Descubra como a inteligência artificial já impacta o futuro das nossas cidades

Londres, Copenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real e otimizar o transporte público; em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes

FreepikCidade à noite com arquitetura e luzes vibrantesIA está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas

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Descubra como a inteligência artificial já impacta o futuro das nossas cidades

Londres, Copenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real e otimizar o transporte público; em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes

  • Por Helena Degreas para a Jovem Pan News
  • 31/07/2024 11h37 – Atualizado em 31/07/2024 11h38

FreepikCidade à noite com arquitetura e luzes vibrantes

IA está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas

inteligência artificial (IA) já não é mais coisa de outro mundo ou de ficção científica. Se você observar, ela está presente em nossos smartphonescarros e até mesmo em nossos eletrodomésticos. Mas você sabia que a IA também está transformando a maneira como nossas cidades são planejadas e gerenciadas? Imagine cidades onde semáforos inteligentes ajustam o tempo de acordo com o fluxo de tráfego de pessoas e automóveis, reduzindo congestionamentos, facilitando a travessia de pedestres e melhorando a qualidade do ar em ruas e bairros onde os indicadores apontam para a necessidade de restrição da circulação de veículos. Ou prédios que otimizam o uso de energia, diminuindo o impacto ambiental e os custos para os moradores. Essa é a realidade que a IA está construindo em cidades que se destacam pelo relatório IESE Cities in Motion Index (CIMI) como inteligentes e encontram-se ranqueadas.

Recentemente, li uma coluna na newsletter Bloomberg intitulada “OpenAI Scale Ranks Progress Toward ‘Human-Level’ Problem Solving” (em tradução livre, “A Escala da OpenAI Avalia o Progresso em Direção à Solução de Problemas em Nível Humano”, que abordou o conceito de Inteligência Artificial Geral (AGI). A AGI refere-se a sistemas inteligentes com capacidade cognitiva equivalente ou superior à humana em diversas tarefas. Diferentemente da IA especializada, projetada para tarefas específicas, a AGI pode compreender, aprender e aplicar conhecimento de forma abrangente, adaptando-se a novos desafios e contextos sem necessidade de reprogramação. Imagine o impacto que a substituição de decisões humanas, muitas vezes baseadas em suposições ou dados incompletos, pode ter na qualidade de vida dos cidadãos.Playvolume

A AGI tem o potencial de transformar radicalmente o planejamento urbano e a gestão pública. Com sua capacidade de análise abrangente e em tempo real de dados complexos, a AGI pode melhorar significativamente a eficiência e eficácia das políticas públicas. Ela pode otimizar o tráfego, gerenciar a distribuição de recursos, prever e mitigar desastres naturais e aprimorar a prestação de serviços públicos. Além disso, a AGI pode analisar feedbacks da população para criar soluções mais inclusivas e democráticas, levando a cidades mais inteligentes, sustentáveis e equitativas.

Esses exemplos mostram como a inteligência pode transformar a gestão urbana a partir de cinco níveis de desenvolvimento previstos pela OpenAI. No nível básico, a automação simples realiza tarefas repetitivas, como a coleta de lixo ou o controle de tráfego. Assistentes virtuais podem ser utilizados em centros de atendimento ao cidadão, fornecendo informações e serviços de forma rápida e eficiente. Análises preditivas permitem aos gestores urbanos prever e mitigar problemas antes que eles ocorram, como congestionamentos ou falhas em infraestruturas. A autonomia parcial da IA pode ser utilizada para gerenciar sistemas complexos, como redes de transporte ou distribuição de energia, ajustando-se dinamicamente às mudanças nas condições. No nível mais avançado, sua autonomia completa pode permitir a operação de veículos autônomos e a gestão integrada de todas as infraestruturas urbanas, otimizando o uso de recursos e melhorando a qualidade de vida dos cidadãos.

A gestão municipal hoje é baseada em dados. Esses dados são capazes de gerar um volume imenso de informações úteis, medidas em yottabytes, com o objetivo de levar conhecimento da realidade em todas as áreas relacionadas à prestação de serviços públicos. O relatório do IESE (CIMI) utiliza nove dimensões para avaliar o nível de inteligência de uma cidade e dados de mais de 100 indicadores para compor o ranking. A AGI tem o potencial de transformar radicalmente o planejamento urbano e a gestão pública. Com sua capacidade de análise abrangente e em tempo real de dados complexos, ela pode melhorar a eficiência e eficácia das políticas públicas, otimizando a resolução de problemas não previstos por agentes públicos.

Essas questões estão relacionadas a áreas como Capital Humano, Coesão Social, Economia, Governança, Meio Ambiente, Mobilidade e Transporte, Planejamento Urbano, Projeção Internacional e Tecnologia. Para quem se interessar pelo tema, o artigo “Artificial General Intelligence is Already Here”, de Aguera y Arcas e Norvig, publicado na Noema em outubro de 2023, oferece uma análise mais detalhada sobre o tema. Para implementar essas tecnologias, os gestores públicos precisam preparar e investir na infraestrutura urbana. Isso inclui a instalação de sensores e dispositivos de IoT (Internet das Coisas) para coletar dados em tempo real, além de garantir conectividade de alta velocidade e baixa latência, como redes 5G. É necessário também investir em servidores de alto desempenho e infraestrutura de nuvem para processar grandes volumes de dados. A segurança cibernética é outro aspecto a ser considerado, com a implementação de protocolos robustos para proteger os dados e sistemas contra ataques. Políticas públicas devem ser geradas com menos ideologia e mais precisão.

O IESE Cities in Motion Index (CIMI) destaca como cidades como LondresCopenhague e Nova York implementaram tecnologias avançadas para ajustar semáforos em tempo real, otimizar rotas de transporte público e planejar de forma mais eficiente. Em Paris, a IA auxilia no planejamento de espaços verdes e na otimização do uso de energia em edifícios, criando um ambiente urbano mais sustentável e agradável. Em Oslo, sensores inteligentes monitoram a qualidade do ar e da água, permitindo ações rápidas em caso de problemas ambientais. Em cidades como Estocolmo e Barcelona, a IA está sendo utilizada para facilitar a participação cidadã, onde plataformas digitais permitem que os moradores se envolvam ativamente no processo de tomada de decisão, contribuindo com ideias e feedbacks para o desenvolvimento urbano.

Ainda na mesma coluna, Elon Musk sugere que a IA poderia superar a inteligência dos seres humanos mais inteligentes até 2025 ou 2026, mencionando que a quantidade total de “computação senciente” superaria a de todos os humanos em cinco anos. Musk enfatizou a importância de desenvolvimento responsável de tecnologias artificiais que garantam que seu impacto seja benéfico para a sociedade como um todo. A computação senciente, ou a criação de sistemas capazes de percepção consciente (capacidade de perceber e responder ao ambiente), autoconsciência (reconhecer-se como uma entidade distinta de outras), sentimentos e emoções (reagir com profundidade emocional para além da programação) e tomada de decisões independentes (baseadas em um entendimento consciente das situações), ainda é uma perspectiva teórica, mas pode ter impactos profundos no planejamento urbano, pois poderia tomar decisões considerando não apenas dados objetivos, mas também o bem-estar emocional e social dos cidadãos. Isso poderia levar a um planejamento urbano mais justo e equitativo, onde as necessidades de todos os grupos sociais são atendidas de forma equilibrada.

Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas o planejamento das ações que visam rever rotinas e processos da gestão pública para a melhoria da qualidade das decisões de prefeitos, secretários, vereadores e demais agentes públicos depende do plano de gestão urbana. Cabe a nós, cidadãos, cobrar dos candidatos um planejamento eficaz voltado à melhoria da qualidade de vida de todos. O futuro se constrói agora.

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*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

Andar pela cidade transformou nossas vidas em um palco aberto, mas esse ‘Big Brother’ urbano pode ser bem eficaz

Utilização de tecnologias como IoT, Big Data, IA, SIG e blockchain é fundamental para o planejamento de políticas públicas urbanas, promover cidades mais seguras e melhorar qualidade de vida

Por Helena Degreas* 04/05/2024 07h00 para a Jovem Pan News

Algumas capitais e cidades já usam tecnologias para a gestão de informações e auxílio no planejamento de políticas públicas voltadas à vigilância – anjianhua/Freepik

Certamente você já deve ter se deparado com câmeras distribuídas em edifícios, estradas, postes, semáforos e viaturas de policiamento integrando-se à paisagem urbana. Estes dispositivos nos observam atentamente, capturando cada passo, gesto, expressão, atitude e comportamentos em busca de padrões e informações que possam ser utilizadas por aqueles que as instalaram. Diferentemente das telas de um smartphone em que postamos o que queremos, nossa vida pública é vasculhada por testemunhas silenciosas que, atentas, observam nossas interações com a cidade. Andar pela cidade transformou nossas vidas em um palco aberto, com ou sem a nossa ciência. A despeito das discussões sobre a perda do controle sobre a nossa imagem e sobre como ela é utilizada por empresas e setores da administração pública que capturam imagens, o fato é que atualmente os dados gerados diariamente na internet ultrapassam os 2,5 quintilhões de bytes gerados por bilhões de usuários diariamente, números que apontam para um crescimento significativo na sua produção em qualquer formato. 

The real-time city is real!” (“O tempo real da cidade é real”). Com esta frase, o Senseable City Lab (MIT) vem trabalhando a gestão urbana contemporânea a partir do uso da abundância de imagens disponíveis (Google Street View é uma das plataformas utilizadas) para compreender os diferentes aspectos da cidade. Dar sentido a esses conjuntos de imagens que depois são transformados em dados visuais podem nos ajudar a medir a legibilidade do espaço, a quantificar diferentes aspectos da vida urbana e, como consequência, projetar ambientes responsivos. Cidades são organismos complexos que demandam abordagens e uso de redes e informações digitais em todo o seu território para a compreensão das dinâmicas e interações do ambiente construído. O Senseable City Lab (MIT) antecipa e estuda mudanças urbanas por meio de uma abordagem omni-disciplinar, combinando insights, metodologias e técnicas de várias áreas que integram conhecimentos e habilidades de designers, planejadores urbanos, engenheiros, cientistas sociais, biólogos, físicos e outras disciplinas envolvendo diversos setores e comunidades visando aprofundar o entendimento mútuo entre cidades e habitantes.

Essas tecnologias, quando associadas à instalação de sensores, permitem antecipar mudanças ao capturar informações em tempo real, fornecendo uma visão abrangente e atualizada das situações que ocorrem nas ruas da cidade. Ao coletar dados em tempo real sobre o tráfego, tempo semafórico dedicado à qualidade do movimento de pedestres e ciclistas em vias, condições ambientais relacionadas à produção de ruídos, sensação térmica, velocidade e direcionamento dos ventos, zeladoria urbana (limpeza de vias públicas, reparos em calçadas e praças, poda de árvores, manutenção de iluminação pública, remoção de entulhos e fiscalização de áreas verdes), por exemplo, podem identificar tendências emergentes, detectar problemas rapidamente e informar decisões de planejamento urbano e políticas públicas de forma proativa. 

No Brasil, algumas capitais e cidades vêm se destacando na utilização de tecnologias para a gestão de informações e auxílio no planejamento de políticas públicas voltadas à vigilância e segurança, incluindo Internet das Coisas (IoT) para a captação de dados em tempo real, Big Data e Analytics com o objetivo de processar as informações, Inteligência Artificial (IA) para gerar insights e extrair percepções significativas de dados, proporcionando compreensão completa de problemas, Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para a análise de dados espaciais, blockchain para a segurança e transparência e plataformas interconectadas promovem compartilhamento de dados. Quando integradas, essas tecnologias capacitam autoridades a planejar e implementar políticas eficazes, adaptadas às necessidades das comunidades urbanas.

Recentemente, a Prefeitura de São Caetano do Sul lançou o Programa São Caetano Mais Segura, investindo mais de R$ 70 milhões em 2023. O programa visa implantar uma infraestrutura urbana para suportar as mais de 400 câmeras 360 graus já instaladas e a expansão de 1.335 planejadas que cobrirão toda a cidade. Além disso, inclui a instalação do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), responsável por monitorar e gerenciar situações urbanas de emergência, usando câmeras 360 graus e sensores. Além disso, foi realizada a integração das forças de segurança à tecnologia e ampliado o efetivo, por meio de convênio com o governo do Estado e a integração das câmeras das viaturas da GCM aos sistemas Muralha Paulista e Córtex. Estes sistemas permitem a identificação imediata de veículos cadastrados no CGE como roubados, assim que entram na cidade. Um pop-up alerta tanto o CGE quanto as viaturas da GCM sobre a irregularidade, aumentando a eficiência na captura de criminosos e garantindo segurança diária.

Para quem não conhece a tecnologia necessária para assegurar a eficiência e eficácia do sistema de segurança, as câmeras 360 graus requerem a implantação de uma rede robusta de cabos ópticos para transmitir dados em tempo real com alta velocidade e qualidade de imagem e a garantia de sistemas de energia estáveis para o funcionamento contínuo. O controle e monitoramento eficazes requerem software de gerenciamento sofisticado, permitindo análise e detecção de eventos em tempo real. Além da instalação de infraestruturas de suporte, como postes e torres, que permitirão o posicionamento estratégico das câmeras. Paralelamente, medidas de segurança cibernética para proteger câmeras e dados contra acesso não autorizado e ataques foram tomadas para a eficácia do programa. Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) entre os meses de mês de março de 2023 e 2024 mostram uma queda em diversas categorias de crimes: redução nos casos de roubo de veículos (45%,), furto de veículos (37,50%), roubo de cargas (100%). Essas estatísticas são reforçadas pela comparação trimestral, que também demonstra uma diminuição em todos os principais índices criminais.

A utilização de tecnologias como IoT, Big Data, IA, SIG e blockchain é fundamental para o planejamento de políticas públicas urbanas. Essas ferramentas possibilitam a coleta e análise de dados em tempo real, tornando as cidades mais responsivas às necessidades dos cidadãos. No entanto, sua eficácia depende não apenas da infraestrutura tecnológica, mas também do comprometimento político e da capacitação dos agentes públicos para a mudança da cultura de trabalho. Ao integrar essas tecnologias, as autoridades podem criar políticas adaptadas ao lugar, promovendo uma cidade mais responsiva, capaz de atender às demandas da população e melhorar sua qualidade de vida. 

Tem alguma dúvida ou quer sugerir um tema? Escreva para mim no Twitter ou Instagram@helenadegreas.

*Esta coluna foi escrita em parceria com o geógrafo Luís Fernando Borsoi, especialista em análises espaciais e geoprocessamento, planejamento ambiental e urbano de smart cities.

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