Descubra como a inteligência artificial já impacta o futuro das nossas cidades

Londres, Copenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real e otimizar o transporte público; em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes

FreepikCidade à noite com arquitetura e luzes vibrantesIA está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas

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Descubra como a inteligência artificial já impacta o futuro das nossas cidades

Londres, Copenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real e otimizar o transporte público; em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes

  • Por Helena Degreas para a Jovem Pan News
  • 31/07/2024 11h37 – Atualizado em 31/07/2024 11h38

FreepikCidade à noite com arquitetura e luzes vibrantes

IA está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas

inteligência artificial (IA) já não é mais coisa de outro mundo ou de ficção científica. Se você observar, ela está presente em nossos smartphonescarros e até mesmo em nossos eletrodomésticos. Mas você sabia que a IA também está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas? Imagine cidades onde semáforos inteligentes ajustam o tempo de acordo com o fluxo de tráfego de pessoas e automóveis, reduzindo congestionamentos, facilitando a travessia de pedestres e melhorando a qualidade do ar em ruas e bairros onde os indicadores apontam para a necessidade de restrição da circulação de veículos. Ou prédios que otimizam o uso de energia, diminuindo o impacto ambiental e os custos para os moradores. Essa é a realidade que a IA está construindo em cidades que se destacam pelo relatório IESE Cities in Motion Index (CIMI) como inteligentes e encontram-se ranqueadas.

Recentemente, li uma coluna na newsletter Bloomberg intitulada “OpenAI Scale Ranks Progress Toward ‘Human-Level’ Problem Solving” (em tradução livre, “A Escala da OpenAI Avalia o Progresso em Direção à Solução de Problemas em Nível Humano”, que abordou o conceito de Inteligência Artificial Geral (AGI). A AGI refere-se a sistemas inteligentes com capacidade cognitiva equivalente ou superior à humana em diversas tarefas. Diferentemente da IA especializada, projetada para tarefas específicas, a AGI pode compreender, aprender e aplicar conhecimento de forma abrangente, adaptando-se a novos desafios e contextos sem necessidade de reprogramação. Imagine o impacto que a substituição de decisões humanas, muitas vezes baseadas em suposições ou dados incompletos, pode ter na qualidade de vida dos cidadãos.Playvolume

A AGI tem o potencial de transformar radicalmente o planejamento urbano e a gestão pública. Com sua capacidade de análise abrangente e em tempo real de dados complexos, a AGI pode melhorar significativamente a eficiência e eficácia das políticas públicas. Ela pode otimizar o tráfego, gerenciar a distribuição de recursos, prever e mitigar desastres naturais e aprimorar a prestação de serviços públicos. Além disso, a AGI pode analisar feedbacks da população para criar soluções mais inclusivas e democráticas, levando a cidades mais inteligentes, sustentáveis e equitativas.

Esses exemplos mostram como a inteligência pode transformar a gestão urbana a partir de cinco níveis de desenvolvimento previstos pela OpenAI. No nível básico, a automação simples realiza tarefas repetitivas, como a coleta de lixo ou o controle de tráfego. Assistentes virtuais podem ser utilizados em centros de atendimento ao cidadão, fornecendo informações e serviços de forma rápida e eficiente. Análises preditivas permitem aos gestores urbanos prever e mitigar problemas antes que eles ocorram, como congestionamentos ou falhas em infraestruturas. A autonomia parcial da IA pode ser utilizada para gerenciar sistemas complexos, como redes de transporte ou distribuição de energia, ajustando-se dinamicamente às mudanças nas condições. No nível mais avançado, sua autonomia completa pode permitir a operação de veículos autônomos e a gestão integrada de todas as infraestruturas urbanas, otimizando o uso de recursos e melhorando a qualidade de vida dos cidadãos.

A gestão municipal hoje é baseada em dados. Esses dados são capazes de gerar um volume imenso de informações úteis, medidas em yottabytes, com o objetivo de levar conhecimento da realidade em todas as áreas relacionadas à prestação de serviços públicos. O relatório do IESE (CIMI) utiliza nove dimensões para avaliar o nível de inteligência de uma cidade e dados de mais de 100 indicadores para compor o ranking. A AGI tem o potencial de transformar radicalmente o planejamento urbano e a gestão pública. Com sua capacidade de análise abrangente e em tempo real de dados complexos, ela pode melhorar a eficiência e eficácia das políticas públicas, otimizando a resolução de problemas não previstos por agentes públicos.

Essas questões estão relacionadas a áreas como Capital Humano, Coesão Social, Economia, Governança, Meio Ambiente, Mobilidade e Transporte, Planejamento Urbano, Projeção Internacional e Tecnologia. Para quem se interessar pelo tema, o artigo “Artificial General Intelligence is Already Here”, de Aguera y Arcas e Norvig, publicado na Noema em outubro de 2023, oferece uma análise mais detalhada sobre o tema. Para implementar essas tecnologias, os gestores públicos precisam preparar e investir na infraestrutura urbana. Isso inclui a instalação de sensores e dispositivos de IoT (Internet das Coisas) para coletar dados em tempo real, além de garantir conectividade de alta velocidade e baixa latência, como redes 5G. É necessário também investir em servidores de alto desempenho e infraestrutura de nuvem para processar grandes volumes de dados. A segurança cibernética é outro aspecto a ser considerado, com a implementação de protocolos robustos para proteger os dados e sistemas contra ataques. Políticas públicas devem ser geradas com menos ideologia e mais precisão.

O IESE Cities in Motion Index (CIMI) destaca como cidades como LondresCopenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real, otimizar rotas de transporte público e planejar de forma mais eficiente. Em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes e na otimização do uso de energia em edifícios, criando um ambiente urbano mais sustentável e agradável. Em Oslo, sensores inteligentes monitoram a qualidade do ar e da água, permitindo ações rápidas em caso de problemas ambientais. Em cidades como Estocolmo e Barcelona, a IA está sendo utilizada para facilitar a participação cidadã, onde plataformas digitais permitem que os moradores se envolvam ativamente no processo de tomada de decisão, contribuindo com ideias e feedbacks para o desenvolvimento urbano.

Ainda na mesma coluna, Elon Musk sugere que a IA poderia superar a inteligência dos seres humanos mais inteligentes até 2025 ou 2026, mencionando que a quantidade total de “computação senciente” superaria a de todos os humanos em cinco anos. Musk enfatizou a importância de desenvolvimento responsável de tecnologias artificiais que garantam que seu impacto seja benéfico para a sociedade como um todo. A computação senciente, ou a criação de sistemas capazes de percepção consciente (capacidade de perceber e responder ao ambiente), autoconsciência (reconhecer-se como uma entidade distinta de outras), sentimentos e emoções (reagir com profundidade emocional para além da programação) e tomada de decisões independentes (baseadas em um entendimento consciente das situações), ainda é uma perspectiva teórica, mas pode ter impactos profundos no planejamento urbano, pois poderia tomar decisões considerando não apenas dados objetivos, mas também o bem-estar emocional e social dos cidadãos. Isso poderia levar a um planejamento urbano mais justo e equitativo, onde as necessidades de todos os grupos sociais são atendidas de forma equilibrada.

Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas o planejamento das ações que visam rever rotinas e processos da gestão pública para a melhoria da qualidade das decisões de prefeitos, secretários, vereadores e demais agentes públicos depende do plano de gestão urbana. Cabe a nós, cidadãos, cobrar dos candidatos um planejamento eficaz voltado à melhoria da qualidade de vida de todos. O futuro se constrói agora.

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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Duas cidades, dois caminhos, um único planeta em jogo: qual futuro escolheremos?

Inspirados em romance de Charles Dickens, textos ‘Bleak House’ e ‘Great Expectations’ apresentam duas visões sobre o futuro a partir de escolhas pautadas na inclusão (ou não) do conceito de descarbonização

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, nada no rio Sena para demonstrar que o rio está limpo o suficiente para sediar eventos dos Jogos Olímpicos. Fonte: JOEL SAGET/EFE/EPA/POOL MAXPPP OUT

Ao ler os jornais da semana, deparo-me com a imagem da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, nadando no rio Sena e cumprindo sua promessa de despoluir as águas do rio antes dos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Confesso que senti uma ponta de inveja da população francesa, que poderá desfrutar de suas margens e águas sem o odor pútrido que, aqui onde moro, é comum nos rios que atravessam não apenas a cidade, mas também o Estado de São Paulo. Gostaria de saber se o atual prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas teriam coragem de mergulhar nas águas dos Rios Tietê e Pinheiros, mostrando à população seus esforços para melhorar a qualidade de suas águas. Os esforços para despoluir o rio Sena começaram na década de 1990, com o “Plano Azul” de 1995 como marco importante, a partir da implementação de estações de tratamento de esgoto e regulamentações ambientais, melhorando significativamente a qualidade da água e permitindo, de certa forma, o cumprimento da promessa. Ações proativas vindas de governos são sempre bem-vindas. A existência de planos, por si só, é incapaz de garantir que os objetivos sejam alcançados sem a execução eficaz e o compromisso contínuo com a sustentabilidade. É a ação concreta e a monitorização constante que transformam as promessas em realidades tangíveis, como a melhoria visível do Sena e a possibilidade de eventos simbólicos como a natação da prefeita de Paris. A coluna de hoje apresenta dois contos que mostram como o futuro das cidades depende da qualidade das decisões governamentais a curto, longo e médio prazos.

Inspirados no romance “Um Conto de Duas Cidades” (1859), de Charles Dickens, os textos “Bleak House” e “Great Expectations“, extraídos da publicação “Cities, Towns & Renewable Energy: Yes In my front Yard” (2009), da Agência Internacional de Energia/Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (IEA/OECD), estabelecem uma analogia com a obra citada para evidenciar duas visões contrastantes sobre o futuro das cidades a partir de escolhas pautadas na inclusão (ou não) do conceito de descarbonização no processo de gestão urbana a longo prazo. Ao divergir sobre as políticas públicas adotadas por governos acerca da gestão da matriz energética vigente e seus impactos ambientais e econômicos sobre a vida do cidadão, os contos apontam cenários ficcionais sobre a importância das decisões políticas e tecnológicas na definição do futuro que se pretende alcançar. A escolha entre continuar com práticas de “business-as-usual” (mantem-se as rotinas) ou adotar uma abordagem inovadora e sustentável determinará a qualidade de vida, a prosperidade econômica e a resiliência das cidades nas próximas décadas.

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Os contos, adaptados para essa coluna, apresentam um breve resumo de cada cenário. Mobilidade sustentável, economia circular, infraestrutura verde, equidade espacial, resiliência e segurança, valorização das comunidades e grupos sociais, transparência em todos os setores da governança pública, acessibilidade universal são alguns dos temas centrais que definem as visões contrastantes apresentadas. Em “Bleak House,” o cenário é sombrio, refletindo uma realidade onde as cidades falham em adotar políticas inovadoras, resultando em ambientes degradados, desigualdade exacerbada e colapso econômico. Já em “Great Expectations,” a narrativa nos transporta para um futuro otimista, onde as cidades prosperam graças à implementação de tecnologias limpas, práticas de sustentabilidade e um forte compromisso com a justiça social.

Esses contos funcionam como um alerta e uma inspiração, destacando que o caminho que escolhermos hoje moldará profundamente as cidades de amanhã. Através de suas narrativas, eles nos convidam a refletir sobre a responsabilidade coletiva e a importância de decisões políticas e tecnológicas corajosas e bem informadas para construir um futuro urbano resiliente, justo e sustentável. O spoiler, desculpem leitores, pode ter antecipado parcialmente as narrativas. Tanto o documento técnico de 2009 quanto o romance valem a leitura.

Um conto de duas cidades

Em um futuro não tão distante, duas cidades se erguem como símbolos de destinos opostos. A primeira, Bleak House (Casa Sombria, ou talvez, numa tradução ‘ainda mais livre’, Cidade Desolada), sufocada pela fumaça dos combustíveis fósseis, agoniza sob um céu escurecido pela negligência climática. Seus habitantes, reféns de um passado que se recusa a morrer, enfrentam um futuro incerto e sombrio. Mas em outro canto do mundo, uma cidade radiante se destaca: Great Expectations (Grandes Esperanças, numa tradução livre), um farol de esperança alimentado por tecnologias limpas e mentes visionárias. Lá, o ar é puro, a energia abundante e o futuro, promissor. 

Cenário: Bleak House

No primeiro conto, a cidade de Bleak House é apresentada em diferentes épocas, destacando as implicações na qualidade de vida da população decorrentes das decisões políticas ao longo do tempo. Em 2012, decisões reacionárias às pesquisas sobre os impactos econômicos e climáticos futuros levaram à manutenção dos investimentos em fontes não renováveis como carvão, gás e petróleo. A visão imediatista proveniente de políticos eleitos pela população, associada à ganância de setores econômicos e empresariais, sobrepôs-se às questões ambientais e sociais de longo prazo.

Os impactos previstos pela ciência na década anterior, aconteceu. Em 2030, a cidade sofre sob um calor implacável. Jay, um engenheiro experiente, acostumou-se aos cortes de energia e ao calor sufocante em seu escritório. A energia insuficiente obriga a concessionária a desligar aparelhos periodicamente. O prédio moderno, outrora símbolo de progresso, tornou-se um forno no verão e um refrigerador no inverno, devido à falta de investimentos em eficiência energética. O trânsito caótico, agravado pela frota de carros movidos a combustíveis fósseis, dificulta a vida de todos. Enquanto isso, o governo mantém a política de “business as usual”, ignorando os alertas sobre mudanças climáticas e a necessidade de diversificar a matriz energética.

As consequências dessa inércia eram visíveis por toda parte. Temperaturas extremas e inundações frequentes forçavam a população a se adaptar. Impostos extras financiavam obras de contenção, enquanto áreas verdes desapareciam para dar lugar a diques e barreiras. As usinas termelétricas, principal fonte de energia da cidade, sofriam com a falta de água para resfriamento, agravando a crise energética. Em 2050, a cidade ainda carregava as marcas da negligência do passado. Edifícios antigos, como o de Jay, recebiam melhorias, como painéis solares, mas a um custo alto. As novas gerações, representadas pelos netos de Jay, cresciam em um ambiente marcado pela escassez e incerteza, mas também pela esperança de um futuro mais sustentável. A cidade lutava para se adaptar a um clima hostil e a um futuro incerto, resultado de décadas de decisões políticas equivocadas relacionadas à energia não renovável.

Cenário: Great Expectations

No segundo conto, a aprovação pelo Conselho Municipal do Plano Distrital em 2012 garantiu a transição energética futura. Todos os novos edifícios comerciais passaram a ser equipados com aquecedores solares de água, salvo exceções justificadas. Arquitetos integraram painéis solares nos telhados, seguindo diretrizes rigorosas para captar calor solar no inverno, proporcionar sombra no verão e beneficiar-se de ventilação e luz natural. Isso aumentou o custo inicial em cerca de 7%, mas os crescentes preços da energia rapidamente compensaram o investimento. Joy, recém-formada em energia sustentável e design de edifícios, explicava a outros proprietários os benefícios da eficiência energética, auditava edifícios para identificar economias potenciais e desenvolvia planos estratégicos. Os cidadãos utilizavam dispositivos que informavam os assentos disponíveis no próximo ônibus. Ao sair do trabalho, Joy acionava um botão de “dormir”, desligando todos os aparelhos do escritório, e observava as turbinas eólicas nas colinas a caminho de casa.

Em 2030, as ações que Joy possuía nas cooperativas eólicas locais pagavam dividendos suficientes para ela viajar ao exterior. Passagens aéreas haviam aumentado devido ao imposto internacional de carbono, mas eram parcialmente compensadas por biocombustíveis de segunda geração. Em 2050, sua sobrinha chegou dirigindo um carro elétrico com revestimento de coletores solares orgânicos, conectando-o ao sistema de energia da residência para uma recarga rápida. Joy sabia que o futuro da energia sustentável dependia de tecnologias avançadas e colaboração entre cidadãos e governos. Ela se orgulhava de fazer parte dessa transformação e estava otimista quanto ao futuro de sua família em um mundo mais limpo e eficiente.

Escolhendo entre dois futuros

Ao comparar os cenários Bleak House e Great Expectations, fica claro que as escolhas políticas que fazemos hoje, em especial no período de eleições, determinarão não apenas o futuro de nossas cidades e de nosso planeta, mas também nossas vidas em alguns anos. Os contos ressaltam a importância de decisões políticas e tecnológicas conscientes e inovadoras, destacando que um futuro sustentável e próspero é possível, mas exige ação imediata e colaboração entre todos os setores da sociedade. O documento técnico de 2009 é uma leitura valiosa que nos inspira a refletir e agir em prol do nosso futuro e de todos aqueles que virão depois de nos.

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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Nem toda cidade é um cartão postal

Se tem algo que me tira do sério são as imagens minuciosamente escolhidas por peças publicitárias para apresentar as maravilhas que as cidades brasileiras têm a oferecer aos turistas nas férias escolares

Por Helena Degreas
 09/07/2024 13h32 – Atualizado em 09/07/2024 13h35

Reproduçao Youtube @Visit OSLO

De forma irônica e de humor levemente ácido, a campanha parece questionar a relevância, a importância ou o potencial do local para agradar ao público

Se tem algo que me tira do sério são as imagens minuciosamente escolhidas por peças publicitárias para apresentar as maravilhas que as cidades brasileiras têm a oferecer aos turistas durante o período de férias escolares. Elas prometem a experiência da felicidade, do bem-estar e da aventura por meio de paisagens deslumbrantes com pessoas sorrindo de forma exagerada, quase falsa. Como uma marca registrada, as imagens são projetadas para lembrar emoções positivas e criar uma associação direta entre o destino e momentos felizes. Mas será que esse clichê ainda funciona? Todos nós já vimos esses anúncios. Tenho a impressão de que os criadores destes anúncios desistiram, há muito, de criar. Recentemente, assisti a uma anúncio de Visit Oslo, (NewsLab) destinado a alavancar a visitação de turistas para a cidade de Oslo, capital da Noruega, por meio de uma abordagem, no mínimo, peculiar. Atormentado pelo tédio, um morador apresenta a cidade a partir do seu olhar desanimado com as situações cotidianas que vivencia dia após dia. A certa altura, sentindo um pouco de nojo, observa pessoas animadas saltando nas águas do rio que atravessa a cidade e, pergunta-se algo como “Isso é mesmo uma cidade?” ou ainda, “não tem nada exclusivo, é tudo tão disponível…”. De forma irônica e de humor levemente ácido, a campanha parece questionar a relevância, a importância ou o potencial do local para agradar ao público.

É como se, nas palavras dos criadores da peça “anti-publicitária”, um guia turístico que, em vez de deslumbrado, mostra-se levemente entediado mostra os pontos turísticos com um suspiro, mencionando vez e outra, algumas frases como “essa é mais uma das famosas estátuas de Gustav Vigeland… se é que você se importa.” É uma abordagem que parece dizer: “Olha, sabemos que já viu milhares de fotos de lugares perfeitos. Venha ver algo real.” É uma estratégia que, “ao desafiar as expectativas, cria um contraste intrigante com as campanhas tradicionais, gerando curiosidade e interesse.” A cidade de Oslo decidiu que não queria mais esse tipo de associação para trazer turistas. Cansada de se perder na homogeneidade das campanhas tradicionais e, com uma pitada de humor, a resolveu inovar.

Fonte: newslab.no

Cidades são feitas pelas pessoas e para as pessoas ou, ainda, deveriam ser. As campanhas tradicionais tendem a ignorar a complexidade e a fragmentação das cidades, apresentando uma imagem idealizada, homogênea, parcial e, em alguns casos, chegam a vender estereótipos. Narrativas idealizadas, não necessariamente, cidades.
Campanhas turísticas tradicionais, como as do Rio de Janeiro e São Paulo, costumam destacar apenas os pontos turísticos mais conhecidos e glamourosos, como as praias cariocas, o Cristo Redentor, o Carnaval e a Avenida Paulista. Essa abordagem, embora eficaz para atrair turistas, cria uma imagem superficial e irrealista, ignorando a diversidade, as contradições e os desafios socioeconômicos presentes nessas cidades. No sentido contrário àsrepresentações idealizadas, abordagens mais autênticas, como a da campanha de Visit Oslo, buscam mostrar um retrato mais fiel e crítico da realidade urbana. Reconhecer as nuances e complexidades de uma cidade, incluindo seus problemas e desigualdades, pode gerar uma conexão mais profunda com o público e atrair visitantes que buscam experiências mais genuínas e significativas.


Afinal, as cidades são muito mais do que cartões postais e atrações turísticas. São espaços vivos e dinâmicos, marcados por contrastes e contradições. Ao abraçar essa complexidade, as campanhas turísticas podem oferecer uma visão mais completa e honesta, convidando os visitantes a explorar não apenas a beleza, mas também a alma e a identidade de cada lugar. Contar histórias envolventes que capturam a essência de um lugar e sua cultura pode ajudar a criar uma conexão emocional com os potenciais turistas. Narrativas complexas e personagens locais podem proporcionar uma visão mais profunda e interessante do destino. Apresentar um contraste entre o que é geralmente conhecido e o que é surpreendente ou desconhecido sobre um destino pode captar a atenção e desafiar preconceitos. Isso pode incluir revelar segredos locais, atrações menos conhecidas ou aspectos culturais únicos. Viajar é muito mais do que tirar fotos instagramáveis em pontos turísticos. É sobre vivenciar experiências únicas, conhecer novas culturas e se conectar com as pessoas e os lugares que visitamos. Isto é uma cidade. A imperfeição, o diferente, o inusitado não são apenas aceita e toda a experiência vivenciada, é celebrada.

Cada cidade, cada lugar tem uma história única para contar.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Passou da hora de os governos se anteciparem a calamidades e garantirem a segurança nas cidades e áreas rurais

Eventos afetam diretamente a vida da população, impactando a agricultura com secas e inundações, prejudicando safras, danificando plantações e ameaçando a segurança alimentar

Por Helena Degreas 22/06/2024 07h00 para a Jovem Pan News

Nas áreas urbanas, chuvas intensas podem causar inundações, deslizamentos de terra e danos à infraestrutura

A cada ano, os fenômenos El Niño e La Niña nos convidam para um baile de proporções globais, onde a natureza, sufocada pelo peso das emissões de gases de efeito estufa geradas pela matriz energética vigente, se apresenta como uma anfitriã implacável. Assim como numa dança, ciclos naturais antes ritmados, fluidos e harmoniosos agora exibem uma coreografia cruel, desequilibrando os padrões climáticos sobre a América do Sul e prometendo ora tempestades, ora secas mais prolongadas. As mudanças climáticas por nós provocadas exacerbaram esses fenômenos, transformando eventos periódicos em crises contínuas que afetam milhões de vidas, desafiam sistemas agrícolas e testam a resiliência de comunidades urbanas em todo o mundo. A situação tornou-se uma questão de segurança pública que exige planejamento antecipado e ações coordenadas entre governos para mitigar seus impactos devastadores à vida.

O Oceano Pacífico guarda segredos que impactam o clima do planeta. El Niño e La Niña, as duas fases do ciclo climático ENSO (Oscilação Sul Equatorial), alteram a temperatura das águas superficiais dos oceanos e influenciam padrões climáticos em diversas regiões, incluindo o Brasil. El Niño, com seu aquecimento das águas do Pacífico, gera secas em algumas áreas e chuvas torrenciais em outras, enquanto La Niña provoca o resfriamento das águas do Pacífico, trazendo efeitos opostos. Esses eventos afetam diretamente a vida da população, impactando a agricultura com secas e inundações, prejudicando safras, danificando plantações e ameaçando a segurança alimentar, potencialmente levando à fome em regiões vulneráveis. Entre os efeitos está a migração forçada de pessoas que, deixando suas casas, transformam-se em refugiados climáticos, aumentando a pressão sobre áreas urbanas e os sistemas de assistência social.

Nas áreas urbanas, chuvas intensas podem causar inundações, deslizamentos de terra e danos à infraestrutura, afetando transporte, energia e habitação. Além disso, El Niño e La Niña agravam problemas de saúde, como doenças transmitidas por vetores, aumentam os casos de problemas respiratórios e comprometem o acesso à água potável. As perdas econômicas são significativas, afetando diversos setores e exigindo uma resposta coordenada para mitigar seus impactos. Atualmente, o fenômeno El Niño chegou ao fim e foi substituído por La Niña, que envolve o resfriamento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical, especialmente na região central e centro-leste, incluindo as costas do Equador e do Peru, e que pode durar meses ou anos, afetando significativamente o clima global, incluindo o Brasil. Em nota técnica, estudos apontam que, na porção leste de São Paulo e litoral sul do Rio de Janeiro, especialmente nas áreas costeiras, são esperados entre cinco e oito eventos de chuva acima de 50 mm em 24 horas entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025. As chuvas serão mais intensas no litoral sul de São Paulo, Baixada Santista e Costa Verde no Rio de Janeiro. Esses locais, incluindo Angra dos Reis, são extremamente vulneráveis a deslizamentos de terra e outros desastres geo-hidrológicos, exigindo atenção especial devido ao aumento da frequência de chuvas intensas e os consequentes riscos para a população. Em suma, eventuais calamidades provocadas por chuvas acima da média estão previstas.

O conceito de segurança da população adotado por governos e organismos internacionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas), vai muito além da ausência de conflitos e violência contra o cidadão, abrangendo a proteção contra uma ampla gama de riscos e ameaças. Isso inclui mudanças climáticas, desastres naturais e tecnológicos, doenças e pobreza. Recentemente, inundações no Rio Grande do Sul têm devastado propriedades e deixado muitos desabrigados, enquanto estiagens severas em outros Estados brasileiros resultam em perdas agrícolas significativas. No Pantanal, incêndios destroem vastas áreas de biodiversidade, ameaçando a fauna e destruindo não apenas os meios de subsistência das comunidades locais, mas também a economia. Por sua magnitude de destruição social, econômica e ambiental, esses eventos exigem ações urgentes para a preparação e resposta a emergências, além de apoio à recuperação pós-desastre.

Ainda de acordo com o conceito de segurança da população, as mudanças climáticas manifestam-se visivelmente através de secas prolongadas que devastam colheitas, resultando em insegurança alimentar e perda de meios de subsistência para agricultores. Inundações frequentes causam destruição de infraestrutura, como estradas e pontes, e danificam habitações, levando ao deslocamento de comunidades inteiras. Essas condições extremas aumentam a incidência de doenças transmitidas pela água e comprometem o acesso à água potável. A perda de vidas em desastres naturais sublinha a urgência de ações governamentais para promover resiliência e adaptação, como a construção de infraestruturas mais robustas, sistemas de alerta precoce e práticas agrícolas sustentáveis. A pobreza e a desigualdade social, tão presentes no cotidiano de nossas cidades e áreas rurais, são grandes fatores de insegurança. A busca pela erradicação da pobreza por meio do acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e a promoção do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos é fundamental para garantir a segurança das pessoas. Nas cidades, a pobreza se manifesta visivelmente nas favelas e em bairros autoproduzidos, onde a falta de saneamento, educação e saúde resulta em moradias inadequadas, sujeitas a riscos diversos e vulnerabilidade a condições climáticas extremas. No campo, as desigualdades se refletem em pequenas propriedades rurais sem acesso a tecnologias agrícolas modernas, mercados e recursos financeiros, limitando a produção e perpetuando a insegurança alimentar, ou ainda, a fome. A falta de serviços básicos, como água potável e atendimento médico, acentua essas dificuldades, aumentando a migração para áreas urbanas em busca de melhores oportunidades.

A magnitude devastadora dos eventos climáticos extremos em várias áreas de nossas vidas exige uma resposta imediata e abrangente dos governos para garantir a segurança da população nas cidades e áreas rurais. Eventos como secas prolongadas, inundações frequentes e desastres naturais impactam significativamente a vida das pessoas, causando perdas econômicas, destruição de infraestrutura e deslocamentos populacionais. Para minimizar os danos e salvar vidas, é essencial que os governos implementem ações urgentes de preparação e resposta a emergências, desenvolvendo sistemas de alerta precoce, infraestrutura resiliente e práticas agrícolas sustentáveis. A busca pela erradicação da pobreza, através do acesso a serviços básicos como educação e saúde, e a promoção do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos são fundamentais para garantir a segurança das pessoas. Além disso, a resposta eficaz às calamidades inclui apoio à recuperação pós-desastre para reconstruir comunidades e restaurar meios de subsistência. 

A pergunta que se impõe é: como os governos estão se preparando para garantir a segurança da população e evitar mortes previsíveis e perdas materiais? Futuros desastres provocados por extremos climáticos são previsíveis, e dados científicos, apesar da constante falta de verbas destinadas à pesquisa, não faltam, incluindo agências públicas brasileiras que se dedicam à pesquisa do tema. Quando governos procrastinam ou abandonam a população à própria sorte, esperando que o acaso resolva eventuais problemas ou delegando a “aquietação” do futuro climático à providência divina, perdem a oportunidade de agir de forma proativa e são, sim, responsáveis por danos e mortes anteriormente “anunciados”, por assim dizer. Passou da hora de governos anteciparem as futuras calamidades e planejarem a segurança da população de maneira eficaz e integrada.

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O que fazer com resíduos e sucatas gerados em um desastre como o do Rio Grande do Sul

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

O que fazer com resíduos e sucatas gerados em um desastre como o do Rio Grande do Sul

Planejamento da gestão de materiais contribui para a descarbonização urbana, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa, além de promover a economia criativa

Porto Alegre e outras tantas cidades que sofrem com alagamentos frequentes terão que definir políticas de gestão dos mais diversos tipos de resíduos

Enquanto escrevo a coluna desta semana, fico sabendo que o governo chileno acaba de decretar “Zona de Catástrofe” nas regiões de Coquimbo a Ñuble, devido às intensas chuvas dos últimos dias. As imagens mostram a dimensão dos danos causados pelas enchentes e tempestades à infraestrutura urbana e os impactos devastadores na vida da população local. Em toda a cidade, resíduos e sucatas estão espalhados, destacando a gravidade da situação, que também se repete em países como Quênia, Indonésia, Somália, Afeganistão, Itália e Brasil. Além das perdas materiais, lamento profundamente as vidas de pessoas queridas que se perderam. Se houvesse uma ação efetiva na implementação de políticas públicas de planejamento e gestão ambiental, há décadas focadas na descarbonização do planeta, muitas dessas tragédias poderiam ter sido evitadas, e seus impactos, minimizados.

O “novo normal”, expressão usada nas redes sociais para descrever eventos climáticos raros e excepcionais e que se tornaram mais frequentes e intensos, deixou de ser “novo” e passou a ser simplesmente “normal” devido à sua previsibilidade. A coleta sistemática de dados (Big Data) sobre questões climáticas e seus impactos nas estruturas urbanas e na população já é uma realidade em países cujos governos adotaram a agenda ambiental como parte da cultura política. Levando o planejamento ambiental a sério, esses governos atuam proativamente, antecipando-se à destruição, aos impactos negativos, às perdas materiais e aos riscos à vida da população. A preparação adequada voltada às questões emergenciais demanda, também, o planejamento e implementação de práticas sustentáveis de gerenciamento de resíduos para minimizar os impactos negativos e promover a resiliência das comunidades urbanas. Embora o tema ainda não tenha sido adequadamente explorado pelos meios de comunicação, cabe esclarecer que o termo “lixo” pode e deve ser substituído por “resíduos” pós-desastres climáticos.

Desastres climáticos são definidos como eventos não rotineiros que excedem a capacidade da área afetada de responder de forma a salvar vidas, preservar propriedades e manter a estabilidade social, ecológica, econômica e política da região atingida (Federal and Emergency Management Agency of USA-FEMA). Esses eventos geram uma variedade de resíduos nas cidades, incluindo metais, plásticos, vidros e outros materiais que podem e devem ser reciclados. O planejamento da gestão de resíduos e sucatas pós-desastre contribui para a descarbonização urbana, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa. Além disso, promove a economia criativa ao incentivar a inovação no reuso de materiais, gerando novos produtos e oportunidades de negócios sustentáveis. A importância da descarbonização do planeta e da ativação de novos negócios é tão grande que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicou, em 2013, o documento “Disaster Waste Management Guidelines” (Diretrizes de Gestão de Resíduos de Desastres). Este documento define os resíduos em várias categorias e fornece conselhos e ferramentas para superar desafios e gerenciar os resíduos provenientes de desastres durante emergências e nas fases iniciais de recuperação das cidades.

A cidade de Porto Alegre e outras tantas que sofrem com os efeitos das inundações e alagamentos frequentes terão que definir doravante políticas de gestão dos mais diversos tipos de resíduos, incorporando-os às rotinas da administração pública: incluem-se concreto, aço, madeira e demais elementos de edifícios e infraestruturas danificados; móveis domésticos; componentes das redes de energia e telefonia, como postes elétricos, fios, equipamentos eletrônicos e transformadores; partes dos sistemas de distribuição de água e esgoto; detritos naturais como argila, lama, árvores, galhos, arbustos e folhas; produtos químicos, corantes e outras matérias-primas de indústrias e oficinas; embarcações, aeronaves, automóveis, ônibus e bicicletas danificados; resíduos alimentares, materiais de embalagem, excrementos e outros resíduos; produtos de limpeza doméstica; tintas, vernizes e solventes; e resíduos de saúde. Em respeito à cultura e às comunidades locais, o documento exclui cadáveres humanos e carcaças de animais. 

Ainda de acordo com o documento, a gestão eficaz de resíduos e sucatas após desastres climáticos requer ações coordenadas e multifacetadas. Em caráter emergencial, é essencial realizar uma rápida avaliação dos tipos e volumes de resíduos, mobilizar equipes de resposta com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e estabelecer rotas seguras para coleta e transporte a áreas de armazenamento temporário. No curto prazo, devem ser designados locais seguros para triagem e armazenamento temporário, além de conscientizar a população sobre os procedimentos corretos de descarte e segregação. A médio prazo, é fundamental estabelecer centros de reciclagem para processar materiais recicláveis e incentivar a reutilização de materiais na reconstrução, promovendo a economia circular. Programas específicos para tratamento seguro de resíduos perigosos também são cruciais. A longo prazo, é necessário investir em infraestrutura resiliente e adotar tecnologias avançadas para reciclagem e tratamento de resíduos, reduzindo a pegada ambiental. Políticas públicas devem ser desenvolvidas para incentivar a gestão sustentável de resíduos, incluindo incentivos fiscais para empresas de reciclagem e programas de educação ambiental.

Tufões, terremotos, tsunamis e inundações são parte da rotina enfrentada pelo Japão, Não é à toa que o país se destaca pela gestão eficiente de resíduos após desastres, com um sistema abrangente que inclui planejamento prévio, resposta rápida, triagem rigorosa e tratamento seguro. O tratamento seguro é realizado em instalações especializadas com protocolos rígidos e monitoramento constante, protegendo a saúde pública e o meio ambiente. Amsterdã, por sua vez, sofre com os efeitos de tempestades, chuvas fortes e elevações da maré, situação que levou à criação de comitê permanente para gerenciar resíduos de inundações, em parceria com empresas de coleta, ONGs e a comunidade, garantindo coleta eficiente e descarte correto, com foco na reciclagem e reuso. Esses comitês têm como missão minimizar impactos ambientais e sociais dos desastres, assegurando saúde pública, segurança e sustentabilidade, contribuindo para cidades mais resilientes e preparadas para os desafios das mudanças climáticas por meio de um trabalho coordenado, eficiente e transparente.

Porto Alegre e outras cidades afetadas por inundações precisam adotar práticas coordenadas e multifacetadas, inspiradas em estratégias de diversos países que enfrentam desastres climáticos e geográficos. Desde a avaliação emergencial até o investimento em infraestrutura resiliente a longo prazo, é crucial implementar políticas públicas robustas, incentivos fiscais e programas de educação ambiental para promover a descarbonização urbana e a economia circular. Integrar esses princípios de gestão de resíduos não só protege a saúde pública e a segurança da população, mas também contribui para a construção de comunidades mais resilientes e preparadas para futuros desastres. A agenda ambiental deve ser uma prioridade, com governos agindo proativamente para antecipar e mitigar os impactos negativos, transformando desafios em oportunidades sustentáveis para um futuro mais seguro e verde.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.    Tags: Chuvasdesastre climáticoenhcentesresíduosRio Grande do Sulsucatatragédia climática

Cidadãos, empresas e governos são corresponsáveis pelas mortes e danos materiais ocorridos no Rio Grande do Sul

Voto consciente é fundamental para a mudança: os cidadãos ajudam a criar uma cultura ambiental mais forte, influenciando políticas públicas e práticas empresariais em direção a um futuro mais sustentável

Se a agenda ambiental fosse prioridade, pergunto: por que estas sinalizações de segurança ainda existem? Divulgação/Prefeitura de Taubaté

Por Helena Degreas29/05/2024 11h01 – Atualizado em 29/05/2024 11h02 para a Jovem Pan News

Recentemente, o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, emitiu uma declaração que sobre a tragédia que ocorreu no Estado. “Estudos alertaram, mas o governo também vive outras agendas”, afirmou Leite sobre as previsões da “tragédia anunciada” no RS, ilustrando como os líderes políticos precisam equilibrar diferentes demandas e prioridades em sua gestão. Tem razão: uma agenda política não é apenas uma lista de compromissos assumidos em campanha eleitoral; é um roteiro que guia as decisões que moldam o funcionamento das cidades. Reflete as prioridades, planos e objetivos que governos e líderes políticos se comprometem a realizar durante seus mandatos para atender as necessidades daqueles que moram nas cidades, ou seja, nós, cidadãos. Portanto, ao elegê-los com nosso voto, somos corresponsáveis por escolher aqueles que definirão as políticas, prioridades locais e, portanto, as agendas municipais, estaduais e federais e a destinação de recursos orçamentários para as ações que podem, com os anos, evitar os impactos causados pelas mudanças do clima. Como bem lembrou o governador, estudos alertaram para o eventual impacto que as chuvas e ventos poderiam causar nas cidades atingidas incluindo os mapeamentos sobre as áreas de risco, mas, as agendas políticas traçadas por nossos representantes nas escalas federal, estadual e municipal, tratou como questão menor nas discussões políticas, refletindo nos orçamentos o descaso.

Opiniões divergentes sobre os mais diversos assuntos sempre existiram. Mas, quando a desinformação sobre pautas urbanas impera, especialmente sem base científica, as agendas urbanas e a destinação de orçamentos podem ser prejudicadas, levando à priorização de projetos ineficazes, ao desperdício de recursos públicos e à resistência a políticas essenciais, como aquelas que levam à descarbonização. E mais: pode incentivar políticas de curto prazo que não resolvem problemas estruturais, intensificar a polarização política, dificultando a cooperação entre partes interessadas, e erodir a confiança pública em instituições governamentais. Exemplos como evidenciado pela fala do vereador Sandro Fantinel, do PL de Caxias do Sul, que atribuiu a proteção do meio ambiente como a causa da tragédia no Rio Grande do Sul. Essa visão polarizada, ausente de lastro científico, ilustra a resistência de atores políticos, eleitos pelos cidadãos, em investir em infraestrutura resiliente aos extremos climáticos. A falta de conscientização e conhecimento sobre a importância da sustentabilidade e das práticas ecossistêmicas por atores políticos, empresas e cidadãos, contribui para a resistência em adotar políticas ambientais robustas e para a priorização inadequada de recursos e projetos que não levam em conta os impactos ambientais a longo prazo. Além disso, os eventos adversos, causados ou agravados por ações humanas que resultam em danos ao meio ambiente, podem ser considerados, de certa forma, como sinistros ambientais ao identificar o comprometimento das ações humanas nas questões que afetam a resiliência dos territórios frente aos extremos climáticos. Todos previstos por diversos profissionais qualificados, que “alertaram” para as consequências, perdas e danos, como ocorreu no Rio Grande do Sul.

Exigir a proatividade dos diversos atores políticos para a adoção da cultura ambiental em políticas urbanas, embora seja uma tarefa hercúlea, pode promover mudanças significativas nos processos de decisão de governos e empresas que levem à descarbonização. Escolhas de consumo conscientes, como optar por produtos e serviços de empresas sustentáveis, incentivam o mercado a valorizar a responsabilidade ambiental, levando à integração dos critérios ESG na tomada de decisões de investimento e na gestão empresarial. A participação em movimentos sociais, engajando-se em campanhas, petições e manifestações levam não apenas à conscientização das pessoas, mas também, aumentam a pressão pública levando políticos a priorizar as questões ambientais em sua agenda, resultando na criação de novas leis e políticas públicas que promovam a sustentabilidade e a proteção ambiental.
Portanto, o apelo aos governos, às empresas e aos cidadãos torna-se ainda mais urgente. Precisamos de uma mudança de paradigma que promova a colaboração, a inovação e o compromisso comum com um futuro sustentável incluindo uma reflexão profunda sobre nossos padrões de consumo, que muitas vezes estão intrinsecamente ligados à exploração excessiva dos recursos naturais e à geração de resíduos. A transição para modelos de consumo mais conscientes e sustentáveis é fundamental para reduzir nossa pegada ambiental e mitigar os impactos negativos sobre o meio ambiente. Somente assim poderemos enfrentar os desafios da crise climática e construir um mundo mais justo, equitativo e sustentável para todos. Por fim, o voto consciente é fundamental para a mudança. Ao tomar essas ações, os cidadãos ajudam a criar uma cultura ambiental mais forte, influenciando tanto as políticas públicas quanto as práticas empresariais em direção a um futuro mais sustentável.

Se você quiser comentar ou fazer alguma sugestão fale comigo pelo instagram e X em @helenadegreas

Precisamos de um novo design, um design para um mundo melhor

  • Por Helena Degreas
  • 09/05/2024 08h56 – Atualizado em 09/05/2024 09h36

PAULO PINTO/ESTADÃO CONTEÚDO12132727.145301

“Somos a primeira geração a saber que enfrentamos riscos ambientais globais sem precedentes, mas ao mesmo tempo somos a última geração com uma chance significativa de fazer alguma coisa com relação a isso.”

Está cada vez mais perto. O que os cientistas e ambientalistas alertavam há alguns anos está se tornando inegável à frente dos nossos olhos, atingindo nossos amigos e nossas famílias. O calor insuportável, a necessidade constante de ar-condicionado, as mortes de animais e as tragédias climáticas evidenciam o colapso pelo qual colocamos nosso Planeta. Johan Rockström, cientista sueco reconhecido internacionalmente por seu trabalho em questões de sustentabilidade global, afirma: “Somos a primeira geração a saber que enfrentamos riscos ambientais globais sem precedentes, mas ao mesmo tempo somos a última geração com uma chance significativa de fazer alguma coisa com relação a isso.” E o que estamos fazendo? As Nações Unidas se reúnem todos os anos há aproximadamente 30 anos para discutir sobre os impactos da ação humana no Planeta. O problema é que os 194 países buscam fazer acordos unânimes na tentativa de costurar compromissos que, apesar de firmados, não resistem às barreiras políticas e interesses econômicos internos dos próprios países. 

Os desafios que enfrentamos hoje não são tecnológicos. Nosso maior problema é o comportamento humano. A era da abundância, do luxo e da tecnologia também é a era do desperdício, do lixo, da ameaça. A forma como desenhamos nossa vida, o que consumimos, o que produzimos, como remuneramos… tudo precisa ser redesenhado.  Para Don Norman, renomado designer, autor e educador conhecido por seu trabalho de design centrado no usuário e pelo termo “experiência do usuário”, o UX tem se mobilizado a pensar em como todos nós podemos desenvolver uma mentalidade de designers e ajudar a projetar um mundo melhor. Para ele, o comportamento humano está no centro dos problemas que enfrentamos. Mesmo que criemos mais políticas ou tecnologias que visem mitigar as alterações climáticas, o sucesso de qualquer uma destas iniciativas dependerá da vontade e capacidade das pessoas para mudarem o seu comportamento e adotarem novos hábitos. No entanto, é muito difícil mudar. Do ponto de vista da ciência cognitiva sabemos que temos uma tendência natural à inércia. Ela é uma força poderosa em nossas vidas. É incrivelmente tentador e confortável permanecer imóvel, conservar nossa energia. Novas mudanças, por sua vez, ativam o sistema cerebral de resposta ao medo e às ameaças e liberam hormônios do estresse, como o cortisol, que nos deixam ansiosos e inseguros. Há uma tendência natural a procurar a estabilidade, a previsibilidade. Além disso, o cérebro prioriza as informações que recebe por meio dos sentidos. Questões que são difíceis de perceber diretamente, como os efeitos das alterações climáticas podem ser muito abstratas e até pouco confiáveis, tornando-as pouco compreensíveis, sem falar que não são imediatas o que as torna ainda mais intangíveis.Playvolume

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Isto faz com que a maioria das pessoas seja míope na sua tomada de decisões, especialmente sobre o futuro. Cultivamos um pensamento de curto prazo, o que tem comprometido o futuro das próximas gerações e colocado em risco a justiça intergeracional. A justiça intergeracional reconhece que as ações e decisões tomadas hoje têm um impacto significativo nas condições de vida e no bem-estar das gerações futuras. Implica em considerar os interesses e necessidades das gerações futuras ao tomar decisões políticas, econômicas, ambientais e sociais no momento presente. Nossa geração está hipotecando o futuroRoman Krznaric filósofo social e autor do livro: Como ser um bom ancestral, afirma que tratamos o futuro como um posto avançado colonial distante e que assim como os colonizadores europeus ignoraram a presença dos povos originários ao chegar nas Américas, classificando-as como “terra nullis” ou terra de ninguém, nós também estamos pilhando o futuro das próximas gerações e enxergando o futuro como “tempus nullis” ou tempo de ninguém. Precisamos urgentemente imaginar novos cenários, novas formas de viver não somente para nós, mas para todos os seres vivos. Desenhar experiências centradas na vida, na humanidade. Para isso, é fundamental resgatar o simbólico, a capacidade de sonhar e imaginar das novas gerações, combater o analfabetismo do imaginário. Desenhar novas experiências, um design melhor para o mundo, pressupõe imaginá-lo. Ao mesmo tempo que o comportamento humano é o problema, ele também é a solução, porque a solução tem de partir das pessoas. Esticar nossa visão de tempo, olhá-lo com mais profundidade, imaginar novos cenários futuros, considerar os saberes ancestrais, reconhecer a importância de cada ser vivo, tudo isso perpassa a capacidade de nos letrarmos em futuros, e reconhecer que caminhos alternativos podem ser pensados e criados. Este movimento precisa iniciar em organizações, escolas, governos, nos tornando protagonistas e empoderados no enfrentamento dos problemas, assegurando que todas as vozes sejam ouvidas, não somente para garantir o futuro, mas também para libertá-lo. Uma Pedagogia de Futuros, que ensine e transborde ações de esperança e nos ajude no desenho de um mundo melhor. 

A autora da coluna desta semana é a psicóloga e pedagoga Karina Nones Tomelin (@karina.tomelin). Além de mestre em educação, é autora de “Pedagogia de Futuros: guia teórico e prático de letramento de futuros para instituições educativas, empresas e governos”. O convite realizado se deve à urgência do tema relacionado ao design de cidades melhores. Venho reiteradamente escrevendo sobre a urgência na elaboração de políticas públicas urbanas proativas e eficazes relacionadas ao gerenciamento de riscos climáticos e à respectiva obrigatoriedade dos entes federativos em tratar de aspectos preditivos nas questões relacionadas aos extremos climáticos. Que seu texto inspire atores políticos, instituições públicas, empresas e sociedade na elaboração e financiamento de ações práticas para a construção de cidades melhores para milhões de famílias que, em seus lares, aguardam por uma vida digna, em segurança e sentindo-se, dentro do possível, bem.

Repensar as áreas urbanas é fundamental para buscar um equilíbrio que beneficie a todos

o que estamos perdendo ao priorizar o armazenamento de veículos particulares no meio da cidade em detrimento do espaço que pode ser utilizado pelas pessoas?

  • Por Helena Degreas em 17/10/2023 14h55 – Atualizado em 17/10/2023 15h14
    Texto original aqui

John Matychuk/UnsplashVisão aérea de um estacionamento

Ao visitar shopping centers, supermercados ou prédios públicos construídos no século passado, invariavelmente notamos a vastidão dos estacionamentos, extensas áreas pavimentadas que se estendem por hectares

Aguardando no ponto, a chegada do “busão”. São oito paradas até o shopping center onde deixarei meu relógio “cuco” para conserto. Datado de 1940, herança do meu pai, vez ou outra o passarinho emperra, insistindo em não piar a hora certa. Ricota e Chanel não gostam dele. Observam ansiosas o momento em que acidentalmente o pássaro sem penas distraidamente cai ao chão para que, finalmente, possam destroçá-lo. Desço no canteiro central. Entre eu e o shopping, existem alguns obstáculos a vencer: subir pela escada rolante quebrada, percorrer uma ponte coberta, descer pelo elevador ou pela escada para assim, chegando na calçada, deparar-me com um portãozinho extremamente pequeno, que me leva à entrada triunfal do edifício, depois de atravessar uma pista dupla interna destinada à circulação de veículos de carga e descarga. Acesso meu destino. Por dentro, iluminação adequada, ar-condicionado, gente andando de lá para cá freneticamente. Templo de consumo com ausência de identidade. Todos iguais, caixotes de vidro ou concreto, não importa o ornamento externo, têm em comum o fato de armazenarem veículos estacionados em volta de suas instalações. “Para que tanto estacionamento? Não é mais fácil vir de ônibus ou pedir transporte por aplicativo?”, pergunto-me.

Ao visitar shopping centers, supermercados ou prédios públicos construídos no século passado, invariavelmente notamos a vastidão dos estacionamentos, extensas áreas pavimentadas que se estendem por hectares, consumindo terra que poderia ser utilizada para propósitos mais nobres. Essas extensões de concreto comprometem não apenas a paisagem urbana, mas também causam impactos ambientais significativos, pois absorvem calor durante o dia e liberam-no à noite, contribuindo para o fenômeno das “ilhas de calor”, que elevam a temperatura das cidades. Além disso, o escoamento da água da chuva sobre o asfalto também pode causar problemas de drenagem e a contaminação do solo por óleos e outros resíduos de veículos. No Brasil, os shopping centers têm uma forma que remonta aos modelos norte-americanos, frequentemente localizados em áreas suburbanas, uma herança das cidades modernistas. Após a Segunda Guerra Mundial, houve um rápido crescimento dos subúrbios nos Estados Unidos, impulsionado pela busca de residências próprias a preços acessíveis e pelo desenvolvimento de infraestrutura viária, tornando os locais ideais para empreendimentos com grandes estacionamentos.

O princípio subjacente a essa abordagem é fortemente influenciado pelo “zoning“, que exigia a construção de estacionamentos em novos empreendimentos comerciais e residenciais, refletindo a dependência do carro, uma característica marcante da cultura estadunidense. Para quem assiste filmes e seriados de TV que mostram o estilo de vida nos Estados Unidos, “Desperate Housewives” e “American Beauty” são exemplos que retratam as vidas cotidianas e famílias que moram em bairros onde as casas são construídas em lotes individuais, com quintais espaçosos, gramados imensos e, em alguns casos, garagens anexas. São comunidades planejadas que podem incluir áreas verdes, instalações comunitárias, escolas e shoppings centers para aqueles dependentes de carro. Em contraste com a cultura europeia, que valoriza a criação de galerias e espaços públicos de qualidade em áreas centrais adensadas, nossas cidades optaram por acolher, inexplicavelmente, um modelo de projeto inadequado para áreas urbanas com farta infraestrutura e equipamentos públicos implantados. Enquanto isso, automóveis permanecem estáticos nos vastos estacionamentos. Ao contrário de pessoas, os carros não frequentam escolas, postos de saúde, acessam transporte público, recorrem a delegacias, exploram bibliotecas ou aproveitam o acesso à água, esgoto e energia elétrica. Pedaços de cidade inteiros armazenam automóveis enquanto aqueles que residem nas regiões periféricas dos centros urbanos são excluídas do acesso aos serviços públicos essenciais e que deveriam estar ao alcance de todos.

Nos últimos anos, a visão do urbanismo vem destacando a importância dos espaços livres qualificados, ou ainda, projetados para o uso público urbano e ambiental, especialmente nas áreas centrais das cidades. Parques, praças e espaços de convívio construídos em propriedades privadas, promovem a atividade física, a interação social e colaboram na redução do estresse. Incontáveis, seus benefícios levam à promoção da saúde e do bem-estar até a construção de comunidades mais fortes e unidas como venho sistematicamente abordando em minhas colunas. São locais de encontro, celebração e diálogo. São os lugares onde a diversidade da cidade se encontra e se mistura, criando um senso de pertencimento e identidade compartilhada. No entanto, muitas vezes, essas áreas são relegadas a segundo plano pelos empreendedores do mercado imobiliário voltado à criação de shoppings, supermercados e até pelas prefeituras locais. Não raro é encontrar prédios de secretarias, assembleias, departamentos diversos voltados ao atendimento da burocracia pública cercados de estacionamentos e inseridos em ambientes urbanos onde o transporte público é capaz de atender com qualidade seus colaboradores. O poder público e seus agentes, que deveriam dar o exemplo, eximem-se da responsabilidade de dar destinação adequada aos espaços ociosos ou que servem exclusivamente aos proprietários de carros.

A requalificação de áreas urbanas em benefício do espaço público não significa o fim dos carros ou da conveniência. Pelo contrário, representa uma oportunidade de repensar a alocação dos espaços e buscar um equilíbrio entre mobilidade, meio ambiente e qualidade de vida. Os estacionamentos ainda têm seu papel, mas é fundamental que empresas, sociedade e governos priorizem a criação de espaços urbanos de qualidade e que beneficiem a todos. Faz-se necessária a revisão das regulamentações urbanas e a eventual taxação para áreas de estacionamento a céu aberto em locais intraurbanos, pois não tem sentido algum que todos paguem por uma infraestrutura pública ociosa. À medida que exploramos alternativas para o futuro, é essencial considerar o potencial das áreas atualmente dominadas por veículos. A redefinição do espaço urbano, priorizando as pessoas em detrimento dos veículos, é essencial para uma cidade mais sustentável e habitável. Além disso, exemplos inspiradores de transformações urbanas centradas nas pessoas, como Medellín, Copenhague, Paris e Singapura, mostram que é possível criar ambientes urbanos mais humanos, saudáveis e vibrantes utilizando investimentos voltados para a ampliação da mobilidade ativa, do transporte de qualidade e do adensamento urbano por meio de políticas habitacionais que incentivem a diversidade social, além da retirada do asfalto para fins de permeabilização urbana. O desafio do planejamento urbano contemporâneo reside na conciliação das duas visões: a modernista e a pós-moderna, em uma abordagem integrada que repense o uso de áreas urbanas.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan

Walking through the city has turned our lives into an open stage, but this urban ‘Big Brother’ can be quite effective.

Helena Degreas* 04/05/2024 07h00 Jovem Pan News

The use of technologies such as IoT, Big Data, AI, GIS, and blockchain is fundamental for urban public policy planning, promoting safer cities, and improving quality of life.

Some capitals and cities already use technologies for information management and assistance in planning public policies focused on surveillance (anjianhua/Freepik)

The use of technologies such as IoT, Big Data, AI, GIS, and blockchain is crucial for urban public policy planning, promoting safer cities, and improving quality of life. Certainly, you must have come across cameras distributed across buildings, roads, poles, traffic lights, and patrol vehicles seamlessly blending into the urban landscape. These devices attentively observe us, capturing every step, gesture, expression, attitude, and behavior in search of patterns and information that can be utilized by those who installed them. Unlike the screens of a smartphone where we post what we want, our public life is scrutinized by silent witnesses who, keenly, observe our interactions with the city. Walking through the city has turned our lives into an open stage, whether or not we are aware of it. Despite discussions about the loss of control over our image and how it is used by companies and sectors of public administration that capture images, the fact is that currently, data generated daily on the internet exceeds 2.5 quintillion bytes produced by billions of users daily, numbers that point to significant growth in their production in any format.

“The real-time city is real!” With this phrase, the Senseable City Lab (MIT) has been working on contemporary urban management using the abundance of available images (Google Street View is one of the platforms used) to understand the different aspects of the city. Making sense of these sets of images that are then transformed into visual data can help us measure the legibility of space, quantify different aspects of urban life, and consequently design responsive environments. Cities are complex organisms that require approaches and the use of networks and digital information across their territory to understand the dynamics and interactions of the built environment. The Senseable City Lab (MIT) anticipates and studies urban changes through an omni-disciplinary approach, combining insights, methodologies, and techniques from various areas that integrate knowledge and skills from designers, urban planners, engineers, social scientists, biologists, physicists, and other disciplines involving diverse sectors and communities aimed at deepening mutual understanding between cities and inhabitants.

These technologies, when combined with sensor installation, allow for anticipating changes by capturing real-time information, providing a comprehensive and updated view of the situations that occur on city streets. By collecting real-time data on traffic, pedestrian and cyclist movement, environmental conditions related to noise production, thermal sensation, wind speed, and direction, urban maintenance (cleaning of public roads, repairs to sidewalks and squares, tree pruning, maintenance of public lighting, removal of debris, and inspection of green areas), for example, they can identify emerging trends, detect problems quickly, and inform urban planning decisions and public policies proactively. In Brazil, some capitals and cities have been standing out in the use of technologies for information management and assisting in the planning of public policies focused on surveillance and security, including IoT for real-time data collection, Big Data and Analytics to process information, AI to generate insights and extract meaningful insights from data, providing a complete understanding of problems, GIS for spatial data analysis, blockchain for security and transparency, and interconnected platforms promoting data sharing. When integrated, these technologies empower authorities to plan and implement effective policies tailored to the needs of urban communities.

Recently, the Municipality of São Caetano do Sul launched the São Caetano Mais Segura Program, investing over R$ 70 million in 2023. The program aims to deploy an urban infrastructure to support the over 400 already installed 360-degree cameras and the planned expansion of 1,335 that will cover the entire city. Additionally, it includes the installation of the Emergency Management Center (CGE), responsible for monitoring and managing urban emergency situations, using 360-degree cameras and sensors. Furthermore, integration of security forces with technology was carried out and personnel increased, through an agreement with the State government and the integration of GCM vehicle cameras with the Muralha Paulista and Córtex systems. These systems allow for the immediate identification of vehicles registered with CGE as stolen, as soon as they enter the city. A pop-up alerts both CGE and GCM vehicles about the irregularity, increasing efficiency in capturing criminals and ensuring daily security.

For those unfamiliar with the technology needed to ensure the efficiency and effectiveness of the security system, 360-degree cameras require the deployment of a robust network of optical cables to transmit real-time data with high speed and image quality, and the guarantee of stable energy systems for continuous operation. Effective control and monitoring require sophisticated management software, allowing real-time analysis and event detection. In addition to the installation of support infrastructures, such as poles and towers, that will allow for the strategic positioning of the cameras. Furthermore, cybersecurity measures to protect cameras and data against unauthorized access and attacks were taken for the program’s effectiveness. Data released by the São Paulo State Public Security Secretariat (SSP-SP) between March 2023 and 2024 show a decrease in various categories of crimes: reduction in cases of vehicle theft (45%), vehicle theft (37.50%), cargo theft (100%). These statistics are reinforced by quarterly comparisons, which also show a decrease in all major crime indices.

The use of technologies such as IoT, Big Data, AI, GIS, and blockchain is fundamental for urban public policy planning. These tools enable real-time data collection and analysis, making cities more responsive to citizens’ needs. However, their effectiveness depends not only on technological infrastructure but also on political commitment and the training of public agents for changing work culture. By integrating these technologies, authorities can create place-specific policies, promoting a more responsive city capable of meeting the demands of the population and improving their quality of life.

Do you have any questions or want to suggest a topic? Write to me on Twitter or Instagram: @helenadegreas.

*This column was written in partnership with geographer Luís Fernando Borsoi, an expert in spatial analysis and geoprocessing, environmental and urban planning for smart cities.

The English version employed features from ChatGPT and Gemini.

Andar pela cidade transformou nossas vidas em um palco aberto, mas esse ‘Big Brother’ urbano pode ser bem eficaz

Utilização de tecnologias como IoT, Big Data, IA, SIG e blockchain é fundamental para o planejamento de políticas públicas urbanas, promover cidades mais seguras e melhorar qualidade de vida

Por Helena Degreas* 04/05/2024 07h00 para a Jovem Pan News

Algumas capitais e cidades já usam tecnologias para a gestão de informações e auxílio no planejamento de políticas públicas voltadas à vigilância – anjianhua/Freepik

Certamente você já deve ter se deparado com câmeras distribuídas em edifícios, estradas, postes, semáforos e viaturas de policiamento integrando-se à paisagem urbana. Estes dispositivos nos observam atentamente, capturando cada passo, gesto, expressão, atitude e comportamentos em busca de padrões e informações que possam ser utilizadas por aqueles que as instalaram. Diferentemente das telas de um smartphone em que postamos o que queremos, nossa vida pública é vasculhada por testemunhas silenciosas que, atentas, observam nossas interações com a cidade. Andar pela cidade transformou nossas vidas em um palco aberto, com ou sem a nossa ciência. A despeito das discussões sobre a perda do controle sobre a nossa imagem e sobre como ela é utilizada por empresas e setores da administração pública que capturam imagens, o fato é que atualmente os dados gerados diariamente na internet ultrapassam os 2,5 quintilhões de bytes gerados por bilhões de usuários diariamente, números que apontam para um crescimento significativo na sua produção em qualquer formato. 

The real-time city is real!” (“O tempo real da cidade é real”). Com esta frase, o Senseable City Lab (MIT) vem trabalhando a gestão urbana contemporânea a partir do uso da abundância de imagens disponíveis (Google Street View é uma das plataformas utilizadas) para compreender os diferentes aspectos da cidade. Dar sentido a esses conjuntos de imagens que depois são transformados em dados visuais podem nos ajudar a medir a legibilidade do espaço, a quantificar diferentes aspectos da vida urbana e, como consequência, projetar ambientes responsivos. Cidades são organismos complexos que demandam abordagens e uso de redes e informações digitais em todo o seu território para a compreensão das dinâmicas e interações do ambiente construído. O Senseable City Lab (MIT) antecipa e estuda mudanças urbanas por meio de uma abordagem omni-disciplinar, combinando insights, metodologias e técnicas de várias áreas que integram conhecimentos e habilidades de designers, planejadores urbanos, engenheiros, cientistas sociais, biólogos, físicos e outras disciplinas envolvendo diversos setores e comunidades visando aprofundar o entendimento mútuo entre cidades e habitantes.

Essas tecnologias, quando associadas à instalação de sensores, permitem antecipar mudanças ao capturar informações em tempo real, fornecendo uma visão abrangente e atualizada das situações que ocorrem nas ruas da cidade. Ao coletar dados em tempo real sobre o tráfego, tempo semafórico dedicado à qualidade do movimento de pedestres e ciclistas em vias, condições ambientais relacionadas à produção de ruídos, sensação térmica, velocidade e direcionamento dos ventos, zeladoria urbana (limpeza de vias públicas, reparos em calçadas e praças, poda de árvores, manutenção de iluminação pública, remoção de entulhos e fiscalização de áreas verdes), por exemplo, podem identificar tendências emergentes, detectar problemas rapidamente e informar decisões de planejamento urbano e políticas públicas de forma proativa. 

No Brasil, algumas capitais e cidades vêm se destacando na utilização de tecnologias para a gestão de informações e auxílio no planejamento de políticas públicas voltadas à vigilância e segurança, incluindo Internet das Coisas (IoT) para a captação de dados em tempo real, Big Data e Analytics com o objetivo de processar as informações, Inteligência Artificial (IA) para gerar insights e extrair percepções significativas de dados, proporcionando compreensão completa de problemas, Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para a análise de dados espaciais, blockchain para a segurança e transparência e plataformas interconectadas promovem compartilhamento de dados. Quando integradas, essas tecnologias capacitam autoridades a planejar e implementar políticas eficazes, adaptadas às necessidades das comunidades urbanas.

Recentemente, a Prefeitura de São Caetano do Sul lançou o Programa São Caetano Mais Segura, investindo mais de R$ 70 milhões em 2023. O programa visa implantar uma infraestrutura urbana para suportar as mais de 400 câmeras 360 graus já instaladas e a expansão de 1.335 planejadas que cobrirão toda a cidade. Além disso, inclui a instalação do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), responsável por monitorar e gerenciar situações urbanas de emergência, usando câmeras 360 graus e sensores. Além disso, foi realizada a integração das forças de segurança à tecnologia e ampliado o efetivo, por meio de convênio com o governo do Estado e a integração das câmeras das viaturas da GCM aos sistemas Muralha Paulista e Córtex. Estes sistemas permitem a identificação imediata de veículos cadastrados no CGE como roubados, assim que entram na cidade. Um pop-up alerta tanto o CGE quanto as viaturas da GCM sobre a irregularidade, aumentando a eficiência na captura de criminosos e garantindo segurança diária.

Para quem não conhece a tecnologia necessária para assegurar a eficiência e eficácia do sistema de segurança, as câmeras 360 graus requerem a implantação de uma rede robusta de cabos ópticos para transmitir dados em tempo real com alta velocidade e qualidade de imagem e a garantia de sistemas de energia estáveis para o funcionamento contínuo. O controle e monitoramento eficazes requerem software de gerenciamento sofisticado, permitindo análise e detecção de eventos em tempo real. Além da instalação de infraestruturas de suporte, como postes e torres, que permitirão o posicionamento estratégico das câmeras. Paralelamente, medidas de segurança cibernética para proteger câmeras e dados contra acesso não autorizado e ataques foram tomadas para a eficácia do programa. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) entre os meses de mês de março de 2023 e 2024 mostram uma queda em diversas categorias de crimes: redução nos casos de roubo de veículos (45%,), furto de veículos (37,50%), roubo de cargas (100%). Essas estatísticas são reforçadas pela comparação trimestral, que também demonstra uma diminuição em todos os principais índices criminais.

A utilização de tecnologias como IoT, Big Data, IA, SIG e blockchain é fundamental para o planejamento de políticas públicas urbanas. Essas ferramentas possibilitam a coleta e análise de dados em tempo real, tornando as cidades mais responsivas às necessidades dos cidadãos. No entanto, sua eficácia depende não apenas da infraestrutura tecnológica, mas também do comprometimento político e da capacitação dos agentes públicos para a mudança da cultura de trabalho. Ao integrar essas tecnologias, as autoridades podem criar políticas adaptadas ao lugar, promovendo uma cidade mais responsiva, capaz de atender às demandas da população e melhorar sua qualidade de vida. 

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*Esta coluna foi escrita em parceria com o geógrafo Luís Fernando Borsoi, especialista em análises espaciais e geoprocessamento, planejamento ambiental e urbano de smart cities.

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