, pisos homogêneos com identidade visual estabelecida pela prefeitura, implantação de postes para iluminação adequada — tanto para o automóvel quanto para o pedestre—, localização adequada de tapumes de obras, bancas de jornal, lixeiras, sinalização de ruas e organização de todas as tampas de serviços das diversas empresas permissionárias e concessionárias, por exemplo, deveriam ser realizadas por uma autarquia responsável pela qualidade do espaço público, incluindo nele não apenas as calçadas, mas todas as áreas em que circulam pedestres e ciclistas.

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Para que isso aconteça, faz-se necessário o planejamento de um Sistema de Circulação de Pedestres como aquele previsto pelo Plano de Mobilidade de 2015. Andar a pé ou por meio de rodinhas demanda uma infraestrutura complexa, que envolve uma série de componentes que não se esgotam na Cartilha de Calçadas Acessíveis ou ainda no decreto promulgado pelo atual prefeito. Os componentes do Sistema de Mobilidade para Pedestres são compostos por calçadas, vias de pedestres (calçadões), faixas de pedestres e lombofaixas, transposições, passarelas e sinalização específica. Mais adiante, o artigo Art. 221 (Plano Diretor da Cidade de São Paulo, em seu Título 3 – Da Política e dos Sistemas Urbanos e Ambientais) define uma série de ações estratégicas que são de responsabilidade da prefeitura, destacando-se a definição de rotas (Rede de Mobilidade a Pé) para a implantação da padronização dos componentes do sistema de circulação de pedestres em locais de intenso fluxo com o objetivo de melhorar o acesso e deslocamento de qualquer pessoa com autonomia e segurança e, por fim, integrar o sistema de transporte público coletivo com o sistema de circulação de pedestres por meio de conexões entre modais de transporte, calçadas, faixas de pedestre, transposições, passarelas e sinalização específica, visando a plena acessibilidade ao espaço urbano construído. A circulação segura do pedestre depende da qualidade de todos os componentes que estão previstos no Sistema de Circulação de Pedestres definido pelo Plano Diretor e que ainda não estabeleceu a Rede de Mobilidade a Pé. Aguardamos por políticas públicas e verbas que, para além da PEC Emergencial, que visa melhorar as condições das calçadas, também defina políticas, planos e ações práticas para os pedestres da cidade de São Paulo.

Gentilezas urbanas: conversa fiada, música e…

AMO andar a pé. Ver gente me deixa feliz. Interagir com outras pessoas me enche de energia.

Estava escrevendo um artigo difícil, técnico, por horas. Ricotinha e Chanel até que tentaram…estavam lá firmes e fortes me dando o maior apoio moral, mas… não deu. Empacou. Tem horas que o cérebro deixa de funcionar.

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Espairecer… Pareceu apropriado, portanto, #fui a pé.

Desci aquela calçada medonha da Oscar Freire que fica em frente ao metrô. Explicarei o que significa “medonha” em outro post. Porque merece, viu? Não dá para acreditar o que fez o metrô de São Paulo na estação Oscar Freire.

Virei a esquina na Rebouças e me deparei com as seguintes cenas perto da Capote Valente.

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Não é lindo? no lugar de literalmente espremer os pedestres entre uma calçadinha estreita com muros / cercamentos e uma avenida (a Rebouças cuja velocidade de 50 km/hora para automóveis é de fazer corar qualquer gestor público consciente sobre segurança viária) o conceito acordado entre os diversos atores que criam espaços urbanos e o escritório Dal Pian Arquitetos viabilizaran usos urbanos antes inpensáveis para o prédio do Nubank: conversar, comer, jogar conversa fora, andar a pé pelo lado de dentro da propriedade do #nubank e …

… por que não ensaiar para a uma apresentação? Estes são @rafaeldalapa e o @tchon.silva

Área pública, local gratuito, eventuais passantes que, como eu, podem assistir, aplaudir e compartilhar em redes sociais este breve instante que me fez sentir tão bem. Trata-se de um valor que não entra na contabilidade tradicional de uma empresa. Bem intangível? pode ser. Lembro da marca mesmo sem ser cliente.

Poderia falar aqui das dificuldades que enfrentam escritórios de arquitetura para a produção de projetos que propõem espaços abertos, públicos, fluidos etc. Poderia citar  o papel do “mercado imobiliário” que dita regras em nome de consumidores imaginários que tentam lucrar até com milímetros²… poderia falar das empresas de vigilância predial que entendem que toda e qualquer cidadão representa perigo potencial à integridade do edifício e que portanto o mais sensato a fazer é colocar cones, cercar e impedir o acesso… mas para quê?

Resolvi contar o que vi: boas práticas urbanas, boas práticas de projeto e o resultado materializado bem na minha frente – um passeio público lindo no qual várias pessoas passam bons momentos e retornam para as suas atividades cotidianas mais leves… melhores… felizes.

 

 

 

Mobilidade urbana sustentável: tinha um buracão no meio do caminho

Fonte: Acesse Portal

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. Uma calçada com flores vermelhas estampadas no piso, pedras de diversos tamanhos e cores em volta de arbustos com folhas largas dificultando a locomoção dos pedestres na calçada. Fim da descrição.
Arbustos dificultam a locomoção dos pedestres na calçada (Foto: Helena Degreas)

Por: Helena Degreas*

Um dia desses, estava em sala de aula falando sobre acessibilidade do ambiente construído em áreas urbanas. Para não assustar muito os futuros urbanistas, achei por bem falar sobre mobilidade urbana sustentável, com foco na requalificação dos espaços destinados à locomoção não motorizada – ou seja, locomoção que utiliza a força e energia do próprio corpo para ir de um lugar a outro. Pode ser percorrendo caminhos a pé, ou com rodinhas por exemplo, sejam elas bicicletas, skates, patinetes ou cadeiras.

 

Mobilidade urbana sustentável

É importante conhecer os responsáveis pela criação, manutenção, enfim, a gestão pública dos espaços que acolhem e viabilizam (ou não) o ‘ir e vir’ do cidadão brasileiro. Caminhar a pé ou por rodinhas não acontece apenas em calçadas. Acontece em praças, parques, jardins. Nem bem abri a boca direito para falar sobre o assunto quando, à queima roupa, atiram em mim, a primeira pergunta:

– Profa! A vizinha foi engolida por um buracão na calçada.

– Como é que é?

– Quero saber quem cuida disso.

– Que buracão? De quem era o tal do buracão?

– E buraco tem dono, profa? A mulher se arrebentou inteira. Acho que não viu. Era noite. Não tinha muita luz. A senhora vira e mexe fala de calçadas acessíveis. Para quem, profa?

– Como assim, não tinha luz? A calçada não tinha poste de iluminação de rua?

– Até tinha, profa. Mas a copa da árvore é tão grande que chega a fazer sombra até de noite… (gargalhadas na sala)

– Galhos avançando na calçada e cobrindo a iluminação? Na altura do pedestre?

– Isso, profa. Acho que o maior problema nem é a luz. Ela que use a lanterna do celular. Acho que o maior perigo é o piso da calçada.

– O que tem o piso da calçada?

– É bonitinho, profa. Cheio de pedras, gramas e flores. A vizinha poderia ter desviado pela rua mesmo, andado pelo asfalto…. Mas não! Foi pela calçada. Deve ter ficado com medo.

– Pela rua?! Como assim?! E desde quando pedestre anda pelo asfalto junto com os carros? Medo do quê?

– Carros não, profa! Ônibus. É faixa de ônibus. É certo que sempre tem caminhões estacionados na rua. Mas a faixa é dos ônibus. A velocidade é de 50 km por hora… a calçada é estreita. E tem aquele monte de lixo esperando o lixeiro recolher. Com medo de morrer atropelada pelo caminhão, ela disse que preferia arranhar o rosto com os galhos da árvore e destruir o salto do sapato novo com as pedrinhas que ficam no meio da grama que o vizinho plantou… daí ela decidiu ir pela calçadinha mesmo…

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. Imagem de uma calçada esburacada, com tampas de caixa de inspeção sem identificação quebradas. Ao lado do meio fio, colado no autor da foto, uma grade de bueiro quebrada e a imagem da lateral de um caminhão estacionado ao lado de quem está fotografando. Fim da descrição.
No meio do caminho tinha um buracão (Foto: Helena Degreas)

– Calçadinha? Galhos de árvores no rosto? Pedrinhas no meio da grama?

– É profa! Deve ter meio metro de largura, se tiver! Bem que o vizinho que está na frente da árvore queria podar, mas a regional disse que era para esperar… se mexer, multa na certa!

– Bom, chega de buracão na calçada. Segunda metade da aula, quero todo mundo aqui dentro com uma pesquisa. Quantas intervenções tem as calçadas em volta da faculdade? Quero saber o nome das concessionárias, que tipo de intervenções foram realizadas e, para o caso de uma reclamação sobre manutenção, existe algum contato para o cidadão? Pode ser? Incluam a legislação que regula a criação e manutenção das calçadas na pesquisa.

 

Horas depois…

– E então? Quem gostaria de iniciar a apresentação?

– Eu! Vi que tem vários buracões aqui em volta da faculdade.

– Sério? Bom… pode começar! De quem são os buracões?

– Bom, profa. São Paulo tem 32 mil km de calçadas. Uns 8 milhões de pessoas andam por elas todos os dias. Os buraquinhos, buracos e buracões tem vários donos. Ou se a senhora quiser, “agentes produtores e mantenedores das calçadas”. Vou citar alguns para a senhora. Vamos lá. A senhora quer que eu comece pelos municipais, pelos estaduais, pelos federais ou começa aqui, pelo bairro mesmo? Os particulares ou os públicos?

– Vejo que já criou uma classificação…

– É profa, organização e método é tudo, como a senhora sempre diz. Mas vamos, lá. O buracão do qual lhe falei… lembrei: não tinha nome. Aliás, nem todo buraco tem nome…. São buracos os mais diversos… muitos deles são buracões sem tampa… devem ter sido retiradas, roubadas…. Acho que não devem ter dono também… devem ter sido abandonados… caixas de inspeção largadas, coitadinhas…

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. Imagem de uma tampa de caixa de inspeção da empresa TELESP ao lado de uma floreira com borda alta na calçada. Fim da descrição.
Uma tampa de caixa de inspeção é suficiente para prejudicar a acessibilidade (Foto: Helena Degreas)

– Como assim, não tem identificação?

– Pois é profa… tem da Eletropaulo, Telesp, Net, Vivo, Claro, Sabesp. Cetesb, bombeiros, CET, DSV, águas pluviais, Congás, ANEEL, Metrô, PMSP, … toda a empresa tem várias tampas de diferentes tamanhos, subclassificações e formas! Bem legal! Dá para fazer uma composição artísticas juntando todas! Buracos surgem como pragas… uma tubulação rompida causa um buraquinho num ponto, vai ramificando e quando a gente menos espera, vira uma cratera! Já vi carro sendo engolido em asfalto…, mas a vizinha, professora? Engolida por uma calçada? Isso nunca tinha visto não…

– E ela? Como está?

– Tá bem, profa… meio arranhada… não quebrou nada…. Saiu rastejando, de quatro, até o portão da casa dela… os outros vizinhos ouviram os gritos e, de repente, a encontraram escalando as paredes do buracão. Parecia uma cobra se contorcendo… Ela não queria ajuda para sair… Eles ficaram olhando… Depois do susto, parece que ela desembestou a gritar um monte de palavras muito feias dirigidas à mãe e à família do prefeito. Prefiro não repetir aqui, profa. Foi mal. Ela disse que iria processar o governo. Um dos vizinhos que já tinha quebrado o pé por causa de outro buraco, indicou a Defensoria Pública do Estado. E não é que ela descobriu que existiam vários casos como o dela? Um monte de gente se arrebentando por aí… tem que provar que ela se machucou por causa do buraco. Mas se tiver testemunha, laudo médico, fotos… essas coisas todas, dá para processar a prefeitura e ser indenizado. Professora, a senhora sabia que tem até campanha ‘caça-buraco’? Chama-se Calçada-Cilada. Bem legal! Vale conhecer e colaborar. Aí, professora… veja o lado bom da vida… a senhora pode fazer uma corrida de obstáculos numa calçada… nem precisa de academia! Só cuidado para não cair num buracão…

 

Descrição da imagem #PraCegoVer: A imagem está no formato retangular, na vertical. Nela, está a arquiteta Helena Degreas em um retrato preto e branco. Helena tem cabelos loiros, ondulados, um pouco abaixo dos ombros. Ela está com o corpo de lado e com os braços cruzados. Helena usa uma blusa branca, com botões.Fim da descrição.
Foto: Divulgação

*Helena Degreas é arquiteta e atua como professora do Programa de Mestrado Profissional em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano do FIAM-FAAM Centro Universitário. Leciona nas áreas de Design Universal e Planejamento Urbano.

 

 

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Fonte: Portal Acesse
Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. Imagem de dois braços e mãos esticados, como numa sombra, refletida na calçada. Fim da descrição.

Por: Helena Degreas 

Acordo, abro a janela, sinto a brisa fria da manhã e vejo aquele céu azul profundo que só o outono pode nos propiciar. Coloco a coleira da Ricotinha (minha pitbull branca e rosa) e vou passear. Quero ver pessoas. Quero caminhar. Sinto falta. Depois de atravessar as inúmeras grades do prédio onde moro, alcanço enfim, a última gaiola de vidro que só abre com a autorização da criatura uniformizada em azul-marinho que aperta o botão. “Vai sair doutora?”, ele pergunta. Juro que pensei em responder com meia dúzia de desaforos, do tipo: “claro que não! Estou aqui porque sinto prazer em ver as pessoas livres lá fora”, mas, em nome da civilidade matinal, e, tentando não assustar a Ricotinha, rosnei um sim.

Soltas da gaiola de vidro, fomos explorar o mundo lá fora. Vejo o andamento das obras do metrô. Impressionante o ritmo dos negócios públicos. Minha filha estava no finalzinho do curso médio quando tudo começou. Hoje, já tem um mestrado finalizado nas costas. Lembro-me de todas as fases. A desapropriação dos imóveis. A demolição de cada uma daquelas histórias de vida encerradas em casas, lojas, prédios. O arquivamento forçado de minhas memórias. O sumiço da paisagem reconfortante.

Logo no começo, vieram os transtornos. No mais autêntico jeitinho brasileiro de construção civil e planejamento viário, ou ainda, ‘tentativa e erro’, os doutores do trânsito, dos engarrafamentos municipais e das obras eternas estaduais foram alterando o sentido das ruas autocraticamente para facilitar a vida do cidadão automóvel, é claro.

Os pedestres? Ora, os pedestres…. Os moradores? Ora, os moradores e suas necessidades…

Para quem não sabe o significado de calçadas, por favor perguntem ao São Google. Lá poderão encontrar desde ‘rua ou caminho revestido de pedras’ à ‘faixa destinada ao trânsito de pedestres e animais’. Taí. Gostei. Sou mais a última definição. Tem mais a minha cara: trânsito de pedestres (Ricotinha) e animais (eu) … E completando: automóveis (carro-cidadão contemporâneo com tratamento V.I.P) cuja locomoção livre de obstáculos por meio de pistas lisinhas e paradinhas breves em frente a obstáculos como faróis são, por princípio modernista, evitadas a qualquer custo. Conforto total para o motor cansado de tanto rodar por aí…

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. A calçada quebrada em frente à obra do metrô Oscar Freire. Fim da descrição.

Afasto meus pensamentos cinzentos e retorno ao passeio. Caminho em direção à esquina do futuro metrô. Duas faixas de carro foram eliminadas para ampliação das calçadas. Por que ampliaram as calçadas? Bom-senso dos engenheiros, arquitetos, prefeito ou governador? Doce ilusão a minha. Avançaram com os tapumes da obra sobre ela. Desvio dos blocos de concreto que foram largados sobre o meio fio e engaiolam os pedestres no passeio estreito.

Desvio do carrinho de compras. Todos desviando de mim. Por que será? Lembrei-me…. Estou com minha petbullzinha. Mesmo na coleirinha de strass, todos me olham ressabiados. Ok, penso. Se a calçada resultante das obras tivesse ao menos a largura para duas pessoas andando lado a lado, eu poderia me afastar um pouco. Calma, Helena. Você não está em Londres. Não está em Paris. Não está em Montevideo, Buenos Aires, Berlin, Madrid, Santiago e um monte de outros lugares. Você está num dos metros quadrados mais caro da cidade de São Paulo. Lembre-se, Helena: calçada é o espaço destinado a animais e pedestres…. Mentira: Ricota não consegue andar livremente. Nem eu. Sossegue seus pensamentos, Helena. Retorne ao passeio.

Vejo dois carrinhos disputando o mesmo espaço que eu: o da nova inquilina do quarto andar com seu bebê e sua babá, além do mais tradicional, sóbrio, de feira cheio de flores coloridas e pequenas junto com a Dona Veridiana que, como toda manhã ensolarada, vai ao mercadinho. Uma bicicleta e vários funcionários do metrô depois, estamos todos empilhados sobre uma esquina ridícula que, só não nos deixa numa situação mais indigna, porque tem a tal ‘rampa de acesso’. Para onde? Certamente para o próximo obstáculo: o canteiro central da Avenida Rebouças. Vamos lá, Helena. Bom humor! Logo, logo, depois de exercitar a tolerância, virtude há muito esquecida por minha humanidade, no aguardo de dois faróis, você conseguirá atravessar as seis faixas destinadas ao cidadão automóvel e, logo depois, ao seu destino final: a outra calçada. Imbuída do mais sincero sentimento de empatia pela raça humana urbana, aguardei a passagem e a travessia de todos. Foram dois faróis. Três minutos cada um. Mais a movimentação daqueles corpos se ajeitando nas calçadas. Lentos… muito lentos… e eu querendo passear. Ricotinha já estressada em busca do matinho mais próximo. Pela cara dela, qualquer um serviria. Desconhecidos humanos continuavam chegando e se empilhando na esquina. E eu, em respeito, me afastando com meu pet para deixá-los passar.

 

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na vertical. Esquina da rua Oscar Freire. Vemos a faixa de pedestres e os tapumes da obra. Fim da descrição.

Como que possuída por uma raiva, um sentimento intenso de sobrevivência, peguei Ricotinha no colo (20 kg) e decidi passar no meio daquele monte de gente, para alcançar ao menos o canteiro central. Já estava lá a uma eternidade. Como raposa, observei o farol. Saquei o celular, contei os segundos e, preparada para a maratona, esperei.

Sinal verde para o pedestre: com o cachorro no colo, corri como louca. Numa conversão proibida, fui surpreendida por um caminhão.

PLOFT!

Com o susto, caí rolando sobre a faixa de pedestres até o canteiro central. Interessante a reação das pessoas: os funcionários da CET riram de soslaio. O motorista transgressor, gritou impropérios. As pessoas que aguardavam no ponto de ônibus, incluindo o motorista, gargalhavam. Vi um jovem sacando o celular para fotografar: devo ter virado sucesso nas redes sociais. Os colaboradores do metrô: impassíveis. Meus vizinhos, nem aí. Tipo: sei lá quem é ela. Ricotinha, assustadíssima, havia se soltado da coleira para desespero dos passantes. Grudou em mim. O ônibus, apesar do farol livre, decidiu parar. Menos mal: não passou por cima de mim e nem da Ricotinha. Lembro-me do para-choque a alguns centímetros de distância do meu corpo. Arrastei-me até o canteiro central. Humilhada.

Admiro os gatos. Caem sempre de pé sobre as quatro patinhas. Não importa a situação. Eu? Me esborracho no chão nas malditas calçadas malcuidadas pela gestão do alcaide da cidade onde moro. Não é o primeiro hematoma. É uma situação eterna. Histórica.

 

Descrição da imagem #PraCegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. O gatinho Ozzy, está se espreguiçando. Ele é branco e tem detalhes rajados na cabeça. Fim da descrição.

Ozzy, o gatinho contorcionista do meu colega Cidomar Biancardi Filho responsável pela foto

Dizem que vivo no mundo da lua. Enganam-se. Vivo, por assim dizer, num mundo paralelo: espécie de realidade própria, construída em pensamentos profundos que me permitem compreender a outra realidade material, dura, intragável do nosso cotidiano como pedestres em São Paulo. Recorrer a quem? Ninguém. Nada. Vazio. Acessibilidade em ambiente urbano? Só se for em cidades fora do Brasil. Preciso viajar para caminhar. São inúmeras as autarquias, órgãos, departamentos, secretarias, empresas, concessionárias, permissionárias, leis, normas, interessados, curiosos… sei lá. Todo tipo de interferências e emaranhados administrativos e legais agindo sobre o espaço por onde caí. Preciso implorar. Gritar para ter o mesmo direito do carro. Sem saída. Desisto.

Em tempo: Ricotinha conseguiu passear. Correu como nunca no petground – novo espaço público urbano para a diversão canina. Próxima vida, pretende nascer cachorro.

Descrição da imagem #PraCegoVer: A imagem está no formato retangular, na vertical. Nela, está a arquiteta Helena Degreas em um retrato preto e branco. Helena tem cabelos loiros, ondulados, um pouco abaixo dos ombros. Ela está com o corpo de lado e com os braços cruzados. Helena usa uma blusa branca, com botões.Fim da descrição.
Foto: Divulgação

Pelos passeios de São Paulo…

Falar de calçadas é também tratar de um tema que se tornou um dos principais desafios das metrópoles contemporâneas: trata-se da mobilidade urbana.

Você sabia que em São Paulo mais de 30% da população se locomove a pé?

Traduzindo em números, cerca de 14 milhões de pessoas utilizam as calçadas de São Paulo para deslocar-se todos os dias: Os motivos são os mais variados e as distâncias também.

O fato é que a locomoção e o deslocamento acontecem sobre um tipo de espaço livre peculiar: as calçadas. Mas, o que é uma calçada? Quais são os elementos que a compõe?

O Decreto Municipal 45.904 de 2005 define os elementos que compõem uma calçada e descreve as 5 faixas que descreveremos as seguir:

– a primeira é a sarjeta, ou ainda, o local por onde escorrem as águas das chuvas, por exemplo, e que fica entre o leito carroçável e a guia. A guia é a elemento que separa a sarjeta da calçada.

sarjeta 3
Fonte

 

– em seguida, vem a faixa de serviço que é aquele espaço de no mínimo 75 cm,  destinado à instalação de equipamentos e mobiliário urbano como vegetação, tampas de inspeção, grelhas de exaustão, de drenagem, lixeiras, postes de sinalização, iluminação pública e eletricidade, floreiras, caixas de correio, telefones públicos e mais dezenas de outras interferências colocadas por permissionárias e concessionárias públicas.

– Logo depois vem a faixa livre, ou seja, aquele lugar em que o pedestre anda livremente e que possui superfície regular, firme, contínua e antiderrapante com largura de, no mínimo, 1.20 m. Trata-se de espaço suficiente para duas pessoas andarem lado a lado. Este lugar tem inclinação transversal de até 2%, ou seja, quase imperceptível para quem está andando mas, que permite, que a água de chuva escorra para a sarjeta sem empoçar no meio do caminho. Quanto à inclinação, ela tem que se igual à da rua: nada daquilo de fazer degraus, escadinhas e várias outras soluções que a gente encontra todos os dias por aí e que nada mais são do que soluções criativas para facilitar a vida particular dos donos dos imóveis ou seja, facilitar a entrada do carro na garagem, servir de apoio para mesas de bares e restaurantes por exemplo.

– Depois temos a faixa de acesso que é a área destinada à acomodação das interferências que são resultantes da implantação, do uso e da ocupação das edificações existentes na via pública. Trata-se da colocação de jardins, floreiras, lixeiras e quaisquer outras necessidades do edifício que está em frente a ela. De qualquer forma, precisa de autorização da prefeitura e só é recomendável para calçadas com mais de 2 metros de largura.

– Por fim o decreto apresenta as esquinas incluindo a intervisibilidade. A esquina constitui o trecho do passeio formado pela área de confluência de 2 (duas) vias. 

boletim lei calcadas_menor_c (1)
Fonte

No evento Calçada-Cilada realizado aqui no FIAM-FAAM Centro Universitário em 01 de abril de 2016, algumas sugestões para a melhoria da vida das pedestres foram apontadas.

O evento contou com a participação de alguns convidados que tratam do assunto. São eles o jornalista Marcos de Souza (MOBILIZE), a arquiteta Meli Malatesta (Cidade a pé e também da ANTP), Andrew Oliveira (Corrida Amiga), Luiz Eduardo Bretas (SPUrbanismo) e Ramiro Levy (Cidade Ativa).

Destaquei algumas mas, se você quiser conhecer as demais, acesse o vídeo do evento aqui:

  • Ampliação das calçadas, passeios e espaços de convivência;
  • Redução de quedas e acidentes relacionados à circulação de pedestres corrigindo e readequando calçadas existentes ou seja, projetando e implantando as cinco faixas ou quando não houver espaço, ao menos as três primeiras – guia e sarjeta, faixa de serviços e faixa livre de 1.20 para o deslocamento;
  • Por fim, a padronização e readequação dos passeios públicos em rotas com maior trânsito de pedestres;

Mas tem uma ação que considero fundamental: por meio de campanhas educativas promovidas pela prefeitura e também por meio das ações criadas pelo ativismo civil organizado, conscientizar os cidadãos da importância das calçadas como um dos elementos que compõem o espaço público das cidades lembrando sempre que a qualidade dos espaços destinados aos cidadãos caracteriza o nível de civilidade de um país. Se quiser saber mais, acesse a Agenda 2030 e Project for Public Spaces.

Texto original: Blog da Paisagem

Pedestrian Cities / Quality of Life

Prezados alunos da disciplina de urbanismo (manhã),Decidi deixar postado o artigo que li hoje à tarde pois imagino que seu conteúdos possam ser úteis ao projeto de setor urbano que estamos realizando nessas últimas semanas.Lembrem-se sempre: cidades são construídas pelos e para os seus cidadãos. passeios públicos adequadamente dimensionados, materiais e acabamentos bem utilizados, rampas acessíveis, espaços públicos generosos para com a população fgeram cidades mais gentis, acolhedoras, agradáveis e dignas.No texto, vocês poderão encontrar algumas das soluções adotadas pela cidade de Copenhagen. Próxima aula, conversaremos sobre o assunto e também sobre Jane Jacobs.

 Disponível em: http://newurbanism.org/pedestrian.html
Acesso: 04.05.2010 às 21:22:24

 
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pedestrian cities

Designing great places for the comfort and enjoyment of the pedestrian is one of the most important aspects of New Urbanism. Taken to the highest level of urbanism, the finest places in the world are cities with entire networks of car-free streets, known as pedestrian cities.   

 

Pedestrian cities are growing in popularity in many top regions around the world. The incredible beauty, enjoyment, and convenience a network of connected pedestrian streets and squares provides to the residents on a daily basis is unsurpassed. Being able to walk to a mix of shops, restaurants, newsstands, coffeehouses and open-air markets within car-free neighborhoods and work centers delivers the highest quality of life, and adds great variety and vitality to an area. Jane Jacobs calls this “an intricate and close-grained diversity of uses that give each other constant mutual support, both economically and socially.” There is a growing demand for entire city districts to be made pedestrian, and directly connected to a train line.

Venice

Venice, Italy is considered the greatest pedestrian city in the world because it contains the largest pedestrian street network completely free of cars. The entire city has no cars operating on its streets. The city is quite dense, yet the most relaxing and pleasant city in the world.

Copenhagen is another of the world’s great pedestrian cities. A recent issue of ‘Metropolis’ magazine talks about Copenhagen and its growing pedestrian street network. Although it’s blessed with certain inherited characteristics – such as a narrow medieval street grid – the city has worked steadily to improve the quality of its street life. In the 40 years since Copenhagen’s main street was turned into a pedestrian thoroughfare, city planners have taken numerous small steps to transform the city from a car-oriented place to a people-friendly one. “In Copenhagen, we have pioneered a method of systematically studying and recording people in the city,” says Jan Gehl, a Danish architect and co-author of ‘Public Spaces-Public Life’, a study on what makes the city’s urban spaces work. “After twenty years of research, we’ve been able to prove that these steps have created four times more public life.” Here is Copenhagen’s program for a more pedestrian-friendly city:

 
COPENHAGEN’S 10-STEP PROGRAM
1. CONVERT STREETS INTO PEDESTRIAN THOROUGHFARESThe city turned its traditional main street, Stroget, into a pedestrian thoroughfare in 1962. In succeeding decades they gradually added more pedestrian-only streets, linking them to pedestrian-priority streets, where walkers and cyclists have right-of-way but cars are allowed at low speeds.2. REDUCE TRAFFIC AND PARKING GRADUALLYTo keep traffic volume stable, the city reduced the number of cars in the city center by eliminating parking spaces at a rate of 2-3 percent per year. Between 1986 and 1996 the city eliminated about 600 spaces.

3. TURN PARKING LOTS INTO PUBLIC SQUARES

The act of creating pedestrian streets freed up parking lots, enabling the city to transform them into public squares.

4. KEEP SCALE DENSE AND LOW

Low-rise, densely spaced buildings allow breezes to pass over them, making the city center milder and less windy than the rest of Copenhagen.

5. HONOR THE HUMAN SCALE

The city’s modest scale and street grid make walking a pleasant experience; its historic buildings, with their stoops, awnings, and doorways, provide people with impromptu places to stand and sit.

6. POPULATE THE CORE

More than 6,800 residents now live in the city center. They’ve eliminated their dependence on cars, and at night their lighted windows give visiting pedestrians a feeling of safety.

7. ENCOURAGE STUDENT LIVING

Students who commute to school on bicycles don’t add to traffic congestion; on the contrary, their active presence, day and night, animates the city.

8. ADAPT THE CITYSCAPE TO CHANGING SEASONS

Outdoor cafes, public squares, and street performers attract thousands in the summer; skating rinks, heated benches, and gaslit heaters on street corners make winters in the city center enjoyable.

9. PROMOTE CYCLING AS A MAJOR MODE OF TRANSPORTATION

The city established new bike lanes and extended existing ones. They placed bike crossings – using space freed up by the elimination of parking – near intersections. Currently 34 percent of Copenhageners who work in the city bicycle to their jobs.

10. MAKE BICYCLES AVAILABLE

The city introduced the City Bike system in 1995, which allows anyone to borrow a bike from stands around the city for a small coin deposit. When finished, they simply leave them at any one of the 110 bike stands located around the city center and their money is refunded.

For more information, check out  New City Spaces  by Jan Gehl

Pelos Passeios de São Paulo

Pelos passeios de São Paulo: iniciação científica FIAMFAAM
Pelos passeios de São Paulo: região da Luz, São Paulo, capital

 Estação da Luz: acessibilidade das calçadas

Achei oportuno publicar o trabalho de iniciação científica das alunas Jakeline Silva e Roseli Castro do Centro Universitário FIAMFAAM.
Pelos passeios de São Paulo (título bastante sugestivo) descreve a realidade de milhões de pessoas que precisam andar pelos logradouros públicos das cidades brasileiras, avaliando as condições de mobilidade e acesso de um dos principais pólos culturais de São Paulo: a região da Luz. Localizada em área central, o local vem passando por processo de revitalização com o intuito de acolher uma população interessada em contemplar pontos de interesse arquitetônico, histórico e cultural da cidade. O trabalho conclui que a simples identificação de situações que inviabilizam ou dificultam a circulação de pessoas com necessidades especiais (barreiras arquitetônicas) não é suficiente para viabilizar um passeio agradável pelo local com propósito cultural. Daí surgiu a idéias de se avaliar não apenas as condições de acessibilidade, como também a viabilidade de se realizar um “Roteiro Cultural” de um dia nas mesmas condições, tempo e qualidade de circulação dos demais cidadãos.
Os resultados do trabalho foram positivos e esclarecedores, pois avançam na questão da inclusão: a lei já impõe normas que viabilizam a acessibilidade. Está na hora de discutirmos a qualidade dos espaços criados.
Parabéns meninas! Foi bom orientá-las!