Prédios próximos da Estadão Vila Madalena do Metrô: A lei atual permite que os empreendimentos nos eixos construam “gratuitamente” um número de garagens igual ou inferior ao total de apartamentos, sem que sejam consideradas “áreas computáveis”. Foto: Taba Benedicto/Estadão
Na contramão das boas práticas de gestão urbana que atuam na direção de construir cidades compactas e resilientes, o prefeito Ricardo Nunes pretende mudar o Plano Diretor estimulando o uso de automóveis justamente onde há oferta de transporte público, ou seja, nas áreas onde já existem corredores de ônibus e estações de metrô. Criar mais vagas para o estacionamento de automóveis particulares na cidade vai contra todas as discussões e ações que foram sendo construídas ao longo de quase duas décadas no que tange às questões de mobilidade urbana com ênfase na integração dos modos ativos de locomoção, na melhoria da qualidade de vida urbana com a criação de espaços públicos verdes e áreas de estar sombreadas, iluminadas e mobiliadas em frente às calçadas para provimento de espaços públicos de qualidade para a fruição dos caminhantes.
A única justificativa plausível para a alteração seria a de atender a demanda do mercado imobiliário (e todo o seu ecossistema) nos eixos de estruturação da transformação urbana. Ignorância ou má fé?
O ecossistêmica composto por empresas imobiliárias e de construção civil entendem que a oferta de vagas para estacionamento de automóveis particulares incentivará a venda dos micro apartamentos. São aquelas unidades habitacionais que em muitos casos são menores do que um quarto de hotel popular. Os estúdios de menos de 20 metros quadrados viraram investimento (fundos imobiliários) de proprietários que, encarando de frente uma bolha imobiliária prestes a explodir, estão desesperados com a possibilidade de perda iminente de seus ativos.
Os efeitos desse dispositivo são visíveis, por exemplo, na Avenida Rebouças e na Vila Madalena, áreas nas quais há uma profusão de obras. Nesses locais, há especialmente um boom de apartamentos pequenos. Em artigo recente publicado pelo Estadão, cerca de 250 mil compactos foram lançados entre 2014 e 2020 ao longo dos eixos de estruturação e transformação urbana. Incentivados pela gratuidade das garagens (áreas não computáveis no coeficiente de aproveitamento), espaços compostos por “estação para preparo de alimentos”, local para dormir proliferaram lembrando muito o boom imobiliário provocado pela construção de flats décadas atrás que deixou vários investidores com um prejuízo razoável vez que não havia tantos locadores para aquele tipo de imóvel.
Lembro-me de quando o plano diretor ainda estava em elaboração. Nele, urbanistas e técnicos municipais depositavam a confiança na construção de uma cidade mais justa em que unidades habitacionais dignas fariam parte de um “estoque” habitacional da municipalidade para compor parte da política habitacional destinada à população de baixo poder aquisitivo não atendida pelo sistema de crédito bancário. A redução na oferta do número de vagas para estacionamento ao longo de eixos de transporte público, pretendia incentivar seu uso juntamente com outros modos de locomoção não motorizada.
Anos depois e regulamentações urbanas várias, o PDE, antes inovador, vai transformando-se num Frankenstein, costurado por interesses diversos do alcaide e dos vereadores de plantão. Em tempo: eleitos pela população.
Na semana do bicentenário da independência, escrevi uma coluna que descreve histórias de crianças e jovens vivenciadas entre os anos de 1930 e 1950 no Parque da Independências mostrando a importância das instituições culturais no cotidiano do bairro do Ipiranga e da cidade de São Paulo. Com a coluna, fiz uma enquete em que era perguntada a frequência de visitação dos leitores em museus.
As respostas revelaram dados que assustariam até as mais conservadoras curadorias. Perguntados sobre a frequência, cerca de 3% declaram ser assíduos, 10% afirmar ir vez e outra e 87% informam raramente frequentá-los. Na interação, muitos me perguntaram por que eu não coloquei a opção nunca.
Medo das respostas, Só isso. Covardia, enfim. Talvez, eu ainda faça parte de uma bolha que imagina que os objetos que compõem o acervo seja mágicos e tragam com eles sentimentos de época, de pertencimento que eu gostaria de ter vivenciado. Nas pinceladas visíveis em pinturas, no trabalho do cinzel e do martelo que apesar da força bruta, expõe-se na leveza de uma escultura, da delicadeza dos entalhes da joias que adornaram imperadores, das trocas de conversas enquanto a gente comum realizava as refeições em louças singelas ou dos brasões e armas utilizados para vencer batalhas, o encanto de cada elemento me faz pensar sobre vidas, pessoas, histórias que me fazem ser, quem sou. É apaixonante.
O que pode estar ocorrendo para que história, arte e cultura encerrada em museus, galerias e demais espaços que acolhem elementos, para mim, tão caros, não sejam usufruídos da maneira e na quantidade que merecem? Acaso as pessoas não se interessam em conhecer de onde vieram ou por que são o que são? Interessam-se sim. Mas os tempos, são outros.
Tecnologias da informação e comunicação quando utilizada para agregar valor às experiências individuais e coletivas, podem gerar excelentes resultados e, quando agregadas pelos profissionais responsáveis pelas curadorias de eventos que se propõem a expandir o conhecimento, visualização e interação com pessoas e grupos “não iniciadas” (contem ironia), podem trazer ao cotidiano da gente comum, o prazer de experimentar um pouco do que sinto quando vou presencialmente ver exposições ou virtualmente conhecer acervos de todo o mundo.
Para além das exposições fixas, os museus e galerias tem experimentado práticas de curadoria que pretendem engajar cada vez mais pessoas interrompendo a narrativa das exposições que já vem prontas, estáveis e que não permitem interação ou questionamentos. A utilização de recursos oriundos das redes sociais, associados à interação digital por meio de visitas guiadas, podcasts, interações síncronas, utilização de games, imersões em realidades virtuais com experiências em realidade aumentada quando associados à Internet das Coisas e Inteligência Artificial ampliam as possibilidades de compreensão e interesses dos visitantes para muito além daquele vivenciado por meio da presencialidade proporcionada por uma visita.
A resposta à enquete, aponta para a necessidade de ampliação dos investimentos públicos e ampliação de incentivo fiscais às empresas para a constituição de acervos presenciais, digitais e ampliação dos recursos direcionados à interação e satisfação dos usuários para divulgação e disseminação dos elementos que compõem a riqueza cultural deste Brasil.
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Praticar a gentileza em ambientes urbanos com grande movimento de pessoas parece impossível, verdadeira obra de ficção. Mas não foi o que aconteceu na rua Santa Clara quase esquina da Rua Bresser região conhecida por seu comércio pujante na cidade de São Paulo.
Passei por lá para pesquisar preços para o novo estofamento do meu sofá quando, do nada algo me chama a atenção. Uma geladeira na calçada. Amarela, colorida, linda!
Sim, uma geladeira. Confesso que fiquei reticente em abrir apesar da minha imensa curiosidade. Geminianos são assim. Mas acredito que neste caso, qualquer um que se deparasse com uma geladeira amarela sozinha na calçada se sentiria impelido a abrir. Somos humanos curiosos.
Tomei coragem: fotografei de todos os ângulos primeiro.
Depois li tudo, absolutamente TUDO o que estava escrito nela. Estava bem adesivada, instruções claras e… só faltava abrir.
Coloque a mão e… ABRI: não havia nada dentro. Era hora do almoço: 12h30
Funcionamento impecável. Até a lâmpada de dentro estava acesa. Estava limpíssima – acho até que bem mais do que a minha que limpo semanalmente.
De quem era? quem teve essa ideia bacana? será que a geladeira havia sido colocada naquele dia? tinha alguém zelando pela integridade dela? ou simplesmente deixou lá porque é uma pessoa que ainda acredita na humanidade?
Como detetive de araque, segui a fiação… passou por trás do primeiro vaso, do segundo, subiu a parede, a porta, a vitrine e, por fim, entrou na loja pela porta.
Entro. Curiosidade me matando. Pergunto para o caixa da loja: de quem é a geladeira? “fala com a gerente” diz a moça.
Vou atrás.
Explico para a gerente Juliana que já tinha visto várias iniciativas gentis na rua: cabideiro com roupas usadas, local com livros para compartilhar, flores num carrinho para você pegar, bancos, mesas…, mas, comida?
#AltaAnsiedade
Transformo-me em uma metralhadora de perguntas: vocês colocaram a geladeira? está funcionando? ninguém destruiu? nenhum engraçadinho teve alguma ideia besta e colocou algo que não deveria dentro? quem está usando? as pessoas estão gostando? como faz para participar? que tipo de comida vai lá dentro? e no final de semana? também colocam comida?
“Sim” diz Juliana: comida. E emenda: “e por que não?”
De fato, pensei: “E por que não?”
No começo ela disse que ficou um pouco preocupada com o tipo de uso. Mas logo depois tranquilizou-se pois percebeu que todos aqueles que abrem e tiram algo, voltam e colocam algo dentro depois, quando podem. O dono do restaurante de quilo ao lado da geladeira deixa algumas marmitinhas todos os dias em que está aberto. O ambulante da esquina que vende abacaxi e melancia em fatias no saquinho, deixa lá também. Tem um outro, dono da lotérica, que deixa copinhos de água e, vez e outra, refrigerante. Ela mesma sempre deixa alguma fruta embrulhada para consumo.
E quem abre e pega a comida de dentro? qualquer um, sem restrição. Desde o pedinte do bairro aos funcionários das lojas, gente que estaciona o carro abre a porta da geladeira e pega uma fruta ou água. Todos pegam e todos até o momento colaboram. Estava vazia porque era o horário do almoço. E mais: “se você voltar lá novamente vai ver que alguém já colocou uma comidinha dentro”.
Fico feliz. Vários estudos mostram que, se você é gentil com alguém, você se sente feliz.
Sinto-me realmente feliz com a iniciativa da loja e mais: como sou viciada nas pechinchas lá da Bresser, voltarei com a minha contribuição: faço pães e bolos para consumo próprio em casa e a família não dá conta de comer tudo. Continuarei distribuindo no farol, mas deixarei SEMPRE de agora em diante dentro da geladeirinha amarela aquilo que para mim é muito e, sobra. Como retorno ganho felicidade de volta!
Todos os dias esbarro com pessoas que consideram a pesquisa uma grande bobagem, coisa de cientista maluco. Quando eu era criança eu me divertia muito lendo os HQs do Professor Pardal. Sei que ele era retratado como um sujeito maluco que criava traquitanas desconjuntadas que resolviam problemas. Quem sabe isso tenha contribuído de alguma forma na imagem que ainda se tem dos pesquisadores qualquer que seja a sua área.
Juro que não entendo como algumas pessoas conseguem emitir uma opinião sem conhecer o assunto do qual estão falando. Sem pesquisa, para mim, qualquer fala tranforma-se em julgamento de ordem moral muito distante dos fatos e da verdade. E pesquisa é coisa séria.
E POR QUE PESQUISAR É IMPORTANTE? QUE DIFERENÇA FAZ NA MINHA VIDA?
Variações de um mesmo tema/assunto: sair do lugar comum e das frases chavão ou clichê. Ao escrever sobre um assunto ou tema, profissionais de qualquer área de atuação devem necessariamente ir além de suas experiências pessoais. Isso porque nem sempre as pessoas para quem você está escrevendo ou falando tem o interesse em ouvir você e sim, desejam saber mais sobre o assunto que você se propôs a falar. Para conhecer mais, é preciso pesquisar e escolher muito bem as fontes de sua pesquisa. Por exemplo, os roteiristas que escrevem qualquer novela ou série de TV, levam anos por vezes, para realizar a pesquisa que fundamenta sua história, Para tanto, contratam pesquisadores para conhecer mais sobre os hábitos, costumes, assuntos que envolvem os personagens, situações e notícias envolvendo questões sociais, políticas e pessoais contextualizadas, cenários, figurinos, músicas e tantos outras informações necessárias para poder construir uma situação verídica. Mesmo os atores fazem muita pesquisa para conseguir vestir e dar vida ao personagem. Não existe isso de “sair escrevendo por aí ou achando algo que saiu da sua cabeça” … A pesquisa muitas vezes aponta caminhos que não conhecíamos e nos leva a pensar em situações que o nosso conhecimento sozinho não nos levaria.
Deixo aqui dois exemplos que me são muito queridos pois tem a assinatura de minha filha no roteiro e na atuação. A Teia (série da Rede Globo) e O Albatroz.
fonte: Adoro Cinema
Fato ou Fake? você já deve ter ouvido muito, mas MUITO mesmo sobre informações que lemos, ouvimos, assistimos que são construídas em situações não comprovadas, irreais e são utilizadas para confundir ou criminalizar alguém: são as Fake News O compartilhamento de informações em redes sociais tem ajudado muito a espalhar informações que não condizem com a realidade dos fatos.Como pesquisadores temos a obrigação de realizar pesquisas completas com fontes primárias inclusive. Checar, verificar a veracidade das informações e dos dados. Ouvir de alguém não basta. “Dar um google” ou “googlar no inglês”, também não. Qualquer um escreve qualquer coisa e posta, publica em meios de comunicação diversos. A disseminação de informações falsas é tão significativa que chegamos à era da pós-verdade… Precisamos buscar fontes confiáveis ou construir pesquisas com métodos e instrumentos que venham a testar e a validar ou não nossas hipóteses. Fonte: ABI – Associação Brasileira de Imprensa
Até para procurar emprego ou oportunidades de trabalho! quem não pesquisa a empresa para onde seu currículo será enviado? os departamentos ou setores para os quais você é mais qualificado? “Atirar para todos os lados” não resolve. Uma boa pesquisa é sempre o melhor caminhos. Nela autoconhecimento e conhecimento do tipo de trabalho, vaga e empresa é sempre o melhor caminho.
Fonte: IStock Getty Images
O programa da disciplina será disponibilizado em aula nesta quarta-feira. No mesmo dia vou me apresentar, descrever o plano de aulas e com vocês organizar os temas dos trabalhos que serão apresentados ao final da disciplina. Aguardo por vocês e até lá.
Fonte: Acesse PortalLembranças: Desenho do filho e toalha de crochê (Foto: Arquivo pessoal)
Por Helena Degreas*
Bebê já grandinho, chegou a hora de levá-lo para a escolinha. Apesar daquela sensação de culpa eterna que ronda os pensamentos de grande parte da vida daqueles que se ocupam da criação dos pequenos, é preciso deixar crescer. Criamos para o mundo e não para nós mesmos.
Desenvolvimento físico, intelectual, socialização e autonomia são competências socioemocionais que podem ser estimuladas a partir da vivência com outras pessoas. Em casa, não conseguiríamos ‘dar conta do recado’ sozinhos.
Numa das primeiras reuniões com os pais, vejo seus primeiros desenhos. Emocionada, começo a ler naquele emaranhado de traços, linhas, pontos e quase círculos a manifestação do seu desenvolvimento cognitivo. Lá estavam seus pensamentos expressos graficamente! Em mais algumas folhas, surgiram alguns recortes em papeis coloridos colados. #MomentoOrgulho.
Olho para a professora e penso numa frase para externar minha gratidão. Não deu tempo. De pronto ela descreve o que vê: “São garatujas. É assim que eles desenham.” Como é que é? Garatuja no meu dicionário significa desenho rudimentar, malfeito e por aí vai. Perguntei: Do que você está falando? Dá para explicar? Provavelmente num dia ruim, a educadora responde: “Seu filho é canhoto”. Fuzilando com o olhar, me questionava: “E daí? Qual é o problema colega? Escreve com a mão esquerda, vai cortar o bife segurando a faca com a mão esquerda….”
Acaso a escola e seus professores não estão instrumentalizados e preparados para colaborar no seu desenvolvimento? É isso? O clima azedou de vez. Adivinhem quanto tempo ele permaneceu por lá…
Salas de aula não estão preparadas para todos (Foto: Arquivo pessoal)
Nos primeiros meses de vida, seguindo a ordem natural e esperada das coisas, ele começou a utilizar uma das mãos com mais frequência do que a outra para segurar o copinho e a colher. Estava expressando, como qualquer ser humano, a preferência quanto à lateralidade corporal. Era a esquerda. Pensei: “Será que isso vai dar algum problema na escola? Final do século 20? Acho que não”. Canhoto, canhestro, esquerdo, inábil, desastrado, sinistro… nem sei quantos sinônimos encontrei. Aqueles ligados aos valores religiosos eram os piores: cão, diabo… em outras palavras, passava-me a impressão de alguém ‘do mal’. Palavrinhas que materializavam condutas e comportamentos sociais construídos a partir de pré-conceitos. O menino aprontava todo o tipo de diabruras…, mas daí a entender que a preferência lateral corporal é ‘do mal’? Eu, hein! Fico imaginado o vasto cabedal de histórias que terei para contar aos filhos do meu filho…
Mas o pensamento retornava, insistindo em me perturbar: “…Com o quê, afinal, estaria eu tão incomodada”?
Lembrei-me de meu primo Ιωάννης e minha avó Eλενη. Primo mais velho, brincávamos juntos quando criança. Por volta dos quatro anos, ele me ensinou a desenhar e a escrever com as duas mãos. Sem perceber, desenvolvi uma nova habilidade. Pouco tempo depois, tive alguns probleminhas durante as aulas de caligrafia na escola tradicional americana que frequentei. Gostava de ‘desenhar as letras de mão’ com as duas mãos. Professoras à moda antiga, decidiram unilateralmente escolher a mão que deveria ‘desenhar as tais letras’. Adivinhem qual era… Anos mais tarde, num dos vários almoços na universidade, ele me confidenciou que sofreu muito na escola. Imagine escrever com a mão esquerda frequentando um colégio religioso repleto de padres professores. Afinal, está claro na Bíblia que ‘À direita de Deus pai, ficam as boas ovelhas’… Já à esquerda ficam… tirem suas próprias conclusões… Sobreviveu à tirania destra, crescendo como um adulto ambidestro.
Minha avó paterna, por sua vez, não frequentou escola. Essa situação não a impediu de aprender a ler e a escrever sozinha. Com ela aprendi a cozinhar, tricotar e fazer peças em crochê, naturalmente, utilizando a agulha com a mão esquerda. Só me dei conta disso, novamente na escola, anos mais tarde, durante as aulas de ‘Prendas domésticas’. Nas aulas, empunhando a agulha na mão esquerda, tive que reaprender o que minha avó querida havia me ensinado, agora com a direita. Para não ser reprovada, reaprendi. Tempos difíceis aqueles…
Mas o quê afinal, ainda me incomodava? Acho que foi minha profissão, mais do que qualquer outra coisa. Como arquiteta e urbanista projeto ambientes, espaços e objetos para uso e fruição das pessoas quer nas atividades diárias do lar, do trabalho e da vida em sociedade. Valores estéticos, sociais, econômicos e funcionais estão sintetizados em cada projeto, em cada objeto e ambiente. Tudo é pensado para ser utilizado de maneira confortável por qualquer um que necessite dos nossos serviços. O projeto é contextualizado nas necessidades dos contratantes, apoiado obrigatoriamente em normas e legislações vigentes, técnicas, materiais e processos construtivos disponíveis no mercado.
Procurei em estabelecimentos comerciais diversos objetos cujo design – projeto em outras palavras –, pudessem adaptar-se e atender plenamente as preferências e habilidades associadas à lateralidade corporal do meu filho para facilitar-lhe o uso em ambiente escolar. Obviamente, mal consegui uma tesoura que, apesar de ter gravado o nome do meu filho, misturava-se às dos demais alunos destros, sendo tratada como ‘aquela ruim que não corta’. Meu filho por sua vez, ia se adaptando ao mundo dos destros. Carteiras inadequadas que levavam a uma postura horrível, mouses, botões, roupas, apontadores, abridores de latas ou até dificuldade na escrita: Já perceberam que a mão esquerda passa por cima do texto que se está escrevendo? Leva-se mais tempo para desenvolver a mesma tarefa. Fico imaginando como escrever com uma caneta tinteiro ou como se resolvem as questões de um cirurgião canhoto…
O fato é que até hoje, 20 anos depois, século 21, apesar dos avanços obtidos por força de lei, cerca de 10% da população mundial ainda precisa desenvolver ‘destreza’, adaptar-se e ser flexível no uso dos objetos, instrumentos de trabalho e ambientes criados para os destros. Quantos são? Cerca de 700 milhões de pessoas adaptam-se ao desconforto para poderem trabalhar ou divertir-se. Algumas situações, de tão corriqueiras, transformam-se em verdades inquestionáveis. Cansei de ouvir de alunos e demais pessoas. “Mas é assim que se faz! E existe outro jeito?” Óbvio que sim. Vários! Coloque-se no lugar do outro. Vá pesquisar. Projetar não tem glamour nenhum: 99% transpiração e 1% inspiração. Resumindo: é muito trabalho.
Retorno à necessária mudança de cultura: Valores e crenças sociais só mudam com a educação. Demora, mas não tem outro jeito. Arquitetos não são capazes de mudar a visão de mundo dos demais 90% dos membros que compõem o grupo dos destros. De minha parte, fui contribuir com a mudança. Apesar de trabalharmos com médias, projetar demanda soluções diferentes para cada contexto. Procurar soluções que atendam habilidades funcionais distintas do corpo, significa em outras palavras, dar as mesmas condições de acesso e uso de ferramentas de trabalho, espaços e ambientes para executar uma tarefa bem: independentemente das habilidades funcionais do corpo.
Ao lecionar disciplinas na área de projeto, solicito aos meus alunos que tomem uma atitude proativa, desconfiando sempre do status quo, revendo processos, rotinas, comportamentos, produtos, normas e até legislações que dificultem de alguma forma, a vida das pessoas. Gosto de imaginar o mundo dos mais variados ângulos e lados. Canhestro, estranho, esquisito, inábil, limitado é aquele que diante de todas as possibilidades e lados opta por um apenas… para mim, sinistro mesmo é ver um lado só da vida.
*Helena Degreas é arquiteta e atua como professora do Programa de Mestrado Profissional em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano do FIAM-FAAM Centro Universitário. Leciona nas áreas de Design Universal e Planejamento Urbano.
Escritório Modelo: Acessibilidade Universal
Cursos: Design de Interiores, Arquitetura e Urbanismo
Tema: adaptação de um apartamento para um adolescente
Alunos:
Ana Verônica Cruz
Giovanna Galvão
Maiara Bicalho
Leonardo Mamede
Luana Souza Pereira
Luciana Ishu
Sabrina Archanjo Brasil
Simone Dias
Foto: Cibele Rossi de Almeida
Orientação: Profª Helena Degreas
Introdução
Quem não se lembra de como era bom sair correndo pelos corredores da casa e pular sobre a cama dos pais ou sobre os sofás da sala quando criança? Trazer amigos para dormir em casa, passar a noite inteira acordado assistindo TV, jogando games, conversando e fingindo que está dormindo quando os pais entram no quarto? Estas travessuras e outras tantas são rotina na vida de João (9 anos) e Pedro (12 anos), filhos de um casal jovem que como todos nós, tem uma agenda preenchida por trabalho, estudos, vida social intensa e diversos afazeres vinculados ao lar.
É neste ambiente que se desenvolve a proposta de redefinição dos layouts. Com a chegada da adolescência, novas demandas surgiram: os meninos que antes dormiam juntos terão doravante seus quartos individuais que devem oferecer um programa de atividades semelhantes, mas atendendo algumas especificidades: Pedro tem habilidades funcionais motoras reduzidas que, de tempos em tempos, variam entre o uso de cadeiras de rodas e andadores; recentemente, vem sendo estimulado a andar de forma autônoma sem o uso de tecnologias assistivas situação essa que lhe dará a liberdade de escolher para onde quer ir – andando ou correndo a seu modo. Embora ele apresente dificuldades para aprendizagem de conteúdos educacionais, sua habilidade visual é adequada, mas, como qualquer pré-adolescente, sua habilidade funcional auditiva é, na opinião dos pais, bastante “seletiva”.
Quarto do Pedro
quarto do Pedro
Partido
Todos os ambientes foram desenvolvidos para atender às linguagens estéticas e às necessidades sociais da família (recepção de amigos e parentes), bem como às orientações da TO – terapeuta ocupacional e do fisioterapeuta frente aos condicionantes espaciais necessários ao pleno desenvolvimento das habilidades de locomoção e compreensão do Pedro na sua nova fase de vida. A casa deve prover e colaborar no pleno desenvolvimento de autonomia na execução das atividades cotidianas domésticas que vão desde aos cuidados com sua higiene pessoal, alimentação bem como a execução de tarefas que são de sua responsabilidade como guarda de roupas e objetos pessoais, realização de tarefas da escola com acompanhamento eventual da TO, recepção de amigos nos finais de semana e algumas atividades de fisioterapia.
Cozinha Adaptada
Cozinha Adaptada
O layout foi desenvolvido para todos os ambientes da casa e alguns elementos foram incorporados visando à locomoção segura. A partir dos estudos de circulação (em pé, com auxílio de andadores ou em cadeira de rodas) e, atendendo às formas de uso dos ambientes pelos meninos, todos os vãos de portas e circulações apresentam 0.90m livres. Algumas paredes receberam a fixação de barras de apoio (corredores, salas de estar, jantar, TV, cozinha, banheiro) para que Pedro possa andar apoiando-se por toda a casa. Assentos da cozinha, salas de jantar, estar e home office (sofás, poltronas e cadeiras diversas) e banheiro são fixos e tem alturas que se adequam à transferências por cadeira de rodas.
No quarto de Pedro foram previstas as mesmas atividades de Marcelo com alguns diferenciais no mobiliário: a bancada de estudo é longa para comportar dois lugares (para ele e para a TO). Nela foi inserida uma prancheta com altura regulável revestida nas quatro laterais com material emborrachado e altura de 0,01m (evita a queda de cadernos e lápis quando inclinada); os gavetões com rodinhas ficam embaixo de uma das laterais da bancada e neles são colocados objetos e brinquedos. A frente é de acrílico transparente para que os objetos sejam facilmente identificáveis pelo menino. A cama é motorizada e biarticulada e sobre ela, no teto levemente rebaixado, foram embutidos dois spots que podem ser acionados para fins de leitura. Como Pedro adora desenhar, ao lado do armário e na parede foi colocada uma grande lousa branca com apoio para que ele fique em pé. Grande paixão do Rodrigo, a bicicleta adaptada juntamente com a cadeira de rodas que aos poucos ele vai largando, ficam pendurados na parede do quarto.
Banheiro adaptado dos meninos: Pedro e Marcelo
Lavabo adaptado
adaptação do banheiro dos meninos
O banheiro recebeu mais uma porta que se abre (com folha de correr) para o quarto facilitando o acesso durante a noite. A pia do banheiro e do lavabo tem alturas reguláveis associadas a um sifão flexível. Ao lado da banheira há um assento e apoios laterais retráteis que tem por objetivo facilitar a troca de roupas, como exemplo. As pias do lavabo (que foi colocada no hall de circulação da cozinha) e do banheiro tem barra de apoio na frente facilitando as atividades de higiene. Os pisos todos foram selecionados com materiais antiderrapantes e de fácil manutenção. Tapetes foram embutidos e fixados no chão evitando escorregamentos.
Não é muito do meu feitio, mas achei que seria importante postar algumas reflexões que fiz sobre algumas questões que permeiam meu cotidiano de aulas e que, de certa forma, foram objeto de entrevista de um jornalista, (cujo trabalho respeito e admiro muitíssimo) que escreve sobre o universo de pessoas com deficiências.
Logo “de cara”, ele afirmava que as pessoas estão “acostumadas” a determinadas arquiteturas sem pensar nas pessoas com deficiências que, por sua vez, passam despercebidas na sociedade. Logo depois, pedia para que eu discorresse sobre o assunto.
Como assim, estão “acostumadas”? Como assim, “despercebidas” por nós? Arquitetos? Desde quando?
Com o objetivo de responder de forma o “mais soft possível”, decidir “ir a fundo” no significado da palavrinha “acostumadas”. Isso significa que fui, de forma breve, contextualizar valores sociais vinculados às ações e comportamentos para com as pessoas que apresentam algum tipo de deficiência funcional.
Deixo aqui, parte do material que pesquisei. É uma forma de me colocar sobre o assunto e expor aos meus alunos o que penso.
Contextualização das questões
Antes de qualquer coisa, é importante lembrar que cada pessoa é reflexo do mundo onde se encontra. Materializamos em nossos pensamentos, em nosso jeito de ser, decisões, atitudes e comportamentos que refletem os valores inerentes ao local e à época em que vivemos. Podemos até não concordar, mas aprendemos a ser humanos junto com outros humanos.
A despeito do caráter ou do livre arbítrio, nossas decisões são pautadas pelas tradições e valores morais, intelectuais e até espirituais dos grupos dos quais fazemos parte. Se algo não está no nosso foco de atenção ou não é prioridade, ou não é, provavelmente, um problema direto que nos afete: isso quer dizer que não será sequer notado, pois não tem significado palpável, concreto nem para o indivíduo e nem para o grupo social predominante.
Somos sensibilizados apenas por aquilo que somos capazes de compreender como problema. Estamos imersos numa cultura, num contexto social.
Neste momento, faço uma nova pergunta: quando foi que a acessibilidade para pessoas com distintas características físicas (alta e baixa estatura, com obesidade mórbida ou anorexia, grávidas ou idosos) e também com deficiências funcionais ou estruturais do corpo (aquelas que limitam ou ainda restringem o desenvolvimento de atividades e a participação da pessoa) transformou-se em pauta que permeia as discussões contemporâneas brasileiras e mundiais? Porque isso aconteceu?
O final do século XX foi palco de um conjunto de ações sociais que levaram a mudanças de paradigmas e por conseqüência, revisão de várias posturas, conceitos e ideologias em especial ao que diz respeito às premissas do desenvolvimento:
Mudança na maneira de pensar sobre o desenvolvimento: economista e planejadores de desenvolvimento acreditavam que o crescimento econômico seria o princípio para a erradicação da pobreza mundial.
Primeiro porque com o crescimento das forças de mercado, haveria geração de empregos, salários, consumo, entre outros e a riqueza se distribuiria inevitavelmente.
Segundo porque os Estados, com maior arrecadação, iriam concentrar seus esforços no atendimento das necessidades básicas dos pobres ampliando seus benefícios;
Terceiro porque acreditava-se que o destino dos pobres não deveria ser a preocupação principal de mercado e governos pois, com o acúmulo do capital, e construção de infraestruturas associados à capacidade produtiva do mercado ocorreria naturalmente uma melhoria posterior na situação dos pobres.
O modelo do capitalismo pautado na eficiência, eficácia e geração de lucros não se mostrou suficiente para responder às desigualdades sociais. A revisão do modelo de desenvolvimento ocorre ao longo da década de 80.
O desenvolvimento deixa de ser um fim em si mesmo e passa a ser medido a partir do ser humano. Surge o conceito de desenvolvimento humano cujo enfoque pautava-se na melhoria das condições humanas.
A década de 90 presenciou a publicação do Relatório do Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. O desenvolvimento humano foi definido como um processo de ampliação das escolhas humanas, não limitado apenas a diferentes tipos de produtos como utensílios domésticos, roupas, etc., mas a escolhas mais importantes, tais como de empregos, educação e lazer.
O desenvolvimento humano tem por princípio a formação das potencialidades humanas, tais como saúde, conhecimento e habilidades, e o uso destas potencialidades pelas pessoas por meio de suas habilidades e vontades aplicadas em atividades políticas, sociais ou de lazer como exemplos. Questões associadas aos direitos civis, políticos e equidade, permeiam todos esses fatores. Para que o desenvolvimento humano possa ocorrer é preciso associar fatores tais como crescimento econômico, desenvolvimento de recursos humanos, direitos humanos, paz e segurança além de sustentabilidade.
– A partir da nova premissa, o Desenvolvimento Humano cria a demanda por equidade, ou ainda, a busca por justiça e igualdade a partir de critérios que levam em conta os valores morais vigentes, o regime político e os princípios gerais do Direito de cada país.
– A disseminação da informação, agora mais rápida e abrangente, facilitou a disseminação de conteúdos globais no âmbito dos direitos humanos e cidadania.
– A maior mudança social ainda na década de 80 foi a revisão do conceito de cidadania que passa a reivindicar não apenas o direito á habitação, saúde, trabalho, lazer, etc., como também direitos políticos e o direito da autorrealização, incluindo nos debates contemporâneos questões ligadas aos direitos sociais.
– Mudaram também os agentes sociais. Se até pouco tempo as decisões públicas e de cidadania eram tomadas pelos governos e Estados, verdadeiros monopólios, hoje essas mesmas decisões são compartilhadas com novos agentes oriundos do terceiro setor (sociedade civil organizada) a partir de um exercício coletivo, disperso, fragmentado com ideais muitas vezes difíceis de serem alcançados. Trata-se de uma construção social ampla, cuja necessidade do diálogo, da tolerância, do respeito às diferenças tornam-se mais imperativas, buscando mitigar possíveis efeitos adversos a determinados grupos, mas com soluções cada vez mais consensuais e democráticas.
A pessoa com deficiência: uma contextualização necessária das problemáticas que envolvem o tema
É nesse contexto, na busca pela autorrealização e também dos direitos políticos, civis, é que se expressam as várias minorias não atendidas em suas necessidades nem pelos Governos e Estados (primeiro setor) e nem pelos mercados (serviços, comércios, indústrias, agriculturas, etc.): surgem como novos agentes sociais, as pessoas com deficiência que, organizados em ONGs, institutos, fundações, etc., buscam a equidade lutando por seus direitos civis e sociais.
Ações pontuais para atendimento das pessoas com deficiência sempre ocorreram de forma fragmentada até praticamente o final do século XX. As décadas de 70 e 80 presenciaram a mudança no entendimento social e no tratamento das pessoas com deficiência. Num primeiro momento, a sociedade associava os conceitos de deficiência e doença como se fossem sinônimos.
A própria OMS – Organização Mundial da Saúde, com o objetivo de conhecer mais sobre as conseqüências das doenças publicou em meados da década de 70 a Classificação Internacional de Deficiências,Incapacidades e Desvantagens (CIDID), título este que carrega uma conotação negativa. Paralelamente a esta fase, a visão assistencialista de conotação religiosa gerava sentimentos os mais diversos nas pessoas: as ações vinculadas à caridade eram alimentadas predominantemente pelos sentimentos de piedade e dó.
Mais recentemente, a OMS revisou vários dos conceitos da CID substituindo-a pela CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade. Nela, a incapacidade e a deficiência são avaliadas a partir do contexto ambiental onde as pessoas vivem. Significa que um local de vida pode, a partir das suas características físicas, por exemplo, impor limitações ou restrições a usuários com algum tipo de deficiência estrutural ou funcional do corpo interferindo na qualidade de vida e no relacionamento social do indivíduo. Arquitetura deficiente, como diria minha querida Thais Frota.
Questões e problemáticas vinculadas à pessoa com deficiência passaram a incorporar a agenda de discussões sociais há poucas décadas, embora ações pontuais tivessem permeado todo o século XX tanto no Brasil como no mundo. De maneira mais sistemática e no bojo de reivindicações por uma cidadania mais ampla para além do atendimento das necessidades básicas, vários grupos sociais não atendidos pelas políticas públicas dos Governos e do mercado, fizeram-se agentes de sua própria mudança buscando a equidade, lutando por seus direitos civis e sociais.
Muito se fala da falta de “sensibilidade” dos diversos segmentos sociais para as causas que envolvem pessoas com deficiência. Causas mais do que justas e cujo atendimento é premente, pois afetam diretamente a autorrealização, o desenvolvimento de atividades cotidianas de vida e a participação social do indivíduo.
Mudanças de comportamentos sociais, de atitudes e mentalidades construídas culturalmente ao longo de várias gerações, demandam educação e, portanto, tempo para sua compreensão, assimilação e conseqüente geração de mudanças.
A inclusão hoje encontra-se no âmbito dos direitos civis e da cidadania. Com a revisão do conceito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), a deficiência sai da Classificação Internacional de Deficiências,Incapacidades e Desvantagens e vai para a Classificação Internacional de Funcionalidade. Nessa nova classificação, a incapacidade e a deficiência são avaliadas a partir do contexto ambiental onde as pessoas vivem. Significa que um local de vida pode, a partir das suas características físicas, por exemplo, impor limitações ou restrições a usuários com algum tipo de deficiência estrutural ou funcional do corpo interferindo na qualidade de vida e no relacionamento social do indivíduo.
Todo este quadro aponta para a necessidade de adaptação mas abrangente.
Se Governos, mercados e sociedade precisam de tempo para assimilação dos direitos civis e políticos da pessoa com deficiência, nossas arquiteturas também precisam de tempo (edificações e espaços anteriormente construídos) para passar por adaptações para novas e tão necessárias demandas dos novos agentes, cidadãos conscientes de seus direitos sociais.
O espaço físico é apenas um dos ítens que deve ser tratado, como exposto anteriormente.
Apesar do senso comum contemporâneo apontar arquitetos e demais profissionais da construção civil como vilões da acessibilidade, podemos afirmar que que a responsabilidade pelo situação que hoje encontramos encontra-se compatilhada em diversos agentes e setores.
Todos os projetos para edificações, atendem obrigatoriamente a normas, códigos e legislações edilícias, padrões de ocupação e construção previstos em legislações urbanístcas, normas de segurança contra incêndios, além de responder conceitual e espacialmente à demanda do contratante seja ele instituição pública ou privada das épocas em que foram projetados e construídos. Projetamos sonhos, é bem verdade.
Arquiteturas belíssimas… mas sem o atendimento às leis , normas e códigos nenhuma edificação tem a autorização de funcionamento chancelada pela fiscalização pública responsável.
Deixo disponível o artigo da jornalista Juliana Reis (editora da Revista Incluir) veiculada nos meses de maio/junho de 2011 para estudo complementar dos conteúdos veiculados às disciplinas de Acessibilidade, Introdução ao Paisagismo e também aos alunos do escritório modelo (presencial e digital).
MACEDO, S. S. ; GALENDER, F. ; DEGREAS, H. ; COSSIA, D. ; CAMPOS, A. c. de A. ; AKAMINE, R. . Oficinas de Trabalho como instrumento de pesquisa e aprendizado. In: ENEPEA, 2008, Curitiba – PR. ENEPEA 2008.
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
QUAPÁ SEL – Núcleo São Paulo
Rua do Lago, 876.
São Paulo SP
CEP 05508-080
Endereço eletrônico: quapaselsp@gmail.com
Resumo
O presente texto procura apresentar a oficinas realizadas pela pesquisa “O Sistema de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública Contemporânea no Brasil”, ora em andamento no Laboratório da Paisagem / Projeto Quadro do Paisagismo no Brasil, da FAUUSP, com apoio da FAPESP.
Aborda-se este processo de trabalho e as reflexões iniciais sobre a sua contribuição para a pesquisa, tendo como base seis oficinas já realizadas a partir de 2007.
Abstract
The present paper intends to present the workshops that have been held by the research “The system of open spaces and the constitution of the contemporary public life in Brazil”, which has been carried out in the Laboratório da Paisagem / Quadro do Paisagismo no Brasil – FAUUSP and supported by FAPESP.
It is about the work process and the initial reflections on their contributions for the research, regarding six workshops that have been already done since 2007.
A opção por realização de oficinas nas diferentes cidades envolvidas na rede de pesquisa “O Sistema de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública Contemporânea no Brasil” parte do envolvimento de parceiros na área acadêmica na revisão de fundamentos e premissas voltados para a conceituação do sistema de espaços livres de cada cidade pesquisada, com vistas à formação de uma base de conhecimento da realidade brasileira, analisando seu processo de formação, sua diversidade e semelhanças.
Partindo da adaptação da expressão inglesa workshop, caracterizamos tais eventos pela realização de atividades de caráter intensivo, compartilhando experiências concretas, que vem permitindo a reflexão sobre as diferentes hipóteses e pressupostos contidos nos objetivos da pesquisa. A primeira oficina foi realizada na cidade paulista de Sorocaba, em outubro de 2007, já tendo sido realizadas outras em Maceió, Vitória, Campinas, Belo Horizonte e Curitiba.
O formato estabelecido tem sua origem na experiência do Prof. Silvio Soares Macedo no Projeto Orla, elaborado a partir de solicitação do Ministério do Meio Ambiente em 2002. Como assessor deste órgão, ele propôs a realização de discussões com agentes locais que, por conhecerem as características particulares de cada localidade, muitas vezes, empiricamente, a partir de uma vivência cotidiana, puderam fornecer subsídios para um diagnóstico-síntese de cada realidade.
Também a prática de “charretes”, definida como uma atividade didática voltada para a imersão projetual, visando a elaboração de respostas para um dado problema em um curto espaço de tempo, foi um elemento inspirador para o segundo dia de atividades. As “charretes” têm sido bastante aplicadas como método de trabalho em diversas escolas de arquitetura de outros países, já sendo, inclusive, adotada como processo de ensino, sobretudo no Programa de Pós-graduação da FAUUSP.
No primeiro dia, conta-se a participação dos agentes envolvidos na definição, implantação e gestão dos espaços livres urbanos, tanto no âmbito público como privado. Secretárias estaduais e municipais, órgãos federais, empresas de grande porte com significativa participação no desenvolvimento da cidade, companhias de água e saneamento, empresas ligadas ao mercado imobiliário e de turismo, população organizada (ONGs, Associações de Moradores, etc) são protagonistas, juntamente com a Universidade na participação das apresentações realizadas no primeiro dia das oficinas e nas discussões e proposições do dia posterior. A riqueza desta troca de informações, posturas e intenções, que se encontra fragmentada em seus locais de origem, tem-se mostrado bastante eficaz, uma vez que estas se revelam e são partilhadas pelo grupo em sua totalidade.
A oficina permite a caracterização do espaço livre urbano daquele município e/ou região metropolitana, partindo da discussão sobre as bases da constituição do sistema de espaços livres identificado, as suas especificidades e particularidades, seus critérios de distribuição e sua articulação com o tecido urbano, face às tendências do crescimento urbano, às características do suporte físico e à natureza do vínculo que estabelece com o usuário.
A dinâmica envolve, além da exposição de conhecimentos específicos, a análise e o diagnóstico preliminar, advindo desta caracterização elaborada por atores com atuação efetiva naquela situação, contribuindo na identificação de conflitos e potencialidades que o contexto apresenta.
Paralelamente ao processo de realização das oficinas, iniciam-se os estudos sobre o papel da legislação local na constituição dos espaços livres urbanos públicos e privados, a revisão acerca da nomenclatura própria da área utilizada por técnicos, estudiosos e legisladores, sobretudo no âmbito público, provocando conflitos no entendimento mais aprofundado da questão dos espaços livres na constituição da paisagem urbana.
Três relatos são apresentados logo após a redação das Conclusões, de modo a apresentar nossa sistemática de trabalho. Foram selecionadas as oficinas de Maceió, Vitória e Belo Horizonte, devido à suas particularidades regionais; suas dinâmicas específicas, oriundas das características dos participantes e sua evolução urbana.
Conclusões
O numero de oficinas realizadas já nos permite iniciar a reflexão para o desenvolvimento de uma metodologia de avaliação da lógica dos diferentes sistemas de espaços livres urbanos, identificando pontos comuns e pontos específicos de cada situação urbana. Tal trabalho, ora em andamento pela equipe de Coordenação Nacional, é também acompanhado pelo trabalho de simulação gráfica da legislação específica dos municípios selecionados e pela elaboração de mapas de verticalização x espaços livres, sistema viário, uso e ocupação do solo, confronto com dados censitários das áreas em estudo, entre outros.
Como aspectos positivos, identificamos:
– a observância em planos diretores de princípios ambientalistas que influenciam a geração de espaços livres de portes diversos, associados a conservação de recursos naturais.
– a instituição das áreas de proteção ambiental urbanas como um fato ser concretizado
– o aumento das ações que envolvem a conservação de recursos ambientais, como manguezais e florestas urbanas.
– produção crescente de novos parques e orlas tratadas.
– a constituição de uma série de parques lineares.
– a consolidação da praça esportiva.
– proteção efetiva de áreas de várzea e corpos d’água.
– a efetivação da ciclovia como um canal de transito, mas também como um espaço de recreação da população.
– a criação dos primeiros sistemas integrados de parques.
– investimentos públicos de porte para a recuperação de áreas reservadas para a construção de parques e invadidas pela população, em especial aquelas situadas as margens de rios.
– valorização crescente nos códigos de ao menos parte das cidades do papel do espaço livre no âmbito privado, com o conseqüente aumento de prescrições para concretizar sua existência.
Apesar de esses itens todos refletirem um aumento da importância dada pelo Poder Público aos espaços livres, ainda são muitos os fatores que impedem o atendimento das demandas urbanas para tal tipo de espaços.
A título de constatação geral inicial podemos afirmar que as variações que sofrem as estruturas administrativas locais no que tange à produção e gestão dos espaços livres urbanos na cidade brasileira, é evidente a sobreposição de ações no que se refere à sua implantação, desenho e manutenção, além, da descontinuidade em sua linha de planejamento, dada a constante interrupção das atividades e os redirecionamentos políticos, nem sempre tecnicamente bem amparados.
Constatamos ainda:
– falta crônica de recursos para a implementação de novos logradouros.
– falta de recursos e equipes de manutenção e gestão.
– dispersão de responsabilidades, recursos e ações entre departamentos e secretarias municipais responsáveis pela produção e gestão de espaços livres públicos.
– políticas equivocadas a respeito, que de fato não atendem as demandas do todo da população.
– despreparo de equipes técnicas tanto para o planejamento, como para o projeto de espaços públicos. Existe de fato uma confusão de prioridades para o atendimento das demandas, que em grande parte dependem de oportunidades e programas políticos para sua implementação.
– ausência real de entendimento técnico e político de se tratar os espaços livres públicos em especial aqueles dedicados a conservação e recreação como partes de um sistema e o seu alto interesse por parte da população.
Concomitantemente à realização de novas oficinas, estamos iniciando a etapa de balanço das já realizadas em parceria com as equipes locais que, após cada evento, passam a se articular efetivamente como um núcleo local, dando prosseguimento ao trabalho proposto. Ainda percebemos a necessidade de estreitamento destes vínculos, por meio da criação de instrumentos que dêem continuidade ao processo iniciado, produzindo desdobramentos concretos, com a troca de produtos entre a pesquisa de âmbito local e a de escala nacional.
Os resultados das oficinas são heterogêneos, em parte devido às dificuldades locais de envolvimento dos parceiros, infra-estrutura de apoio das instituições de ensino, dificuldades internas de formação dos núcleos (estabelecimento de prioridades na eleição de temas pelos departamentos, lentidão de fornecimento de subvenção das agencias de fomento a pesquisa locais, etc.).
Podemos destacar o caso de Sorocaba, que apesar do envolvimento com uma Universidade local (UNIP), a atuação conjunta esta se dando mais solidamente através do Núcleo de Planejamento da Prefeitura Municipal (NUPLAN), tendo sido celebrado um Termo de Cooperação Técnica entre a FAUUSP e a Prefeitura Municipal de Sorocaba, após a realização da oficina. Os trabalhos recém se iniciam e estão voltados para a elaboração de um Plano Diretor para os espaços livres daquela cidade.
As oficinas: Belo Horizonte, Vítória e Maceió.
Os textos a seguir foram extraídos do relatório encaminhado à FAPESP em 2007 e adaptados à apresentação do presente artigo.
Oficina de Trabalho em Belo Horizonte MG
Dias 03 e 06 de junho de 2008
Local: Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (EAU-UFMG)
Participantes Núcleo QUAPÁ-SEL São Paulo:
Prof. Dr. Eugênio Fernandes Queiroga, ; Profa. Dra. Helena N. Degreas, Profa. Dra. Vanderli Custódio, Arq. Fany Galender, Arq. Denis Cossia Graduando Alexander Villalon.
03.06.2008
Dia destinado a realização de visitas técnicas aéreas e terrestres que objetivam o reconhecimento da cidade de Belo Horizonte, possibilitando a observação e registro em imagens dos diferentes tecidos urbanos e das tipologias dos espaços livres urbanos significativos das principais localidades que compõem sua região metropolitana.
Os percursos foram realizados em circuitos previamente estabelecidos com os parceiros locais, que participaram tanto do sobrevôo, como das visitas terrestres. A equipe de terra visitou a áreas planejadas, diversas praças, destacando-se o Parque Municipal e a Barragem de Santa Luzia. Nesses locais, foram observados e descritos por meio de fotos, texto, e a relação de equipamentos, manutenção e uso social dos espaços.
04.06.2008
Abertura: recepção e apresentação dos convidados e participantes no Auditório da EAUUFMG
Prof. Dr. . Eustáquio (Diretor da EAUUFMG);Profª Drª Marieta Cardoso Maciel (EAUUFMG), Profª Drª Stael Alvarenga Pereira Costa (EAUUFMG), Profª DrªLúcia Capanema Álvares (EAUUFMG), Profª Drª Maria Cristina Villefort Teixeira (EAUUFMG)
Apresentação 01
Os Sistemas de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública Contemporânea no Brasil: um processo de investigação nacional
Prof. Dr. Eugênio Queiroga / FAUUSP – Coord. nacional da Pesquisa QUAPÁ SEL, Profª Fanny Galender / FAUUSP – grupo da Pesquisa Quapa SEL Núcleo São Paulo
Foram apresentados os objetivos da pesquisa QUAPA SEL Nacional destacando sua história, objetivos e os procedimentos de trabalho adotados na realização das oficinas com alguns resultados parciais.
A abordagem dos Espaços Livres de Edificação enfatizou a visão sistêmica e a relação dos espaços privados e dos espaços públicos descrevendo morfológica, cultural, ambiental e funcionalmente vários exemplos advindos das diversas oficinas já realizadas. Dentre os objetivos, os palestrantes destacaram que a pesquisa em rede objetiva investigar: o SEL das cidades brasileiras, o SEL como representante de uma cultura urbana, o vínculo entre espaços livres e vida pública, a estruturação urbana das cidades brasileiras, as iniciativas da população, instituições e empresas na qualificação e requalificação dos espaços livres nas cidades brasileiras; os valores dominantes sobre os ELS, a contribuição dos espaços livres para a constituição de princípios públicos gerais de políticas públicas em toda realidade observada, esperando-se construir um referencial teórico que permita a interpretação e divulgação dos estudos.
Apresentação 02
O Ambiente e a Gestão de Espaços Públicos em Belo Horizonte: Áreas
Verdes e Arborização
Arq. Márcia Mourão Parreira do Amaral – Gerente da Gestão Ambiental
Secretaria Municipal Adjunta de Meio Ambiente (SMAMA).
A palestrante inicia sua fala a partir da descrição do zoneamento realizado
em BH e o papel do poder público na fiscalização, gestão e manutenção
dos espaços públicos, descrevendo os resultados do trabalho conjunto com a
população na decisão sobre uso e preservação dessas áreas.
Das políticas em andamento, a palestrante destacou cinco programas: 1) conhecimento das 701 praças e dos 57 parques da cidade; 2) criação de um banco de dados de áreas verdes, identificando as abandonadas, conhecimento do entorno e definição de funções. 3) viabilização da troca de uso de áreas públicas. 4)atendimento aos pedidos locais como áreas para caminhada e pista de skate; 5) arborização de logradouros públicos. Destaca e descreve o Programa BH Verde onde se trabalha com a permuta de áreas entre secretarias.
Apresentação 03
Programa de Recuperação Ambiental de BH.
Eng. Janice Shimid de Novaes (Engenheira de Obras da SUDECAP- DRENURB)
A engenheira descreve algumas características físicas e sociais da região metropolitana de BH destacando o tratamento da hidrografia urbana por meio do plano Diretor de Drenagem (DRENUBS) que é parte integrante do plano Diretor municipal. Descreve o método de trabalho, o projeto (terceirizado) destaca as principais obras e dedica o sucesso da intervenção à continuidade política municipal. As intervenções contam com aporte financeiro do BID.
Apresentação 04
Espaços Públicos nos Assentamentos existentes (PBH): Programa Vila Viva.
Arq. Maria Cristina Fonseca de Magalhães
Atuação em áreas de grande fragilidade social com o objetivo de recuperar e integrar assentamento adotando o conceito de “intervenção estruturante”, e estabelecendo ações por eixos: Eixo Urbanístico Ambiental, Eixo Sistemático Habitacional; Eixo Regularização Fundiária. Cita o Caso do Aglomerado da Serra, descrevendo o plano, o processo de projeto e construção, destacando a participação dos moradores na gestão dos espaços semi-público e o excelente relacionamento da comunidade com o poder público. Caso da Flor de Maio: área de risco onde se realizou tratamento de uma encosta. Caso Núcleo Habitacional São João: onde se efetuou tratamento de espaços livres públicos gerados nos conjuntos habitacionais com participação da população no plantio de mudas e manutenção e a organização de um conselho gestor colegiado: poder publico e comunidade (exigência do licenciamento).
Apresentação 5
Movimentos Populares/Organizações Sociais. Associações de Moradores
Sra. Edna Barbosa (AMA Cidadania)
A palestrante descreve sua experiência na Vila Novo Ouro Preto (Pampulha) descrevendo a situação dos córregos cheios de lixo e encostas perigosas associando a atuação conjunta ao poder público. Ela descreve que a atuação conjunta evita depredações propositais do povo e declara a todos os presentes que o poder emana do povo e que, na qualidade de pagantes de impostos, os moradores da favela precisam participar e reivindicar. Exemplifica que a associação evita o uso de conceitos como elitismo e paternalismo exemplificando com o relato de uma antiga área de lixão a céu aberto transformada em parque linear, sonho da comunidade. A operacionalização tanto do projeto quanto à organização da comunidade se deve à orinetação dada por alunos e professores da escola de arquitetura da UFMG. Ainda de acordo coma palestrante, o Movimento de Cidadania Pelas Águas lutou e conseguiu só umas pedrinhas, mas o povo é governo e, como eles moravam sobre as nascentes com lixo e esgoto produzidos também por eles produzido, então eram eles que tinham que se organizar e reivindicar.
Apresentação 6
Pró Civitas
Srª Juliana Renault
Representante de dois bairros também na Pampulha, trabalha com várias associações de bairros (Bandeirantes, Pampulha e outras) e considera que na cidade os problemas são muito parecidos, seja na favela ou nas áreas ricas. Cita vários exemplos de conflitos vinculados a comportamentos públicos e necessidades da população enfatizando que a falta de capacidade de gestão e manutenção pública do espaço é um dos principais motivos desses conflitos.
Cita cinco reivindicações da associação por ela presidida quanto à manutenção, reformas e projetos de espaços livres públicos. Reitera que as demandas levadas ao poder público não são atendidas e que cabe à população reivindicar e fazer-se ouvir.
Apresentação 7
CREA/Sindicato dos Arquitetos/ Instituição de Ensino.
Arq. Eduardo Fajardo Soares (SINARQ)
O palestrante discorreu sobre a atuação do sindicato nas questões vinculadas aos conflitos entre interesses públicos e poder público. Dentre os vários conflitos exemplificados, destacaram-se a Praça da Liberdade e arredores, o Centro de Referência do Professor, entre outros.
DEBATE
O debate versou sobre vários assuntos destacando-se o Projeto Vila Viva e as
alterações de residências para apartamentos, dimensões mínimas e seu custo;
sobre forma de cálculo do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) nos parques implantados.
Apresentação 8
Observatório de Conflitos Urbanos de BH.
Prof.ª Dra. Lúcia Capanema Álvares da Coordenação Local (EAUUFMG)
Para a viabilização do início da proposta de pesquisa SEL BH optou-se pelo uso de recursos da disciplina de paisagismo da EAUFMG (e posteriormente uma disciplina da área de Turismo) cuja área de intervenção foi uma favela, contando com a colaboração da URBEL e dos moradores para a elaboração do projeto de paisagismo. Formalizado o vínculo com o Observatório de Conflitos Urbanos do IPPUR do Rio de Janeiro constituiu-se o Núcleo SEL-BH que passou a monitorar e mapear todo tipo de manifestações coletivas ocorridas nos espaços públicos repercutidas mas principais mídias impressas e televisivas registradas nos conselhos municipais.
Apresentação 9
Trabalhos da UFMG. TGI sob orientação da Profa. Marieta Cardoso Maciel da Coordenação Local (EAU – UFMG)
Aline Ramos
TFG: Intervenção Parque Albergue Castello Branco – o trabalho apresenta o levantamento, análise e diagnóstico da região escolhida para intervenção, situada junto ao Elevado Castello Branco. É proposta a implantação de um parque linear e de um albergue para a população moradora da área.
Aline Betat
TFG: Proposta de Implantação de um Parque Urbanoem Lagoa Santa/MG com a apresentação de um breve histórico e características da cidade. A gênese do projeto vem da participação da aluna nas reuniões do plano diretor da cidade, quando percebeu as demandas da população local.
3º dia
Data: 05.06.2008
A Oficina
A oficina de BH aconteceu na EAUUFMG e contou com a participação de 19 integrantes vinculados a área de graduação e alguns professores predominantemente vinculados à escola anfitriã.
Foram organizadas duas equipes compostas por com professores e alunos. Diferentemente das demais oficinas, os trabalhos foram iniciados com a discussão e fechamento das apresentações dos palestrantes feitas no dia anterior.
Terceiro dia de trabalho da Oficina de Belo Horizonte
Oficina de Trabalho em Maceió / AL
Dias 02, 03 e 04 de dezembro de 2007
Local: Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
Participantes Núcleo QUAPÁ-SEL São Paulo:
Prof. Dr. Sílvio Soares Macedo (FAUUSP), responsável geral pelo Projeto QUAPÁ-SEL, o Prof. Dr. Jonathas Magalhães Pereira da Silva (Univ. Anhembi-Morumbi), a Profa. Dra. Vanderli Custódio (IEB/USP – Área de Geografia), Denis Cossia (Arqto. Quapá-FAUUSP) e Gustavo Meirelles (discente FAUUSP).
Núcleo Maceió: coordenação de Prof. Dr. Geraldo Majela Gaudêncio (FAU-UFAL)
02.12.2007
Um dia antes do início do evento, o Professor Sílvio Macedo, Denis e Gustavo realizaram um sobrevôo sobre a cidade de Maceió com o intuito de obter fotos aéreas atualizadas sobre as quais poderíamos trabalhar nos dias subseqüentes. Elas compõem um banco de imagens do Projeto QUAPÁ-SEL Nacional, bem como já estão disponibilizadas para o Núcleo Maceió e todos os participantes do evento. O grupo de São Paulo, assessorado pelo Prof. Dr. Geraldo Majela, realizou reconhecimento da cidade, percorrendo-a de carro: as áreas de favela, as industriais, as de casario tradicional, o centro comercial, histórico, os mirantes e a orla marítima.
03.12.2007
No primeiro dia, reservado a exposições sobre a cidade, a Oficina contou com cerca de 30 pessoas entre técnicos e acadêmicos, em sua maioria arquitetos de formação, mas também geólogos e geógrafos, provenientes de órgãos públicos municipais, estaduais e mesmo federais. Cabe destacar os participantes da Secretaria Municipal de Planejamento de Maceió, do Patrimônio da União (Marinha), do IBAMA, das Prefeituras de Arapiraca e Palmeira dos Índios, do órgão de Unidades de Conservação do Estado de Alagoas, muitos pós-graduandos de mestrado e doutorado, bem como professores do Grupo de Estudos de Morfologia dos Espaços Públicos, da Faculdade de Arquitetura, coordenado pelo Prof. Dr. Geraldo Majela.
Pela manhã, o Professor Sílvio Macedo apresentou os objetivos do Projeto QUAPÁ-SEL Nacional e da Oficina. O Professor Majela expôs como se deu a organização e engajamento do Núcleo Maceió no projeto e apresentou cronograma dos trabalhos.
Deste dia, destacam-se as exposições do representante do Patrimônio da União (Terrenos da Marinha), por conta do desconhecimento que tínhamos (técnicos e acadêmicos) dos objetivos e das formas de atuação do órgão; e da representante da Prefeitura Municipal que detalhou o Plano Diretor.
Dessas exposições registramos que o território de Maceió é de 513,55 km2, sendo 191,79 km2 de área urbana, ou seja, 37 %. O restante é constituído por três unidades de conservação em torno da área urbana, área rural composta por grandes propriedades de cultivo de cana-de-açúcar – cultura que caracteriza o Estado de Alagoas. Os 800 mil habitantes se dividem entre o tabuleiro, constituído por um extenso conjunto de grotas, alguns núcleos ao longo dos 40 kmde orla marítima e a Lagoa Mundaú. Conjuntos habitacionais construídos pelo poder público constam aqui e ali na paisagem urbana, sobretudo do tabuleiro; as favelas, destacando a denominada Sururu de Capote, se encontram ao longo do trecho urbano da Lagoa Mundaú e apresentam muita precariedade nas construções de madeira e plástico. Moradias precárias também são encontradas ao longo do Córrego Reginaldo que nasce no tabuleiro e deságua na orla, com o nome de Salgadinho. Na orla sul está a grande indústria química Brasken, o histórico e reformado bairro Jaraguá, o Porto de Maceió, as praias de Pajuçara e Ponta Verde com adensamento vertical destinado à moradia das classes altas e aos hotéis para os turistas, com quiosques de praia com serviços de alimentação. Na orla norte há moradias horizontais de classes médias e altas e no extremo norte, há pouca ocupação, mas projetos de construção de resorts e outros tipos de infra-estrutura de grande porte para fins turísticos. (ANEXO 2)
Ressalta-se a importância de projetos federais diversos e dos serviços públicos, em geral, bem como a atividade de construção civil, na oferta de empregos urbanos. A cultura da cana, mesmo com colheita manual, não utiliza a mão-de-obra urbana excedente, pois os donos de usinas e plantações preferem contratar os sertanejos e não os desempregados da cidade: cortam mais toneladas/cana por dia.
A proposta básica do Plano Diretor de Maceió, no que diz respeito aos espaços livres, é a descentralização das áreas de lazer de forma a evitar o deslocamento da população para o Centro da cidade e orla em busca de lazer e recreação. Priorizam-se calçadões, praças, ciclovias, mirantes, corredores culturais e similares. A cidade não tem tradição no uso de parques.
No período da tarde foram apresentados trabalhos de investigação de mestrado e doutorado, em andamento e concluídos, sobre diversos aspectos do tema Sistema de Espaços Livres Urbanos, orientados pelo Prof. Dr. Geraldo Majela. Alguns mais específicos outros nem tanto, mas todos de interesse. Destacou-se o trabalho em andamento de Nelcy M. Santos (Deha/Ufal) sobre “Os campos de pelada e a dinâmica do sistema de espaços livres em Maceió”. Segundo a autora, existiriam mais de 480 campos de pelada em Maceió; e o trabalho das profas. Regina Lins e Veronica Robalinho (Nest/Ufal), sobre “Pesquisa sobre Vazios Urbanos em Maceió”, com elaborado nível teórico.
Tanto de manhã quanto de tarde, os debates foram “acalorados” e muitas dúvidas entre acadêmicos e técnicos foram esclarecidas. Sentimos a ausência de representantes de movimentos sociais e organizações não governamentais (ONGs) com interesse em discutir questões urbanas relacionadas ao tema.
O que se pôde observar/concluir no primeiro dia foi a preocupação recorrente sobre como desenvolver o turismo em Maceió, sobretudo na orla marítima, sem causar problemas ambientais.
No segundo dia, reservado para os trabalhos em grupo sobre carta do município, o Professor Jonathas Magalhães elaborou a síntese das exposições do dia anterior, na forma do esquema abaixo:
Ou seja, a Percepção individual das diferentes Unidades de Paisagem é construída por Valores contraditórios de diferentes grupos sociais. Esses valores irão definir o Uso e Ocupação do território na medida em que os diferentes grupos são incluídos na discussão Ambiental. A maior tensão operacional, do Sistema de Áreas Livres, é revelada pela Demanda social de espaços livres de edificação de modo a promover a qualidade da área urbanizada. Acredita-se que um bom encaminhamento dessas questões reside na Inclusão de diferentes grupos sociais estabelecendo-se as prioridades e definindo as formas de NÃO Ocupação dessas áreas e sua forma de Gestão.
As apresentações feitas até aquele momento mencionaram, de certa forma, os pontos explicitados pelo gráfico, entretanto percebeu-se que as discussões realizadas no dia anterior não conseguiram promover uma visão dos diversos aspectos necessários para a avaliação ou estudo de um sistema de espaços livres. A intenção, ao se apresentar o gráfico acima, foi resgatar as diversas falas procurando estabelecer as conexões existentes e sugerir uma complementaridade.
Neste dia o número de participantes da área técnica foi menor, por conta das demandas da função ou cargo de cada um, mesmo assim, pela manhã foi possível formar cinco grupos mistos (técnicos e acadêmicos), com 4 ou 5 pessoas e alocá-los para a discussão dos seguintes temas:
Paisagens, ecossistemas e conservação;
Ações turísticas;
Mercado imobiliário: vetores de expansão e habitação;
Praças e parques: sistema de espaços livres públicos;
Tipos de tecido urbano: sistema de espaços livres privados.
A proposta visava a elaboração de um diagnóstico temático sobre Maceió, preenchendo os seguintes itens: a) caracterização; b) conflitos; e c) potenciais.
Sobre uma carta colorida de 1:35.000 os grupos trabalharam até às 13h. No meio da tarde chegaram dois representantes do Movimento Terra e Liberdade (MTL), defensor da propriedade da terra urbana e rural para os pobres. Na apresentação informaram a existência de 4.500 famílias sem terra em Alagoas, expulsas pela concentração fundiária em prol da monocultura canavieira. Na cidade, muitas dessas famílias não têm moradia nem emprego. Neste sentido o Movimento luta pela participação nos programas públicos destinados à construção de moradias urbanas e à criação de áreas e galpões cooperativos onde se possa produzir e comerciar hortifrutigranjeiros e artesanato. Por conta de compromissos anteriormente assumidos pelos expositores, não houve debate.
Findos os trabalhos com a carta, cada grupo apresentou a síntese temática e o Professor Sílvio Macedo elaborou a síntese geral sobre Maceió: a) a cidade possui muitos espaços livres urbanos por todos os tipos de tecido; b) há um excesso de planos para a orla, mas quase nada para o restante da cidade; c) falta um projeto de cidade. O Professor Jonathas Magalhães ressaltou a importância da atuação política do arquiteto para a inclusão de demandas populares nos projetos públicos. A Professora Vanderli Custódio alertou para o fato de que metodologicamente,em Geografia Urbana, não se estuda uma cidade sem considerar o contexto regional, ou seja, a rede urbana a qual ela pertence e o contexto nacional, o do processo de geral de urbanização, como parecia estar sendo feitoem Maceió. Somentequando indagados os grupos mencionaram aspectos da relação de Maceió com a sua região metropolitana. Ressaltou que a cidade é constituída, em sua maioria, por pessoas pobres e que suas demandas precisam ser consideradas nos projetos urbanos concebidos pelos órgãos públicos.
Como balanço geral da Oficina, o Núcleo São Paulo concluiu que:
1) guardadas as peculiaridades históricas, geográficas e paisagísticas, o caso de Maceió é semelhante ao de Sorocaba – SP, no sentido da cidade ser possuidora de um “estoque” significativo de espaços livres urbanos;
2) a Oficina foi muito bem organizada;
3) o trabalho em grupo por temas, sobre carta da cidade inteira, foi muito mais proveitoso para o conhecimento da realidade urbana do município, do que cada grupo tratar de todos os temas sobre cartas regionais da cidade;
4) o conhecimento do Brasil, por parte dos pesquisadores do Eixo Sul-Sudeste do País, requer se desloquem, requer pesquisas in loco;
5) os ganhos, no sentido das discussões realizadas (o encontro entre acadêmicos, técnicos, ONGs, outros representantes da sociedade civil e setores econômicos com interesses urbanos), e dos materiais produzidos (fotos aéreas), são recíprocos: tanto para os Núcleos QUAPÁ-SEL locais como para a coordenação nacional.
Apoios: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Mestrado em Dinâmicas do Espaço Habitado (DEHA)
Oficina de Trabalho em Vitória / ES
Dias 19 e 20 de fevereiro de 2008
Local: Auditório do Centro de Artes UFES
Participantes Núcleo QUAPÁ-SEL São Paulo:
Prof. Dr. Silvio Soares Macedo; Profa. Dra. Helena Degreas; Arq. Fany Galender; Arq. Marcos Fernandes C. Rios; Graduando FAUUSP Marco André C. Salles
18.02.2008
Dia destinado a realização de visitas técnicas às cidades de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica, possibilitou a observação e registro em imagens dos diferentes tecidos urbanos e das tipologias dos espaços livres urbanos significativos das quatro principais cidades que compõem a região metropolitana de Vitória.
Os percursos foram realizados em circuitos previamente estabelecidos com os parceiros locais, que participaram tanto do sobrevôo, como das visitas terrestres.
19.02.2008
Abertura: recepção e apresentação dos convidados e participantes
Profa. Dra. Eneida Maria de Souza Mendonça (Coordenadora do Núcleo QUAPÁ SEL Vitória / UFES); Profa. Dra. Cristina Engel (Diretora do Centro de Artes UFES); Prof. Dr. Francisco Guilherme Emmerich (Pró Reitor de Pesquisa e Pós Graduação UFES); Prof. Dr. Antonio (Coordenador Mestrado Departamento Geografia UFES)
Apresentação 01
Os Sistemas de Espaços Livres e a Constituição da Esfera Pública Contemporânea no Brasil: um processo de investigação nacional
Prof. Dr. Silvio Soares Macedo / FAUUSP (Coordenador nacional da Pesquisa QUAPÁ SEL)
A apresentação destacou os seguintes aspectos:
Apresentação do Projeto Quapá, sua história e seus objetivos
Objetivos da pesquisa SEL
Estruturação da pesquisa em rede nacional
Resultados gerais esperados
Procedimentos de trabalho
Foram discutidos os conceitos e objetivos que norteiam a pesquisa, focando na busca por uma definição de sistema e suas bases de constituição (dependência, articulação, conjunto, fatores de eficiência de um sistema, tipos de sistemas, conflitos e etapas de constituição de um sistema); a articulação entre espaço livre público e privado; suas funções: circulação, lazer recreação, acesso, conservação, preservação, produção. Partindo-se do conceito de Espaço Livre de Edificação, proposto por Miranda Magnoli, pode-se contrapor noções de área verde, área aberta, espaço verde, porém enfatizando sempre que é a articulação entre espaços livres e edificados que configura e qualifica a forma urbana, organizando os seus tecidos diversos. Discutiu-se a distribuição dos espaços livres a partir da acessibilidade e qualificação funcional. Foram discutidos ainda outros conceitos relevantes à pesquisa: processo de verticalização urbana, densidade habitacional e de construção, características das situações de demanda por espaços livres, atributos funcionais, estoque de áreas para o sistemaem questão. Observou-setambém a demanda por conservação, preservação e manutenção de áreas de encostas, bosques e corpos d’água entre outros, bem como as finalidades ambientais, juntamente com a expressão estética que estas configurações espaciais assumem.
Apresentação 02
Gestão de Espaços Livres Municipais
Arq. Fabrício Sanz Encarnação
Gerência de Projetos Urbanísticos (SEDEC) / Prefeitura Municipal de Vitória
Apresentação de 03 projetos de intervenção em orlas, atualmente em execução: Orla de Nova Palestina, Maria Ortiz e Camburi, destacando como a gênese da diretriz das intervenções urbanísticas e paisagísticas, a criação do projeto como processo. No caso da Orla de Maria Ortiz, constatou-se que se tratava de local de impedimento de permanência, devido à existência de rede de alta tensão. Foi proposta a criação de corpos estriados (locais onde se pode ocupar, com pequenas áreas de estar), calçadões e ciclovias (o usuário circula; não permanece), trabalhando sempre a questão limite/tensão/margem (no caso, o mangue). O projeto da Orla de Nova Palestina visa área limite entre o mangue e a área pública, sendo previstas áreas de estar, recreação infantil (banco jacaré, arco-íris, joaninha), onde a ênfase está nas referências lúdicas e de temática infantil. A Orla de Camburi se situa em área limite entre o natural e o urbano. O mar espraiando assim como a cidade em sentidos contrários, questionando quais são os limites entre o asfalto, a praia e o mar. O projeto cria ambientes de estar com bancos, pergolados e quiosques como esculturas arquitetônicas. A exposição dos projetos pautou-se mais na explanação da essência dos projetos, na sua poética e menos nos seus aspectos técnicos de detalhamento e execução.
Apresentação 03
Gestão de Espaços Livres Municipais
Arq. Alexandre Fiorotti
Departamento de Planejamento Urbano (SEDUR) / Prefeitura do Município de Serra
O palestrante abordou a ocupação do território e a formação do município de Serra, composto a partir dos núcleos de Nova Almeida, Serra-sede e Carapina, em um processo de descontinuidade urbana, com muitos vazios urbanos entre eles. Na década de 1960 ocorreram inúmeros loteamentos de glebas e, com a implantação de Companhia Siderúrgica de Tubarão e a expansão da atuação da Companhia Vale do Rio Doce houve uma intensa demanda para implantação de conjuntos habitacionais para população de baixa renda, via COHAB e INOCOOP. Foi lembrado que, devido à legislação de parcelamento do solo então vigente, estes ficaram sem área para uso público e implantação de equipamentos sociais. Com a Lei Lehmann, em 1976, houve um decréscimo na aprovação de loteamentos, apesar de ser possível verificar que no município, mesmo após a lei, permaneceu a prática de ignorar a destinação de áreas para o sistema de espaços livres. Atualmente, com o Plano Diretor do Município em vigência, inicia-se a verticalização de inúmeros bairros como Laranjeiras e a destinação de áreas públicas para conservação e preservação. Verifica-se, concomitantemente, o aumento de loteamentos e condomínios para alto padrão.
Arq. Rafael Fontes
Departamento de Projetos de Obras Públicas (SEDUR) / Prefeitura do Município de Serra
Destacou os procedimentos de seleção de demandas de projetos, definição de prioridades e as etapas de viabilização de projeto e obras no município de Serra. O município divide as suas obras em dois tipos: as obras da cidade, advindas de demanda política ou técnica; e as obras definidas através do orçamento participativo, através de consulta popular e de levantamento e planejamento da rede existente. Percebe-se atualmente uma alta demanda por quadras poli-esportivas cobertas e de futebol de areia, campos de futebol de areia, quadras de bocha, mesas de jogos, ciclovias e pistas de caminhada, playgrounds, equipamentos de ginástica e praças de eventos. Concluiu sua exposição com a apresentação dos projetos recentes, sobretudo as intervenções em orlas.
Apresentação 04
Planejamento estratégico dos recursos naturais de Serra
Bióloga Edmara Lourenção
Secretaria do Municipal do Meio Ambiente (SEMMA) / Departamento de Recursos Naturais do Município de Serra
A palestrante discorreu sobre a configuração da cidade de Serra em função da situação ambiental do território, isto é de acordo com seus ecossistemas, elementos de drenagem natural e sistema viário. A prioridade atual do departamento é o estabelecimento de critérios para a criação de áreas de preservação a partir de áreas ainda não loteadas. O município conta hoje com 05 Unidades de Conservação (entre APAs e reservas), estando em definição os seus planos de manejo. Apresentou os processos de implantação de outras áreas de preservação e seus planos de manejo (Jardim Botânico de Serra, APA de Praia Mole, APA Municipal do Viajante, Parque Natural Municipal de Bicanga, APA da Lagoa de Jacuném, APA Mestre Álvaro) e de outras ações sobre os espaços livres da cidade.
Apresentação 05
Plano Básico de Urbanização Integrada das margens do Rio Aribiri
Arq. Lilian Miranda Damasceno
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SEMDU) / Prefeitura Municipal de Vila Velha
Abordou o Plano Básico de Urbanização Integrada das margens do Rio Aribiri, em andamento graças aos recursos federais do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
Trata-se de área de baixa renda, carente de infra-estrutura básica, ao lado de uma outra área que já está sendo atendida por outro recurso, e de ocupação consolidada desde a década de 70. Caracteriza-se por ser área de manguezal aterrada, com a presença de palafitas, com alta degradação das águas do rio.
Verifica-se a existência de fragmentos de mangue ainda existentes e está sendo estudada a implantação de atracadouro, pois o rio ainda é utilizado. Está previsto no projeto o tratamento de encostas, reforma de escolas, projeto de macro drenagem, implantação de parque linear, procurando a acessibilidade através de bicicletas.
A recuperação do rio e do mangue tem como objetivo melhorar a relação da população com o rio através de calçadas, praças para convívio e arborização adequada. Já o parque proposto tem a intenção de segurar a ocupação irregular contínua, com o remanejamento da população excedente para outras áreas próximas.
Apresentação 06
Gestão de Espaços Livres Municipais
Secretaria Municipal de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (SEMPLAD) / Prefeitura Municipal de Cariacica
Arq. João Marcos Charpinel Borges
O arquiteto apresentou um histórico do município de Cariacica, destacando seu papel de cidade-dormitório da capital. Com a chegada da Companhia Vale do Rio Doce e da ferrovia, a cidade se expande e, na década de 1960, o desenvolvimento industrial acaba consolidando a cidade como local de moradia. Assim como as demais cidades da região metropolitana de Vitória, os loteamentos irregulares e clandestinos persistem até mesmo depois da instituição da lei federal 6766/79. As diretrizes definidas pelo Plano Diretor do Município são: Interação das esferas públicas e privadas: conter o avanço da malha urbana sobre a rural (atualmente, não se está aprovando nenhum loteamento) e aplicação do estatuto da cidade; no âmbito da esfera pública: criação de novos parques, praças e logradouros
No Plano de Gestão dos Espaços Livres Públicos serão implantados os seguintes projetos: Parques: Morro da Compainha, Cravo e a Rosa e Sta. Bárbara; Praça: de Cariacica Sede, de Campo Grande, Trevo de Alto Lage; Logradouros: Av. Expedito Garcia (Projeto Calçada Viva, seguindo o conceito de Shopping a Céu Aberto, visando reordenar a área de comércio de ambulantes), Urbanização da Orla de Cariacica (em licitação), com a adequação das calçadas nos bairros (pólos comerciais)
Apresentação 07
Reabilitação de áreas degradadas
Secretaria de Meio Ambiente de Cariacica (SEMMAM) / Gestão de Unidades de Conservação
Bióloga Aparecida Demoner Ramos
A palestrante discorreu sobre o programa de criação de mais duas Unidades Municipais de Conservação dos manguezais de Cariacica, que se somarão às quatro já existentes: o Parque Natural Municipal do Itanguá (localizado em solo urbano, com recuperação e restauração de área ocupada por esgoto, considerando o mangue como área verde da cidade) e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Municipal Manguezais de Cariacica (onde foi adotado outro estatuto jurídico para permitir que os 200 catadores de sururu e siri permaneçam no local). O objetivo precípuo destas duas intervenções é a criação de um circuito turístico dos manguezais de Cariacica, gerando renda com o patrimônio natural.
Destacou ainda a implantação da Área de Proteção Ambiental Municipal Monte Mochuara e do Parque Natural Municipal do Monte do Mochuara, ambas as áreas abrigando sítios arqueológicos.
Debate
Prof. Msc. Homero Penteado (DAU / UFES) – Pede que as secretarias se posicionem sobre a questão dos sistemas de espaços livres e questiona a postura dos projetos frente à adequação aos seus locais. Por exemplo: porque as praias não podem ser somente praias e precisam ter ciclovias, estares, etc., gerando problemas ambientais? Porque tudo tem que ser pavimentado e não se pisa no chão?
Profa. Dra. Eneida Mendonça (DAU / UFES e QUAPÁ SEL Núcleo Vitória) – Coloca que a idéia era que cada setor ou secretaria mostrassem o que está fazendo, quais são seus projetos e objetivos.
Arq. Ronaldo (Prefeitura Municipal de Vitória): Pede esclarecimentos ao Prof. Dr. Silvio Macedo sobre a questão da qualidade com relação à função.
Prof. Dr. Silvio Macedo: Esclarece que todo espaço livre deve ter um atributo para não ser descartável. Deve ser verificada qual é demanda para este espaço e ser proposta uma gestão para ele. Os espaços devem ter uma função na cidade: não necessariamente deve ter equipamentos, mas permitir usos diversos, além de fornecer um conforto mínimo para o usuário. Pode ter um papel na drenagem e gerar elementos de identificação do usuário através de sua linguagem.
Coloca a questão para a plenária: até que ponto um projeto pensado na hora certa, não impede que simplesmente se corra atrás do prejuízo, tornando-o mais caro? Isto é, a ausência de planejamento, de uma reflexão mais aprofundada e abrangente não permitiria que grande parte dos problemas que nossas cidades vivenciam ocorresse.
As intervenções realizadas nesta manhã por técnicos de diferentes órgãos e esferas nos mostrou como as cidades estudadas vêem a questão de seus espaços livres face à estruturação de cada cidade, seus problemas ambientais e suas demandas por equipamentos e locais de práticas esportivas, recreacionas e de lazer e convívio. A definição, implantação e gestão dos espaços livres urbanos variam para cada caso e nos mostrou um amplo leque de situações e possibilidades de atuação, sempre lembrando que a atuação conjunta, em equipes multidisciplinares é imprescindível para abarcar a complexidade do meio urbano.
Apresentação 08
Apresentação dos trabalhos desenvolvidos pelo Núcleo de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espírito Santo (NAU/UFES) ligados à Pesquisa QUAPA SEL
Profa. Dra. Eneida Maria Souza Mendonça
Departamento de Arquitetura e Urbanismo UFES
Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo coordenado pela Profa. Dra. Eneida buscam desenvolver produtos que aprofundem os seguintes itens:
1. Método para análise e construção da paisagem
2. Análise e construção da paisagem
3. Apropriação alternativa do ambiente urbano
Já foram realizadas atividades de caráter empírico, concluídas dentro do escopo da pesquisa, através de três bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/CNPq), cujos resultados foram apresentados no VIII ENEPEA, em 2006, e no II Colóquio da Pesquisa realizadoem São Paulo, em setembro de 2007
Na seqüência, apresentaram-se as novas pesquisadoras do Núcleo QUAPÁ SEL Vitória. São elas: Thais Sartori / Análise comparativa das principais tipologias de Vitória (PIBIC/CNPq); Luciana Bandeira de Oliveira / Análise preliminar dos espaços livres na Baía Noroeste de Vitória (PIBIC/CNPq); Cynthia L. P. de Miranda / Ocupação em áreas de preservação ambiental: uma proposta para Vila Velha (Bolsista de Aperfeiçoamento / FACITEC); Caroline Jabour de França / Análise do tecido urbano da cidade de Vitória/ES. A arquiteta está se integrando à pesquisa, após Doutorado realizado em Milão sobre o desenho urbano da cidade de Vitória, onde divide a cidade em zonas de tipologias de edificação e ocupação em um esforço de compreensão da estruturação do tecido urbano; Doriéli Z. Fornaciari / Espaço físico e Espaço virtual: o desafio dos espaços públicos de lazer e cultura na cidade contemporânea e na era da informação / Trabalho Final de graduação (TFG) em andamento
Neste momento, o objetivo dos trabalhos em desenvolvimento no Núcleo QUAPÁ SEL Vitória é dar continuidade às pesquisas anteriores, utilizando material anteriormente produzido, para avaliação do desempenho dos espaços livres e as possibilidades futuras de intervenção e constituição de um sistema eficiente.
Apresentação 09
Metropolização da Grande Vitória: ausência de espaços públicos na constituição da Região Metropolitana da Grande Vitória
Profa. Dra. Ana Lucy Oliveira Freire
Departamento de Geografia UFES
Trabalhando na escala metropolitana, parte da idéia de urbanização e desigualdade do crescimento dos diversos municípios da metrópole capixaba. Aborda a idéia de núcleo e periferia, por meio de um quadro da urbanização brasileira e suas vinte e sete regiões metropolitanas. A pesquisadora se pergunta quais os parâmetros e finalidades deste processo, apresentando alguns pressupostos da sua pesquisa. Destaca a modernização do estado e os novos investimentos públicos e privados no Espírito Santo, que, até trinta anos atrás, tinha sua riqueza assentada na economia cafeeira. Dá ênfase à estrutura viária e ao aumento de mobilidade geral decorrente de novas vias e terminais rodoviários. Aponta algumas figuras novas que se surgem na paisagem urbana capixaba, típicas da cidade brasileira contemporânea, onde a fragmentação e a segregação são preponderantes.
Apresentação 10
Corredores Verdes em Vitória
Prof. Msc. Homero Penteado
Departamento de Arquitetura e Urbanismo UFES
Utiliza os conceitos de Formann, de corredor, matriz e fragmento e os associa com a idéia da cidade como matriz urbana. A apresentação se assenta em fundamentos consolidados no paisagismo e na ecologia da paisagem. Mostra um bom mapa analítico de um setor urbano da capital e aplica os conceitos em uma área vizinha ao campus da UFES, na qual foca seu estudo de caso. Através de trabalhos de campo realizados com os alunos da graduação no bairro Jardim da Penha, com suas ruas largas e pequenas calçadas, apresenta uma competente análise da situação atual e das potencialidades do local, à luz da teoria adotada.
Apresentação 11
Caracterização do Patrimônio Ambiental em Cariacica e Serra para elaboração de Planos Diretores Municipais
Prof. Dr. André Luiz Nascentes Coelho / Consultorem Meio Ambientee Geoprocessamento
Fundação Ceciliano Abel de Almeida (FCAA / UFES) – Núcleo Cidades
O trabalho busca desenvolver uma metodologia que identifique os recursos e ferramentas para a elaboração de PDM, visando a indicação das áreas de interesse ambiental. Parte da junção de uma série de informações para uma análise de multicritérios, indicando potencialidades e limites do território e classifica as áreas do ponto de vista ambiental para a geração de diretrizes e legislação. Tendo por base as legislações existentes, são feitas simultaneamente a análise dos atributos e um comentário sobre cada área. São estabelecidas diretrizes para o município e realizada uma apresentação em audiência pública, após a qual é feita uma reavaliação. Para a cidade de Serra, por exemplo, foram elaborados mapas de análise do relevo, declividades, precipitação e temperaturas médias anuais, rede hidrográfica e drenagem, mostrando o conhecimento do território. A partir de uma pré-seleção de locais para os trabalhos de campo com GPS e registro fotográfico foram determinados atributos como características da flora, recursos hídricos, valor cênico, fragilidade e realizada a identificação das áreas de interesse ambiental, com comentários sobre as características da área.
Apresentação 12
Aplicações da caracterização do patrimônio ambiental na elaboração de Plano Diretor Municipal
Arq. Msc. Giovanilton André Ferreira
FCCA/UFES – Instituto Cidades
Membro do Instituto Cidades, que tem elaborado Planos Diretores Municipais para diversas cidades do Estado com equipe multidisciplinar, o pesquisador expôs a metodologia de elaboração destes planos. O método parte de 03 leituras: a técnica (patrimônio ambiental, arquitetônico, mobilidade e acessibilidade), a dos governantes (política) e a da população (demandas locais). Considera como estrutura básica dos Planos Diretores a definição de eixos prioritários, perímetro urbano, macro zoneamento, zoneamento, índices urbanísticos e conflitos ambientais e de caráter sócio-econômicos. O resultado final aparece sempre como um processo de negociação permanente.
Apresentação 13
Dinâmica urbana da Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV) na década de 1990
Arq. Jose Carlos da Silva Oliveira
Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) / Governo Estado do Espírito Santo
Foram apresentados dois trabalhos, sendo o primeiro gerado a partir de um vôo no final da década de 1990, que resultou no documento “Dinâmica urbana na década de 90”, o que permitiu a comparação com material do final da década anterior e a detecção da evolução do crescimento urbano da RMGV. O segundo estudo analisa o processo de verticalização do espaço urbano. É apresentado um quadro da conformação do território pré-metropolitano que destaca a implantação das grandes plantas industriais e portuárias e os grandes conjuntos habitacionais nos anos 1960-1970, sobretudo em Vitória e Vila Velha. O vetor de adensamento e as zonas de adensamento urbano são caracterizados. A RMGV na década de 1980-1990 se caracteriza pelo predomínio do adensamento dos novos parcelamentos, a ocupação de grandes áreas por instalações de abrangência metropolitana (shopping centers, hospitais, universidades, porto), o elevado índice de verticalização localizada e a consolidação de novas territorialidades metropolitanas. De1960 a 1980, os parcelamentos se deram sem nenhuma preocupação com o espaço livre: os grandes espaços foram ocupados pelas instituições e os espaços privados, loteados. Identifica-se na paisagem urbana da metrópole a consolidação de um eixo de verticalização do sul de Vila Velha ao norte de Vitória, expandido na década 1990-2000 com a inclusão de Guarapari. O pesquisador questiona quais serão as futuras territorialidades; qual será a dinâmica urbana para 2010; qual será a dinâmica dos espaços livres públicas frente a esta tradição. Sugere a estratégia de implantação de condomínios de baixa densidade com a intenção de criar espaços livres públicos.
Apresentação 14
Gestão das Unidades de Conservação do Estado do Espírito Santo
Aline Alvarenga / Analista de Meio Ambiente e Recursos Hídricos / Gerência de Recursos Naturais
Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA) / Governo Estado do Espírito Santo
A analista de Meio Ambiente apresentou mapas com um histórico dos biomas do Espírito Santo que, por sua vez, está totalmente inserido na Mata Atlântica. Atualmente, somente restam 8% de área deste ecossistema, estando ocupada em 40% por pastagens, 26% por outros usos e 19,32% pela lavoura. Apenas 2,5% estão sob a denominação de Unidades de Conservação: 1,5%federal, estaduais 0,98%, municipais 0,06%. O Instituto trabalha com a definição de Unidades de Conservação, conforme o SNUC/Lei 9.985/2000, e possui 16 Unidades de Conservação no Estado sob seu gerenciamento, com diferentes denominações e estatutos jurídicos, tais como: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Monumento Natural, Parque Estadual, Reserva Ecológica, Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Tratou da criação e implementação destas Unidades de Conservação, que se originam a partir de consulta pública e do processo de definição dos objetivos de manejo, delimitação, instrumento legal, órgão gestor/conselho e plano de manejo, destacando a situação ambiental atual da Região Metropolitana de Vitória. A explanação foi extremamente rica, pois trabalhou com as definições da legislação, confrontando-a com situações concretas do território em estudo pelo grupo.
20/02/2008
Como não foi possível contar com a presença de representantes dos movimentos populares no dia previsto, antes do início das atividades de discussão e elaboração do produto final da Oficina, ouvimos as falas de dois convidados deste setor que posteriormente se incorporaram às equipes de trabalho.
Apresentação 15
Movimentos populares / Conselho Popular de Vitória (CPV)
Sr. Waldemar Cunha
A cidade é gestada por Conselhos, não deliberativos, mas que são constantemente chamados para respaldar as decisões políticas. Esta situação leva à reivindicação de maior participação (inclusive a paridade), apesar de seus membros não terem formação técnica, contribuindo, no entanto, com o olhar da população, do usuário. Na atual administração, houve o regate do orçamento participativo, permitindo maior participação da população, manifestando seus próprios interesses e demandas, variáveis de localidade para localidade. Lembrou ainda que nos bairros melhores, a população não quer que determinadas construções ou ações venham a ser implementadas, pois acredita que acarretará o estabelecimento de uma outra comunidade indesejada. O movimento quer evitar a visão pontual, procurando uma visão mais coletiva, menos voltada para um único grupo, mas contemplando o atendimento de um maior numero de pessoas, o coletivo e a inclusão. Propõe um olhar multidisciplinar que tente ser o mais abrangente possível, juntamente com a idéia do cidadão como um agente de transformação. A grande preocupação do Movimento é com a maneira com que os novos empreendimentos estão sendo implantados, levando em consideração o futuro, especialmente quanto à mobilidade, acessibilidade e visibilidade.
Apresentação 16
Movimentos populares / Conselho Comunitário de Vila Velha (CCVV)
Advogado Sandro Ghuio Franzotti
Coloca que a falta de planejamento e a sua defasagem na demora da implantação é o grande problema das nossas cidades. O Conselho vem analisando seus problemas tendo em vista o intenso crescimento da cidade e sua disparidade social acentuada. Discorreu sobre a forma de abordagem de problemas enfrentados, a participação do Conselho e os descaminhos da elaboração e implementação do Plano Diretor de Vila Velha, frente à pressão política e os conflitos de interesses. Destacou também a ausência de uma visão de longo prazo nas ações publicas, o que certamente irá comprometer qualquer proposta de uma cidade saudável.
Considerações sobre as apresentações
O painel de apresentações permitiu aos participantes uma reflexão acerca das metodologias de abordagem, prioridades de enfoque, dificuldades na consecução de objetivos, conflitos entre distintas esferas de atuação do poder público, pressões dos diferentes agentes que atuam na construção do espaço livre urbano, entre outras questões, somando informações para a etapa seguinte, de estabelecimento de diretrizes gerais de atuação sobre os espaços livres urbanos da Região Metropolitana da Grande Vitória.
Ressaltamos a presença de membros da Fundação Vale do Rio Doce que se resumiram à condição de ouvinte nas exposições de trabalhos do dia 20.02.08 e de sua participação num dos grupos de trabalho. Ressaltamos também a marcante ausência de representantes da Petrobrás e do mercado imobiliário, cujas presenças poderiam ter propiciado um confronto positivo de posturas e o conhecimento mais aprofundado das diferenças entre grupos de interesses diversos.
A Oficina
Cada oficina tem a sua especificidade devido às distintas realidades e às diferentes informações que cada participante aporta. No caso de Vitória, o diferencial se deu graças à participação de membros de outras três cidades que integram a região metropolitana: Vila Velha, Cariacica e Serra.
Contando com 17 participantes, foram formados quatro grupos com profissionais de formação heterogênea e de diferentes instituições. Devido ao predomínio de participantes de Vitória, os técnicos dos demais municípios acabaram por assessorar todas as equipes, além de atuarem em seus próprios grupos, o que contribuiu para o aprofundamento das análises.
A oficina teve como objetivo a discussão do sistema de espaços livres da região e se iniciou com a formação de quatro grupos conforme a temática abaixo:
Sistema de parques, calçadões de praia e praças, áreas de conservação e preservação ambiental (05 participantes)
Sistema de espaços livres privados e tecidos urbanos (04 participantes)
Investimentos públicos, Plano Diretor e crescimento urbano x metropolização (05 participantes)
Legislação e Mercado imobiliário (03 participantes)
Cada grupo discutiu uma temática específica para posteriormente confrontar com as outras temáticas, criando mapas que apresentassem:
Espacialização de características de cada local (como é a paisagem daquele lugar).
Exposição de conflitos
Apresentação de potencialidades
Após a manifestação de cada equipe e a discussão das abordagens, foram elaborados mapas-síntese, atualmente em processo de finalização pelo Núcleo QUAPÁ SEL Vitória, possibilitando pareceres e eventuais complementações de todos os demais participantes do evento.
Mapa síntese da oficina de Vitória
Bibliografia
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