C+Idade: critérios para planejar cidades habitáveis para todas as etapas da vida

Livability Categories - AARP
AARP Livability Index: Great Neighborhoods for All Ages

Fonte: Sugiro que assistam ao vídeo da //players.brightcove.net/3772599298001/ryhhcDoG_default/index.html?videoId=5836018001001” target=”_blank” rel=”noopener”>AARP

Alguma vez você já se perguntou como o lugar onde você deve ser para que você se sinta bem e feliz?

Eu sim. Muitas vezes ao longo da minha vida. Mais jovem, com filhos crescendo, queria proximidade de escolas e áreas públicas de recreação;

E hoje?

Minha resposta para o dia de hoje:
. deve ter calçadas amplas e com piso lisinho, confortáveis, sombreadas por árvores durante os dias quentes e bem iluminadas à noite;
. realizar as comprinhas diárias sem precisar tirar o carro da garagem;
. locomover-me utilizando transporte público a preço acessível para qualquer lugar;
. localizar-se próximo a parques, áreas verdes;
. deve ser um local seguro;
. garantir qualidade sonora ou ainda, ser um lugar livre de barulhos excessivos (ausência de ruídos provocados pela falta de civilidade gerada pela convivência social que desrespeita e desconhece limites) entre vários outros desejos.

Dependendo de quem está lendo o post, provavelmente a ausência de hospitais e postos de saúde deve ter chamado a atenção. Para minha mãe, atendimento médico próximo é fundamental para a manutenção de sua qualidade de vida.

“Cidade é infraestrutura pública” dizia em sala de aula e, com razão, meu saudoso Prof. Milton Santos.

Tenho consciência de que como arquiteta e urbanista, meus limites se restringem ao ensino e ao exercício profissional. Como cidadã sou membro voluntário de conselhos que discutem políticas públicas urbanas e exijo o direito de viver em cidades com qualidade de gestão dos espaços públicos. Mudança de cultura na gestão da coisa pública é um processo longo, difícil mas necessários. Tenho responsabilidade para com as gerações futuras.

Qualidade de vida urbana ao longo da vida: o que você responderia para essa questão? O que você precisa para viver num bairro agradável por muitos e muitos anos?

. um hospital ou posto de saúde?
. um médico ou um cinema?
. lanchonetes, restaurantes ou áreas comerciais?

Cada pessoa vai querer algo diferente e é isso que torna a vida na cidade tão única.

Cada cidade diferente do país tem sua própria personalidade!

Você se pergunta se a cidade ou o bairro atual está atendendo às necessidades atuais ou talvez às necessidades futuras?

Existe um índice de habitabilidade criado pela AARP que apresenta diretrizes de planejamento / projeto e design urbanos que podem colaborar para o exercício de uma vida independente para seus cidadãos mais velhos. Destina-se a ser um guia para melhorias, bem como uma maneira de comparar cidades em todo o país.

O índice contém 60 fatores para compradores de imóveis que desejam se mudar para um local mais habitável. É natural que as pessoas queiram permanecer em sua própria casa á medida que envelhece, portanto, o local precisa ter as condições necessárias para garantir a independência nos aspectos que compõem a vida cotidiana: tarefas e demandas gerais da vida doméstica; comunicação; mobilidade; cuidado pessoal; interações e relacionamentos interpessoais; participação na vida comunitária, social e cívica

Um bairro habitável é descrito como aquele que possui moradia, transporte e outras opções que permitem e facilitam a independência dos idosos nos diversos aspectos da vida.

Ao projetar para um cidadão idoso, você atende às necessidades físicas, sociais e intelectuais para pessoas que se encontram em QUALQUER FASE DA VIDA OU FAIXA ETÁRIA

Como é mensurada a habitabilidade dos lugares?
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Fonte clique aqui

As pessoas experimentam as comunidades como um todo, de forma que a AARP analisou vários aspectos da habitabilidade para obter uma visão completa. O Índice de habitabilidade avalia sete grandes categorias de habitabilidade comunitária: moradia, bairro, transporte, meio ambiente, saúde, engajamento e oportunidade. Valores métricos e pontos de política em cada categoria são combinados para criar a pontuação da categoria. Essas pontuações da categoria são calculadas como média para criar a pontuação total de habitabilidade de um local. São 60 ítens que compõem o índice.

DOMÍNIO 1 – ESPAÇOS E EDIFÍCIOS AO AR LIVRE

Espaços ao ar livre e edifícios onde as pessoas podem se reunir, como parques, calçadas, ruas seguras, assentos ao ar livre e edifícios acessíveis. Como espaços públicos, as calçadas são “a porta de entrada” de uma comunidade e bairro, ativando ruas social e economicamente. Faz pouco sentido que em tantos bairros e cidades brasileiras as calçadas sejam raras e até inexistentes. Faço parte do grupo de pesquisas QUAPA-SEL e tive a oportunidade de conhecer inúmeras cidades brasileiras. Mesmo em São Paulo, onde vivo, a existência de calçadas é uma exceção à regra infelizmente. Se quiserem conhecer um pouco mais sobre as discussões que realizamos na Câmara Temática de Mobilidade a Pé, acesso o link dos relatórios. Lá você terá a oportunidade de vivenciar as discussões do grupo desde que foi criado.

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Men and Woman sitting on brown wooden bench by Monica Silveira

DOMÍNIO 2 – OPÇÕES DE TRANSPORTE

Opções de transporte ativo que dão aos não-motoristas acesso a serviços, locais e pessoas. As comunidades tranquilas e amigas da caminhabilidade e da bicicleta são boas para pessoas e negócios. Devem ser construídas políticas públicas e ações dos governos locais para o incentivo da modalidade de transporte ativo.

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People Walking Near Trees by Lina KivaKa

DOMÍNIO 3 – MORADIA APROPRIADAMENTE PROJETADA/MODIFICADA E ACESSÍVEL

A revitalização sem deslocamento beneficia todos os residentes, independentemente de renda, idade u condição física. As comunidades habitáveis ​​oferecem moradia para qualquer situação ou etapa da vida como idosos cujos filhos se mudaram ou cujos cônjuges morreram, famílias monoparentais, casais sem filhos ou pessoas que optam por compartilhar a habitação com colegas de quarto ou preferem moradias multifamiliares em vez de moradias unifamiliares ou casas isoladas. Entendo que a construção de locais exclusivos para idosos colabore para a desintegração da interação e do convívio social prejudicando a vida comunitária e a saúde do indivíduo. Esse é um exemplo recente de uma proposta de projeto realizada pelo escritório Vigliecca & Associados.  A proposta projetual é resultado do programa Morar no Centro, iniciativa da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB), órgão encarregado de dar resposta às demandas de habitação social na cidade de São Paulo.

DOMÍNIO 4 – PARTICIPAÇÃO SOCIAL

Participação social para evitar o isolamento e a solidão. A atividade social aumenta a mobilidade, as perspectivas e o desejo de cuidar melhor de si mesmo. Solidão pode realmente prejudicar o sistema imunológico. Fica aqui uma leitura recente de artigo acadêmico como sugestão.

DOMÍNIO 5 – RESPEITO E INCLUSÃO SOCIAL

Respeito e inclusão social por meio de atividades intergeracionais. Os laços intergeracionais não precisam ser tradicionais ou biológicos. Os mentores de adultos mais velhos podem fazer uma diferença significativa na vida de uma criança. O envolvimento de um adulto confiável e atencioso ajuda as crianças a desenvolver habilidades para a vida e constrói auto-estima e confiança.

DOMÍNIO 6 – PARTICIPAÇÃO CÍVICA E EMPREGO

Participação cívica e emprego que possibilitam trabalho, voluntariado e engajamento ativo. As pessoas que estão ativamente envolvidas no serviço são cidadãos empoderados, emocionalmente conectados à comunidade e mais propensos a votar. A participação na sociedade civil está fortemente correlacionada com a confiança em outras pessoas.

DOMÍNIO 7 – COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO

Comunicação e informação divulgadas por meio de uma variedade de canais para alcançar até aqueles que não tem acesso a informações via web multi-telas por exemplo. Como manter-se informado e, por conseguinte, participar de conversas e trocas de informações sobre assuntos cotidianos com outras pessoas ao seu redor? Alguns influenciadores digitais 65+

DOMÍNIO 8 – SERVIÇOS COMUNITÁRIOS E DE SAÚDE

Serviços comunitários e de saúde devem ser distribuídos em toda a cidade. Políticas Públicas Urbanas que utilizem dados como processo são úteis no entendimento das mudanças dos seus habitantes a partir de perspectiva histórica. O “território fala” e apresenta suas necessidades que estão por vir. Identificar o processo de envelhecimento na cidade, permite ao gestor publico programar investimentos que atendam as necessidades da população.A prefeitura de NYCLondres são bons exemplos de ações que nasceram há décadas e que viabilizaram realizações que hoje permitem cidades com melhor qualidade de vida para a população idosa.

Em tempo: este post foi inspirado pela leitura do seguinte material:
The Eight Domaisn of Livability
AARP Livability Index

A idade cronológica define um idoso?

 

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Figura 1: Por Gustave Doré – http://bit.ly/2Pl1x4v, Domínio público, http://bit.ly/2Pl1iGR

Num mundo repleto de desafios que governos e populações precisam vencer diariamente, existe um que, apesar de previsível, é sistematicamente esquecido, embora certo para todos: como manter-se ativo, produtivo e saudável apesar das consequências que o famigerado processo de envelhecimento traz ao corpo e ao intelecto?

Pela primeira vez na história a mais da metade da população mundial tem a possibilidade de viver mais de 60 anos e esta situação impacta cidades, edifícios, sistemas de saúde, assistência social e orçamentos públicos.

Como governos e pessoas vem tratando este assunto?

Redigido pela Organização Mundial da Saúde – OMS, agência da Organização das Nações Unidas – ONU responsável pelas diretrizes que organizam as discussões de uma agenda internacional que trata das questões de saúde, o Relatório Mundial sobre Envelhecimento e a Saúde aponta respostas a estes desafios e recomenda mudanças na maneira de formular políticas para o envelhecimento da população e na prestação de serviços públicos.

A imagem que temos dos idosos muitas vezes foi construída lá na infância. Dos desenhos animados que assistimos na TV ou nos nas imagens que ilustram os livros infantis, os idosos são retratados como indivíduos frágeis, de cabelinhos brancos e cabelo preso, curvados utilizando bengalas…

Suposições e percepções construídas que carecem de fundamentação científica, geram discussões sobre estereótipos obsoletos e vem pautando as questões sobre os idosos. Quem já ne se viu pensando numa pessoa mais velha como a imagem acima que ilustra os contos dos irmãos Grimm?

Se não existe uma “pessoa típica”, então não há como associar um “idoso” ou o “velho” utilizando a imagem “típica” dos desenhos animados e contos.

Somos todos AGELESS!

Figura 2: Com seus 97 anos, Iris Apfel é uma das mulheres mais famosas e inspiradoras do mundo da moda. O sucesso nos negócios e a fama só aconteceram depois dos seus 80 anos. mesmo com a mobilidade reduzida, é uma mulher ativa e permanece no comando de suas empresas ainda hoje.

Rastejar, gatinhar, ficar em pé, aprender a andar, correr, pular, nadar e tantas outras habilidades desenvolvidas até a vida adulta, começam a modificar-se com o passar dos anos.

E mais: dados empíricos apontam que a perda das habilidades e capacidades do corpo e do intelecto estão apenas parcialmente relacionadas à idade cronológica. A diversidade resultante no âmbito da saúde dos idosos não é aleatória e nem sempre se aplica a todo o grupo “acima de 60 anos” por exemplo.

As habilidades e necessidades baseiam-se em eventos que ocorreram ao longo da vida. Embora a longo prazo a maioria das pessoas idosas sofra vários problemas de saúde, a velhice não implica necessariamente dependência. O relatório aponta que, o contrário do que se crê, o envelhecimento tem menor influência nas despesas com saúde do que outros fatores, como o alto custo de novas tecnologias médicas e demais prestações de serviços associados a estas tecnologias.

Há oportunidade de redirecionar as discussões levando-as para o campo das oportunidades a partir de uma série de ações concretas que podem ser adaptadas para uso em países de todos os níveis de desenvolvimento econômico.

A agenda internacional de discussões contemporânea sobre o tema enfatiza o envelhecimento saudável e a independência funcional. É uma discussão muito maior do que àquela associada à ausência de doença. Os maiores gastos encontram-se na promoção da capacidade funcional do corpo e do intelecto para a manutenção da dignidade e da independência. A abordagem deve ser concentrada na revisão dos sistemas de saúde de um modelo puramente curativo para um modelo de prestação de um cuidado integral focado nas necessidades dos idosos.

Cabe aos governos rever sua concepção de envelhecimento e criar políticas públicas, projetos, programas e ações que invistam nas adaptações necessárias para a construção de um mundo favorável a todas as fases da vida.

O que penso da minha idade cronológica? “Velha é a vovozinha ageless”! uma vida é pouca para tudo o que desejo realizar!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Age-friendly world: ou ainda, cidades para todas as fases da vida

Fonte: “- pondering” by Jack Kurzenknabe is licensed under CC PDM 1.0 

Ambientes favoráveis ao envelhecimento são aqueles que influenciam e oferecem experiências e oportunidades positivas à vida urbana em qualquer idade ao reconhecer e incluir em seu planejamento que tanto o corpo quanto a mente mudam com o passar dos anos. Incorporam na concepção de seus projetos e ações as mudanças pelas quais corpo e intelecto passam numa fase mais madura da vida, entendendo que os cidadãos têm o direito de viver física e socialmente no lugar que escolheram de forma ativa, produtiva, segura, autônoma, digna enfim.

Para atender à crescente demanda por cidades que atendam às expectativas dos idosos, a Organização Mundial da Saúde – OMS criou um programa direcionado à promoção de ambientes que favoreçam um envelhecimento saudável e ativo. Denominado Age-Friendly World, o programa é adotado por mais de mil cidades em 40 países que compõem uma Rede Global de Cidades e Comunidades favoráveis ao processo de envelhecimento, conhecidas no Brasil como Cidades Amigas do Idoso. Vale ressaltar que o termo Age-Friendly World carrega um conceito mais profundo que não se restringe apenas à população idosa. Trata-se de conceber, planejar, projetar, desenhar cidades para atender a todas as idades e fases da vida de indivíduos, famílias e comunidades.

Ser membro do programa ou receber o Certificado da OMS não significa que as cidades tenham adaptado seus ambientes de forma parcial ou plena. É um reconhecimento dado ao compromisso assumido pela governança local para adaptar a cidade às diretrizes da rede mundial.

Dentre as diretrizes do programa da OMS, destacam-se as ações que devem atender aos oito domínios ou ainda boas práticas para o exercício da vida cotidiana em cidades e que podem impactar na qualidade de vida e saúde da população. São eles:

• Espaços ao ar livre e edifícios;
• Transportes;
• Habitação;
• Participação social;
• Respeito e integração social;
• Participação cívica e emprego;
• Comunicação e informação;
• Apoio da comunidade e serviços de saúde.

Além destes 8 domínios ou práticas e ações, mais uma categoria foi incorporada:

Escolhas locais

Em nosso próximo post, falaremos sobre este e outros assuntos vinculados ao urbanismo e à adaptação e projeto de nossas cidades para todas as fases da vida.

 

 

Podcast comentado do post: O design das cidades está se adaptando ao envelhecimento da população?

Neste podcast, falo sobre o processo de envelhecimento da população brasileira e sobre a necessidade urgente de revermos nossa forma de pensar, conceber e realizar planejamento urbano e projetos de ambientes construídos.

Se quiser conhecer o post, o link está logo aqui:

Melhorando com a idade? Como o design das cidades está se adaptando ao envelhecimento da população

 

Melhorando com a idade? Como o design das cidades está se adaptando ao envelhecimento da população

Estamos envelhecendo e o design de nossas cidades precisa mudar também. Se quisermos ruas, calçadas e praças mais agradáveis e aprazíveis, formuladores de políticas públicas e designers/projetistas do ambiente construído deverão adequar seus conceitos e projetos para as mudanças funcionais do corpo e do intelecto. Planejar as cidades para que as pessoas continuem ativas ao longo do tempo melhora a qualidade de vida urbana. Se por um lado com o avançar dos anos as pessoas tendem a não dirigir seus veículos, por outro lado as políticas públicas deverão incluir em suas agendas, ações que garantam um transporte público mais eficiente e resiliente às necessidades das pessoas. Outro exemplo é a questão da velocidade. Já não se trata mais de discutir buracos na calçada ou manutenção medíocre. Nos acostumamos à gestão pública horrenda de prefeituras e governos seja lá qual for a instância. Precisamos lembrar que daqui a pouquíssimos anos a velocidade do caminhar urbano será reduzida a 3 km/hora; o que muda? Passeios públicos, esquinas e calçadas além de não escorregadias e lisinhas, deverão ter mobiliários ao longo de seu trajeto adequados às novas necessidades: não se trata apenas de lixeiras. Trata-se de lugares para sentar, com iluminação na altura do pedestre, sinalização semafórica adequada ao passeio de seres humanos com mobilidade reduzida, sombreamento, sinalização vertical na altura do pedestre incluindo caixas de texto legíveis e com contrastes adequados para todas estas mudanças. No último parágrafo do artigo, a cidade de Manschester aponta para um caminho: a forte liderança política que os cidadãos mantém, ou seja, pessoas comuns organizadas em grupos pressionam seus representantes políticos de tal forma que suas demandas são ouvidas. Estes são apenas alguns dos exemplos.

Apesar de não se adaptar perfeitamente à realidade brasileira (com todas as desigualdades econômicas, sociais, culturais que estamos fartos de saber e cobrar de nossos representantes públicos) gostei do texto e de fato acredito que pode inspirar novas pesquisas e cobranças de ações mais práticas de nossos vereadores e prefeitos. Por isso, deixo aqui neste post para reflexão de vocês. A tradução é livre: significa que pode haver erros de interpretação de minha parte. ok?. O original está neste link:
Fonte:
Improving with age? How city design is adapting to older populations Disponível: http://bit.ly/2sIjKAd Acesso: 04.12.2019

elderly womanUma Mulher idosa no centro da cidade de Stockport. Foto: Christopher Thomond / The Guardian

O texto trata destas questões e mais:

Melhorando com a idade? Como o design da cidade está se adaptando às populações mais velhas.

À medida que as cidades passam por uma mudança demográfica, a necessidade de um design/projeto “amigo do idoso” se torna cada vez mais crítico. De almshouses a carros sem motorista, o futuro da habitação urbana e da mobilidade pode ser moldado “apenas para” e sim, “para os idosos”.

Não há como negar: gostemos ou não, estamos todos ficando mais velhos. Segundo o relatório da ONU sobre a População Mundial,a população global de idosos está crescendo a uma taxa sem precedentes. Em 2050, pela primeira vez na história, haverá um número maior de pessoas com mais de 65 anos do que crianças menores de 15 anos. O número de pessoas com mais de 100 anos aumentará em 1.000%. E como até lá cerca de 70% da população do mundo provavelmente viverá em cidades, isso apresentará enormes desafios levando à necessidade urgente de adaptação física destes aglomerados.

A empresa global de engenharia Arup analisou como as autoridades estão respondendo a essa mudança demográfica. Stefano Recalcati, líder do projeto por trás do relatório da empresa Shaping Aging Cities, explica que as cidades precisam se ajustar para que as pessoas mais velhas mantenham a qualidade de vida: “É importante estar consciente da tendência de envelhecimento. É um enorme desafio para as cidades do mundo – elas precisam mudar, para garantir que as pessoas mais velhas continuem a desempenhar um papel ativo na comunidade e não fiquem isoladas. O isolamento tem um impacto negativo na saúde, portanto é muito importante lidar com isso. ”

“Pequenas inovações podem fazer a diferença”, acrescenta Recalcati. “As pessoas mais velhas têm menos probabilidade de dirigir, favorecendo o transporte público e a caminhada. Uma pessoa média com mais de 65 anos consegue uma velocidade de caminhada de 3 km / hora. Aos 80, isso diminui para 2 km / hora, em comparação com a média para uma pessoa em idade ativa de 4,8 km / hora. Reduzir a distância entre pontos de transporte, lojas, bancos, árvores à sombra, banheiros públicos e melhorar as calçadas e permitir mais tempo para atravessar a rua incentiva todos os idosos a sair. ”

No Reino Unido, o governo acaba de anunciar a construção de 10 novas cidades projetadas para lidar com problemas de envelhecimento e saúde, como a obesidade. Além de incentivar estilos de vida mais ativos, os projetos podem incluir calçadas mais amplas, poucos riscos de viagem e sinalização em movimento no LCD, facilitando a navegação pelas ruas para pessoas com demência e outras condições relacionadas à idade. A organização de caridade Living Streets, com sede em Londres, também tem trabalhado ao lado de comunidades que realizam auditorias nas ruas com moradores mais velhos para ver quais melhorias poderiam ser feitas, além de fazer campanhas em nível estratégico para influenciar mudanças legislativas e de infraestrutura positivas. O projeto Time to Cross fez uma campanha para aumentar o tempo de travessia de pedestres, o que resultou na concordância de uma Transport for London (TfL).

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“Permitir mais tempo para atravessar a rua incentiva as pessoas mais velhas a sair”. Fotografia: Francisco Calvino / Moment Editorial / Getty Images

As cidades que abordaram a acessibilidade provavelmente estarão à frente do jogo em termos de idade. Nos últimos anos, foram feitos esforços para tornar as cidades mais acessíveis aos residentes e visitantes com deficiência e idosos. Berlim tem como objetivo 100% de acessibilidade até 2020. As autoridades da cidade estão trabalhando para ampliar as calçadas, trazer orientações táteis nas travessias das estradas e facilitar o acesso a bondes e ônibus. Este ano, Milão venceu o premiação da Comissão Européia intitulado Acess City Award por seu alto padrão de projeto de construção e acesso ao transporte.

Que lições os planejadores urbanos podem aprender observando as comunidades de aposentadoria existentes? São populares nos EUA e crescem em outras partes do mundo: cidades separadas, geralmente fechadas, para maiores de 55 anos. Deane Simpson, arquiteta que ensina na Academia Real de Artes da Dinamarca, em Copenhague, falou recentemente em um evento organizado pelo Museu de Arquitetura e pelo The Building Centre, em Londres, sobre o projeto de cidades para uma população envelhecida. Em seu livro, Young-Old: Urban Utopias of an Aging Society (Lars Müller Publishers, 2015), Simpson analisa comunidades como as de 55 a 75 anos aposentadas e com boa saúde e dinheiro para gastar. A proposta urbana denominada The Villages in Florida, é uma rede de empreendimentos de “vilas” que abriga 115.000 pessoas com mais de 55 anos interligadas por uma sistema de 150 quilômetros de estradas de carrinhos de golfe sem automóveis individuais – e oferece uma vida de restaurantes, bares, cinemas e esportes.

Simpson critica a maneira como esse tipo de estilo de vida separa as pessoas do resto da sociedade, com a idade se tornando uma nova forma de segregação. No entanto, ele aceita que eles reflitam o desejo de um estilo de vida ativo e cheio de experiência. Simpson admite que existem certos elementos que poderiam ser aplicados a um cenário urbano multigeracional: “A infraestrutura de carrinho de golfe fornece uma rede de transporte para veículos mais lentos que carros. Isso poderia ser replicado como uma maneira de integrar scooters de mobilidade e cadeiras de rodas elétricas e bicicletas. Na Dinamarca e na Holanda, onde a cultura do ciclismo é forte, as ciclovias são cada vez mais usadas pelos motonetes/patinetes. É uma maneira de permitir uma mobilidade segura para aqueles que não conseguem andar e não conseguem dirigir. ”

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Utopia da mobilidade ou refúgio exclusivo? Carrinhos de golfe são o principal transporte nas aldeias da Flórida. Foto: Alamy

O modelo americano de comunidades de aposentados está sendo cada vez mais exportado. Na China, mais de um quarto da população terá mais de 65 anos até 2050. Os idosos são tradicionalmente atendidos pela família extensa – geralmente com três gerações vivendo juntas. Mas as mudanças demográficas estão desafiando severamente essa unidade familiar. A política de um filho combinada com uma expectativa de vida mais longa significa que um casal típico pode cuidar de quatro pais e até oito avós.

Há um aumento nos esquemas de vida assistida, como o Merrill Gardens, projetado nos EUA, em Xangai e Harbin. O Lead 8 é um estúdio de arquitetura e design que trabalha na região; seu cofundador e diretor Simon Blore explica que eles trabalharam em novos desenvolvimentos na China, que são 80-100% voltados para grupos de idosos. “Tentamos manter a escala de uma típica vila chinesa; todas as necessidades são atendidas a uma curta distância a pé (os idosos na China não têm carros e nem podem mais usar bicicletas). Sobreposto a isso, encontra-se um sistema de clínicas de saúde ‘locais’, serviços essenciais, espaços abertos e instalações de lazer, que não são tão diferentes das moradias assistidas, mas em uma escala muito maior. ”

Blore tem reservas sobre se a vida de idosos no estilo americano será amplamente aceita: “Eu acho que a maioria das pessoas quer fazer parte da sociedade regular, parte da comunidade, então isso provavelmente é um desafio internacional – tentar conseguir esse equilíbrio corretamente – um lugar com um alto nível de atendimento e um senso de comunidade e um relacionamento com a sociedade em geral. ”

A Lead 8 está trabalhando em um complexo residencial da Malásia em Kelana Jaya, perto de Kuala Lumpur, que poderia oferecer uma solução. “Em cada andar, há planos de tamanhos diferentes, um com o outro e uma parede que pode ser derrubada. Um proprietário pode comprar dois apartamentos contíguos – um grande e um pequeno. A família vive na casa grande com os avós ao lado, e eles podem ser separados ou interconectados. ”

A integração, em vez da segregação, é defendida pelo arquiteto londrino Stephen Witherford. Sua empresa, Witherford, Watson, Mann Architects, construirá um complexo de 57 apartamentos para maiores de 75 anos em Bermondsey, Londres. O projeto é baseado no modelo tradicional de alojamento de caridade para aposentados, mas atualizado para o século XXI. “Tradicionalmente, as almshouses ficavam atrás de uma cerca”, explica Witherford, “mas queríamos criar uma versão que resolvesse o problema do isolamento. Terá um lounge que se abre diretamente para a rua principal.” Haverá uma escola de culinária, espaço para apresentações, espaços diversos na cobertura e uma oficina. Os moradores podem realizar feiras de artesanato, vender bolos e realizar ou assistir a peças de teatro. “O público pode entrar e se envolver. As comodidades estão próximas e há uma parada de ônibus do lado de fora para viagens à cidade.”

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Pátio interno de um complexo de apartamentos no sul de Londres, projetado para maiores de 75 anos. Composto: Witherford Watson Mann

Repensar os projetos tradicionais também é uma prioridade para Susanne Clase, arquiteta da White Arkitekter, que está projetando apartamentos para idosos em Gotemburgo, na Suécia, e incluindo potenciais residentes e profissionais de assistência domiciliar na tomada de decisões. Ela explica que os apartamentos foram projetados para acomodar visitas regulares de profissionais que ajudam em tarefas pessoais: “em nosso projeto, os espaços públicos e privados são revertidos. O quarto e o banheiro ficam na porta da frente para que o cuidador possa acessá-los. A sala de estar e a cozinha ficam na parte de trás e são o espaço privado do residente. ”Clase acredita que projetar com o envelhecimento em mente é bom para todos. “É importante ajudar as pessoas a viver de forma independente pelo maior tempo possível e projetar isso desde o início, em vez de fazer adaptações mais tarde. Já temos um alto nível de acessibilidade na Suécia. Você não terá permissão para construir, a menos que possa mostrar que, se o residente quebrar uma perna, não haverá problema. Então, já estamos pensando no futuro.”

Embora gestores públicos europeus estejam olhando para o futuro, no Japão o futuro já chegou. O país tem a população mais antiga do mundo: 33% tem mais de 60 anos, 25% acima de 65 anos e 12,5% acima de 75 anos. “O Japão tem muito idade, então o governo está priorizando tornar as cidades mais amistosas e resilientes ​​à idade”, diz Setsuko Saya, chefe de política regional na pesquisa liderada pela OCDE sobre o envelhecimento nas cidades. Toyama, local em que 26% dos moradores têm mais de 65 anos, adotou o princípio de uma cidade compacta – que promove alta densidade, transporte público, caminhadas e ciclismo. O objetivo é evitar a expansão urbana que pode ser tão isolada para pessoas com mobilidade limitada. Apesar de estar em uma grande área de terreno plano, que poderia ser desenvolvida, a política não é expandir para fora. Um bonde circunda a cidade e o investimento é focado ao longo da linha do bonde e no centro da cidade, onde existem espaços públicos para as pessoas se reunirem. As pessoas vivem em áreas residenciais limitadas, próximas aos serviços e com bons transportes públicos – portanto, não precisam dirigir. Saya ressalta que é importante não caracterizar o envelhecimento como um problema e reconhecer que essas estratégias não apenas ajudam as pessoas mais velhas: “O bonde conecta as pessoas e também as transporta. É bom para todos. ”

Embora o desenvolvimento do transporte público seja importante, sempre haverá quem não consiga acessá-lo. Um relatório do Reino Unido do International Longevity Centre constatou que, apesar do transporte ser gratuito para maiores de 65 anos, mais de 30% deles não usam o serviço. Nesses casos, os carros autônomos são apresentados como uma solução que pode “libertar” os idosos, como um serviço de mobilidade para aqueles que não podem mais dirigir e não são atendidos pelo transporte público. O Google está até “direcionando” seus carros autônomos para aposentados. A cidade de Suzu, no norte do Japão, já vem testando o uso de carros autônomos para manter os idosos em movimento.

Mas como essas inovações funcionarão em uma era de austeridade, aposentadorias reduzidas, aposentadoria posterior e aumento dos custos de moradia? O design compatível com a idade pode nos ajudar a repensar nossas cidades, mas como podemos garantir que essas inovações atinjam a maioria das pessoas mais velhas? Olhando para o futuro, com a expectativa de que a geração do milênio seja mais pobre do que os pais de baby boomers, é improvável que os jovens incapazes de subir na escada da habitação hoje tenham equidade na velhice. O professor Christopher Phillipson, da Universidade de Manchester, acredita que é necessária mais vontade política para garantir que cidades favoráveis ​​à idade incluam as afetadas pela austeridade e pelo declínio industrial: “cidades favoráveis ​​à idade custam dinheiro, mas no Reino Unido há menos dinheiro disponível para as autoridades locais que desejam agir . Existem barreiras consideráveis ​​- devido às pressões orçamentárias e ao comprometimento limitado dos formuladores de políticas e desenvolvedores. Na ausência destes, a possibilidade de criar ambientes amigáveis ​​para a idade será restrita. ”

Em Manchester, a primeira cidade do Reino Unido a ser reconhecida como favorável/amiga à idade pela Organização Mundial da Saúde, o Manchester Institute for Collaborative Research on Ageing (Micra) vem capacitando idosos para pesquisar o que faz uma cidade amiga da idade. Eles descobriram que, para a maioria das pessoas, era importante o contato humano, e não os aparelhos de alta tecnologia – como visitas comunitárias de porta em porta para pessoas incapazes de usar o transporte público. “Manchester é favorável à idade porque tem forte liderança política e a cidade apoia grupos de bairro e trabalha com líderes comunitários”, continua o professor Phillipson. “O mais importante é a colaboração entre uma ampla gama de interesses, principalmente os idosos.”

Tudo depende de como você vê e entende as coisas

Fonte: Acesse Portal

Descrição da imagem #PracegoVer: Imagem no formato retangular, na horizontal. Alguns livros estão sobrepostos em cima de uma mesa. Fim da descrição.
Arquiteta reflete sobre as formas de ver as coisas (Foto: Divulgação)

Por: Helena Degreas*

Como de costume, numa manhã ensolarada de domingo, lá fomos nós: meu marido, eu, Ricotinha e Chanel fazer um passeio a pé. No caminho, paramos para tomar um café na Livraria da Vila, na região conhecida como Jardins, em São Paulo (SP). Lá, nossos comportados pets são bem-vindos.

Enquanto os três foram ouvir jazz no andar de cima, eu desci as escadas para ver as novidades infanto-juvenis. E por que esse setor especificamente? Porque precisava espairecer. No dia anterior, eu havia preparado algumas aulas que tratavam de temas difíceis como acessibilidade, desenho universal e tecnologias assistivas, entre outros. Semestralmente atualizo o material do e procuro novas informações, técnicas, materiais e ideias. Começo pelos significados das palavras. Conceito mal definido, vira pré-conceito. Em arquitetura, posso traduzir por desastre na vida das pessoas…

Amo livrarias. Essa em especial. Tem de tudo muito! É como uma feira de novidades. Sobre o expositor, esbarro com o título “Tudo depende de como você vê as coisas” do escritor Norton Juster. Abri aletoriamente:

“Esta é Dicionópolis, capital de um reino feliz, magnificamente situado no contraforte da Confusão e acariciada pelas brisas suaves do mar do Conhecimento”.

Mais adiante, leio ‘Bem-vindos ao mercado das palavras’. Ao longo do texto, o autor brinca com as palavras e, ao tirá-las do contexto, muda as ideias de lugar criando situações inesperadas. Para o bem e, em alguns momentos, para o mal.

Pareceu interessante. Comecei a devorá-lo lá mesmo, entre gritarias, contadores de histórias e mães teclando no celular.

É impressionante o festival de confusões que acontecem quando utilizamos palavras de maneira inadequada. Cada uma delas traz consigo uma definição. As definições encontram-se em… Livros e textos diversos que as definem, ora… podemos encontrá-las em dicionários diversos, dicionários profissionais, impressos, mídias digitais… um mundo de possibilidades! Aquelas que compõem o léxico profissional devem ser encontradas em dicionários especializados na área em que estamos trabalhando.

Li outro dia, não lembro bem onde, que a língua é um sistema de representação cognitiva do universo pelo qual construímos nossas relações. Nada mais adequado do que iniciar uma disciplina, por meio da definição de conceitos. Pela forma como nos comunicamos, nos expressamos, seremos compreendidos, incluídos em grupos sociais diversos. Expressamos o que vemos e entendemos por meio de palavras. E aí… tudo depende de como vemos as coisas…

Apesar da falta de paciência dos universitários para com a palavra, a leitura, a pesquisa – todos querem ir direto à solução projetual e de forma mágica, as tais palavrinhas às quais me refiro quando leciono os princípios do desenho universal são fundamentais para a correta abordagem do tema e da sua aplicação nas propostas de projeto de arquitetura, urbanismo, paisagismo, produto entre outros. Aparentemente não percebem, mas o repertório vocabular é uma espécie de passaporte que irá incluí-los no ambiente profissional quando egressos.

À título de ilustração, num seminário de alunos realizado por jovens apressadinhos e pouco afeitos à leitura e pesquisa (indiquei as fontes, mas os lindinhos decidiram, de última hora, procurar em outro lugar), foi apresentada a definição e alguns sinônimos do verbete ‘normal’. Procuraram onde? No Dicionário Informal e na Desciclopédia… quase cortei meus pulsos…. Os dois são construídos de forma colaborativa. Ou seja: os usuários inserem a sua definição, bastante peculiar… bem autoral…. Enquanto no primeiro o humor é politicamente incorreto do tipo soft, no segundo o politicamente incorreto vira um pouco hardcore… vou omitir o resultado da apresentação… essas pessoinhas irão me encontrar novamente nesse semestre e na mesma disciplina…

Outro dia, li a coluna do Leonardo Reis – Crônicas do Gigante Leo –, aqui mesmo, no portal Acesse. Em sua crônica, o Gigante Leo sentia-se perplexo e chateado com o uso da palavra ‘normal’. Foi atrás do significado em um dicionário online e citou uma das várias definições: “sem defeitos ou problemas físicos ou mentais”. Associou a definição encontrada e selecionada, à exclusão. E, a partir dela, discorreu sobre questões de inacessibilidade do ambiente construído. Nesse momento, eu fiquei preocupada.

Normal e comum são verbetes muito, mas muito utilizadas de maneira equivocada. Concordo com o Leo. É como se o comum, o corriqueiro fossem a norma. A partir daí posso entender a decepção do colega.

Mais do que a palavra, entendo que é a forma como a utilizamos. O seu contexto. Mas, em terras brasileiras, além do contexto no uso das palavras, temos também o contexto urbano, cultural, educacional. De tão corriqueira que é a falta de gestão do ambiente construído em nossas cidades e de tão comum que é o desrespeito para com as normas edilícias, que para os nossos jovens o ruim e os erros transformam-se em regra. Pior: nem percebem que existe outra forma mais adequada para atender as necessidades das pessoas com qualidade.

Gerações e gerações de jovens nascem, crescem e vivem em ambientes que resultam de erros que de tão repetidos, transformam-se em norma. Associada a esses fatos, em qualquer cidade brasileira, predomina a cultura da autoconstrução. Profissionais de projeto, para quê? Tenho certeza que alguns leitores já fizeram alguma reforma por conta própria ou contratando algum pedreiro, empreiteiro…. Podemos incluir também na discussão, os poucos anos de escolaridade da imensa maioria de brasileiros e a formação rasa (com raras exceções) de nossas escolas públicas e também particulares.

Depois de anos em salas de aula, formam analfabetos funcionais. São jovens e adultos que decodificam letras, frases, textos curtos, mas são incapazes de compreendê-los. Apenas 8% das pessoas em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números, segundo matéria do portal UOL

Longe, mas muito longe dos profissionais, essa situação, por si só, gera erros grotescos e várias ilegalidades em diferentes níveis e graus de complexidade. Mais um dado: para nós, projetistas de espaços que abrigam a vida das pessoas, não existe a reprodução do comum, do corriqueiro, a cópia como processo de projeto. É impossível. Indivíduos, famílias ou agrupamentos sociais têm necessidades únicas para morar, recrear-se, socializar-se ou trabalhar.

O que de comum existe entre todos é que, quando contratado um projetista (sejam eles arquitetos, engenheiros, designers e tantos outros), impõe-se a ele tanto a realização de pesquisas profundas sobre as necessidades das pessoas e de funcionamento do local, quanto a obrigatoriedade do cumprimento das leis urbanísticas, dos códigos de obras e demais normas da cidade, do estado e do país. Submetemo-nos todos a elas e sem discussão. Numa de suas aulas (brilhantes, por sinal), o arquiteto Marcelo Sbarra discorre sobre o papel das normas e legislações na produção de um projeto de arquitetura e apresenta as mais de mil normas associadas à pratica profissional (CLIQUE AQUI e AQUIse quiserem conhecer mais), tais como Posturas Municipais, Códigos de Obras, Planos Diretores, Zoneamentos, Bombeiros, NBR’s, Anvisa, etc. Todas elas compõem o vasto arcabouço de conhecimentos normativos e legais que devem ser considerados no ato de projetar.

Portanto, aqui por nossas terras Léo, para a nossa tristeza, o normal ainda é construir fora da norma. É normal não ler. É normal o poder público não fiscalizar. O comum é o jeitinho brasileiro que encontra-se muitas vezes à margem da lei. O tal jeitinho, por sua vez, cria equívocos conceituais. Quando erros e compreensões equivocadas se materializam, criam barreiras, muralhas inteiras que nos impedem de realizar nossas vidas em espaços públicos urbanos. Concordo, Leo: imperam em nossas paisagens urbanas, a materialização de pré-conceitos. Como só a educação muda o mundo, vamos nós dois, nesse espaço acessível. Contribuindo com a mudança.

 

Descrição da imagem #PraCegoVer: A imagem está no formato retangular, na vertical. Nela, está a arquiteta Helena Degreas em um retrato preto e branco. Helena tem cabelos loiros, ondulados, um pouco abaixo dos ombros. Ela está com o corpo de lado e com os braços cruzados. Helena usa uma blusa branca, com botões.Fim da descrição.
Foto: Divulgação

*Helena Degreas é arquiteta e atua como professora do Programa de Mestrado Profissional em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano do FIAM-FAAM Centro Universitário. Leciona nas áreas de Design Universal e Planejamento Urbano.

 

Bem-vindos à sala de aula urbana!

Com o objetivo de formar cidadãos e futuros profissionais autônomos e participativos nos processos de produção de nossas cidades, laboratórios experimentais e escritórios-modelo vem acolhendo práticas pedagógicas experimentais que tornam o aprendizado mais significativo para os alunos ao propor a valorização da prática e da experimentação. É nesse contexto que surge o projeto acadêmico “Arte à Vista: um presente dos alunos do Instituto de Cegos Padre Chico e do FIAM-FAAM para a cidade!”.

Utilizando como ponto de partida do processo ensino-aprendizagem o ABP – Aprendizagem Baseada em Projetos, professores e alunos de diversos cursos foram convidados a participar da proposta de trabalho que consistia em colaborar na criação de um ambiente urbano em homenagem à Sra. Dorina Nowill. O bairro em que se realizou o trabalho é a Vila Mariana, cidade de São Paulo, local onde encontram-se diversos serviços de saúde, clínicas, hospitais e ONGs especializadas no atendimento de pessoas com deficiências funcionais distintas. Dentre elas, encontra-se a Fundação Dorina Nowill, referência mundial no atendimento e orientação de pessoas cegas e com baixa visão.

Por se tratar de prática pedagógica complexa que envolve ações na cidade, os professores vincularam às técnicas do ABP, processos de planejamento, projeto e construção de espaços públicos de forma coletiva e colaborativa inspirado nos conceitos Placemaking e Urbanismo tático. Os objetivos pedagógicos da ação pretendem estimular o trabalho em equipes multiprofissionais (e com ela a vontade de explorar novos territórios de conhecimento), a colaboração, a criatividade, a busca por soluções inovadoras e o “fazer” como experiência transformadora.

Desafio proposto: criar um “lugar” urbano a partir das necessidades dos usuários da região (moradores, alunos e visitantes) e, ao mesmo tempo, homenagear Dorina Nowill colaborando na indicação de seu nome para uma praça ainda sem designação em frente à escola.

As ações propostas para resolver o desafio:
– Redigir a proposta de trabalho, definir os objetivos, as ações, os envolvidos, as etapas de trabalho, os meios e o cronograma.

Foram selecionadas algumas das principais etapas percorridas entre os meses de setembro e outubro de 2016 por todos os envolvidos no projeto e que ilustram parte da trajetória que gerou o resultado apresentado.

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  1. As etapas:

    Elaboração da arte tátil: Alunos do curso fundamental do Instituto Padre Chico – Colégio Vicentino Padre Chico utilizaram as aulas de Educação Artística para criar desenhos tridimensionais inspirados pelas Paralimpíadas que ocorreram no Rio de Janeiro em 2016. Com tampinhas de garrafa e palitos de sorvete, as crianças e adolescentes que todos os anos produziram mais de uma centena de desenhos em alto relevo com o tema proposto sabendo que o material faria parte de um painel gráfico.

    Preparo das cerâmicas: No ritmo de uma maratona, dezenas de alunos universitários prepararam a argila – amassaram e formataram em moldes de 15cm x 15cm para receber e estampar a arte das crianças do IPC, agora, em baixo relevo.

    A queima: cerca de duas centenas de placas cerâmicas foram enviadas para queima nas oficinas da universidade. Embaladas uma a uma, todas foram reencaminhadas para o local onde seriam fixadas pelos alunos.

    A fixação no muro: tanto o período de chuvas quanto o conhecimento das técnicas de colocação de azulejos, não foram previstos no projeto. Para resolver os problemas, os alunos improvisaram uma oficina de azulejaria com colaboradores externos à instituição. Um azulejista foi contatado para colaborar na orientação da fixação e problema foi resolvido com a colocação das plaquinhas no muro. Quanto às chuvas… os alunos aguardaram os períodos de estiagem para dar andamento aos trabalhos.
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    Arte Gráfica: a criação do projeto do mural pelos professores e alunos do curso de Design Gráfico que cobriu as empenas cegas dos muros do campus foi elaborada incorporando as plaquinhas com a arte das crianças do IPC.

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    Espaço de Estar Urbano – inspirando-se nos princípios de ação do DIY & tactical urbanism, foi organizada a “Sala na Cidade” – proposta que pretende disseminar a criação de lounges urbanos espalhados pela cidade, ou ainda, lugares de estar públicos construídos em sobras de sistemas viários. Para resolver o problema da aglomeração na entrada e saída da faculdade, foi desenvolvido o layout de um ambiente leve e descontraído para acolher não só os moradores da região bem como os alunos redirecionando-os para uma sala de estar localizada numa área ao lado e que apresentava as dimensões adequadas para acolher a todos com mais conforto e segurança. Por se tratar de intervenção DIY, o processo durou cerca de 4 horas para a instalação. A sala recebeu mesas, bancos em concreto, vasos e tapetes pintados no chão. Tintas, cerâmicas, concreto e alegria contagiante impactaram positivamente o lugar antes inexpressivo. Durante o processo de construção do local, a vizinhança observava curiosamente, as ações. Plantando flores nos vasos espalhados nas calçadas ou sentando-se nos bancos recém instalados, moradores dos prédios vizinhos começaram a utilizar a sala de estar e a observar a arte dos muros como algo aconchegante e familiar.

     

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A utilização de recursos advindos do ABP e a possibilidade de ação direta na realizada vivida pelos alunos por meio do urbanismo tático fornecem um contexto real para o aprendizado, pois as situações apresentadas geram uma “necessidade real de saber”, ou ainda, tem a “relevância necessária”, motivando-os a gerar as soluções com o objetivo de atender a demanda ou ainda resolver a situação-problema apresentada. Como os projetos são “abertos”, os alunos devem fazer escolhas, encontrar soluções, explicá-las de forma personalizada. Associado ao ABP e às orientações da ONG Cidade Ativa, o escritório-modelo adotou algumas das características do:
Placemaking: para o desenvolvimento do projeto de intervenção do local, foram aplicados vários instrumentos de pesquisa com o objetivo de compreender o perfil do futuro usuário e seus desejos. Foram aplicadas entrevistas abertas, questionários, painéis interativos, medições físicas e medições comportamentais (contagens que avaliam as atividades do local ao logo do dia -manhã, tarde e noite por meio do mapeamento de fluxos e permanências) além da análise dos sete critérios desenvolvidos pela equipe do arquiteto Jan Gehl (GEHL, 2013) e Active Design Guidelines (NYC, 2013), a saber: segurança, proteção, acessibilidade, diversidade/versatilidade, atratividade, conectividade, resiliência e sustentabilidade.

Urbanismo tático:
Para a construção real dos projetos, é necessária a realização de planejamento de ações a curto e médio prazo com estratégias de transformação de ambientes urbanos rápidas e de baixo custo, materializando ideias para estimular o exercício de uma cidadania ativa que geram impacto positivo na qualidade de vida das pessoas. Por se tratar de um escritório-modelo que avalia o processo de criação e solução de problemas de alunos, é possível desenvolver ações transformadoras com diversos atores sociais para além do campus universitário, intervindo por meio de ações concretas, na solução dos desafios cotidianos de nossas grandes cidades.

Todas as atividades descritas envolvem habilidades elevadas de raciocínio que requerem o domínio de tecnologia e desenvolvimento de pensamento crítico. A abordagem de temas complexos para a resolução de problemas em comunidades locais, demanda pensamentos inovadores e, para tanto, os cursos superiores deverão trabalhar a formação de profissionais que trabalhem de forma colaborativa, administrem diversas fontes de informação, disciplinas, recursos disponíveis, como tempo e materiais, competências e estratégias nos campos de atuação pessoal, emocional, profissional, social e técnica.
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Fotos: acervo FIAM-FAAM Centro Universitário, outubro de 2016.

*Este trabalho foi realizado por vários voluntários e parte de seu texto está no blog do escritório modelo. Se quiser conhecer a ação realizada para o Global Days of Service,
acesse aqui.

Texto: Helena Napoleon Degreas, Adriana Valli Mendonça, Lilian Regina Machado de Oliveira e Cidomar Biancardi Filho

 

Revista Casa Projeto & Estilo: Luxo & Acessibilidade

Danielle Rey, Emmanoel Pires, Érika Nunes, Fábio Yasumoto, Lucas Crepaldi e Olavo Leme

Alunos:
Danielle ReyEmmanoel PiresÉrika Nunes, Fábio Yasumoto, Lucas CrepaldiOlavo Leme
ProfessorasHelena Degreas e Renata Mello
Escritório ModeloAcessibilidade Universal
CursosDesign de Interiores e Arquitetura e Urbanismo

Clientes:

Família contemporânea formada pelo casal (ele é jornalista, 45 anos com habilidades funcionais motoras reduzidas e ela, arquiteta, 40 anos e 1.50m) e três filhos (meninos de 10 e 18 e menina de 16), tem vida social intensa. Encontros, recepções, festas, reuniões de amigos e família fazem parte da rotina de todos os seus membros. Para atender a demanda, os ambientes foram integrados tanto física quanto visualmente sem perder as qualidades estéticas e o conforto. Tecnologias de ponta e planejamento de sistemas áudio e vídeo compõem os espaços que acomodam as atividades de lazer e recreação de todos.

Revista Casa Projeto & Estilo FIAMFAAM - apartamento acessível

Estilo

Moderno, arrojado e sofisticado, o projeto propõe ambientes compostos por materiais, revestimentos e mobiliários com design exclusivo de vários arquitetos e designers, dentre eles, Philippe Starck . As ambientações foram realizadas utilizando uma paleta de cores neutras como branco, preto, beges e cinzas pontuadas estrategicamente com cores vibrantes como amarelo, dourado e vermelho que surgem tanto de objetos decorativos quanto das obras de arte contemporânea distribuídas pelo apartamento.

Casa Projeto & Estilo FIAMFAAM Centro Universitário arquitetura e Design de Interiores

As adaptações

Funcionalidade e eficiências na circulação e acesso a todos os ambientes, mobiliários e equipamentos associado ao luxo, transformaram-se no desafio central para a concepção do projeto. É possível atender clientes com habilidades funcionais diversificadas atendendo às exigências estéticas de todos? A utilização dos princípios de desenho universal, da NBR9050 associados às especificidades ergonômicas e funcionais de cada um de seus membros levaram ao projeto de ambientes que utilizaram predominantemente produtos existentes no mercado de decoração e design. Ajustes nas alturas de poltronas, pufes, mesas e sofás, posicionamentos de tomadas, previsão de circulações amplas e sem barreiras (tapetes foram inseridos em recortes de piso e fixados) e adaptações em bancadas (lavatórios, pias) foram adotadas com o objetivo de gerar qualidade de vida aos seus membros.

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Living e Family room

Sala de estar, home theater, adega, espaço para leitura, sala de jantar apresentam circulações amplas entre os ambientes viabilizando giro completo da cadeira de rodas e espaços para estacionamento e transferência para o usuário.

Lavabo e suítes

Sofisticado, o desenho das bancadas ajusta-se à altura de seus usuários a partir de acionamento de um botão. As barras de apoio com design alemão, confundem-se com os acessórios assinados. As suítes contam com TVs Magic Mirror em painéis de vidro, chuveiros de teto, duchas manuais e banco retrátil (casal) em Corean, material durável e higiênico.

Cozinha e Espaço Gourmet

A bancada central é de uso exclusivo do pai e se prolonga unindo-se com a mesa de refeições de toda a família. As duas cubas são adaptadas e dispõem de torneiras com água quente e fria acionada com alavancas frontais, o cooktop permite aproximação frontal, o forno elétrico e micro-ondas estão dispostos em bancadas baixas e tanto gaveteiros quanto armários utilizam trilhos de correr italianos, permitindo o alcance de alimentos e utensílios.

Suíte do casal

Foi utilizada uma cama biarticulada que permite diferentes posições e ajustes reclináveis realizados por meio de controle manual. Destaque para u uso de cores e texturas (dos papéis de paredes italianos, tecidos e acabamentos importados), para a automação da TV, equipamentos de som e iluminação do quarto (teto, leitura, piso entre outros).

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Casa Projeto & Estilo: projeto para uma “república” acessível

Talita Benedicto  e  Vitor Zonderico Brandão   FIAM-FAAM Centro Universitário CASA Projeto & Estilo Helena Degreas

FIAM-FAAM Centro Universitário

Alunos: Talita Benedicto  e  Vitor Zonderico Brandão  

Escritório Modelo: Acessibilidade Universal

Curso: Arquitetura e Urbanismo

Tutor: Profª: Drª Helena Degreas

FIAM-FAAM Centro Universitário Profª Helena Degreas

Tema:

O que pode acontecer quando quatro jovens universitários com habilidades funcionais distintas e gostos muito heterogêneos decidem compartilhar os espaços de um apartamento pelos próximos anos?

Centro Universitário FIAMFAAM Casa Projeto & Estilo Helena Degreas

Partido e descrição do projeto

Para atender ao programa de atividades de quatro jovens universitários de alto poder aquisitivo, foram criados ambientes que atendessem as rotinas domésticas e de lazer, já que muitos dos finais de semana são destinados ao encontro e socialização com os demais colegas da faculdade.

Casa Projeto & Estilo FIAMFAAM Centro Universitário Helena Degreas Casa Projeto & Estilo FIAMFAAM Centro Universitário Helena Degreas Casa Projeto & Estilo FIAMFAAM Centro Universitário Helena Degreas

Para atender a casa sempre repleta de pessoas, o piso, seguro e de fácil manutenção, foi feito em cimento queimado; as antigas paredes da cozinha que criavam verdadeiras barreiras no relacionamento social foram retiradas e, em seu lugar, projetados ambientes com alturas e dimensões adequados para atender a todos, sem distinção: do futuro chef de cozinha que tem habilidades funcionais motoras reduzidas e se locomove por meio de cadeira de rodas aos demais membros que não necessitam do uso de tecnologias assistivas. Cozinha e área de serviços foram projetadas visando à praticidade e funcionalidade na execução das atividades cotidianas.

Os espaços foram distribuídos em setores (guarda, preparo, cozimento, limpeza e, para a área de serviços, lavar, secar, passar, guardar). Para atender ao jovem chef, foram previstos os movimentos (circulação, estacionamento e transferência) da cadeira de rodas e, também, as alturas adequadas aos acessos frontais e laterais bem como as profundidades das bancadas previram o alcance manual frontal (0,45cm). Tudo isso para, no dizer de seus amigos de faculdade, viabilizar o seu trabalho como “o cozinheiro oficial da república”. A pia, bancada de trabalho e almoço, cooktop e demais áreas de apoio da cozinha e da lavanderia foram posicionadas a 0,85cm do chão. Garantindo conforto a todos os usuários, foi colocada uma torneira em arco flexível e ducha spray facilitando os movimentos quando da lavagem de utensílios e alimentos. Armários, gaveteiros, gavetas refrigeradas e demais espaços para guarda de utensílios domésticos e roupas tem alturas entre 0,40cm e 1,40cm do chão.

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Um display na bancada permite que o usuário possa controlar o som, a TV e DVD sem precisar se deslocar, fazendo tudo simultaneamente. As tomadas encontram-se posicionadas a 1,10m em todos os cômodos. Na lavanderia, as máquinas podem acessadas lateralmente e tanto a secagem de roupas por varal, quanto a guarda em cabideiros utilizou o sistema basculante. Mesmo instalado em ponto mais alto, pode ser acessado por varão que, mais longo do que o usual é puxado para baixo permitindo a descida por inteiro.

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Revista Casa Projeto & Estilo: dormitório acessível para um adolescente

FIAM-FAAM Centro Universitário

Escritório Modelo: Acessibilidade Universal
Cursos: Design de Interiores, Arquitetura e Urbanismo
Tema: adaptação de um apartamento para um adolescente

Alunos:
Ana Verônica Cruz
Giovanna Galvão
Maiara Bicalho
Leonardo Mamede
Luana Souza Pereira
Luciana Ishu
Sabrina Archanjo Brasil
Simone Dias
Foto: Cibele Rossi de Almeida
Orientação: Profª Helena Degreas

Foto dos alunos

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Introdução
Quem não se lembra de como era bom sair correndo pelos corredores da casa e pular sobre a cama dos pais ou sobre os sofás da sala quando criança? Trazer amigos para dormir em casa, passar a noite inteira acordado assistindo TV, jogando games, conversando e fingindo que está dormindo quando os pais entram no quarto? Estas travessuras e outras tantas são rotina na vida de João (9 anos) e Pedro (12 anos), filhos de um casal jovem que como todos nós, tem uma agenda preenchida por trabalho, estudos, vida social intensa e diversos afazeres vinculados ao lar.

planta do dormitório

É neste ambiente que se desenvolve a proposta de redefinição dos layouts. Com a chegada da adolescência, novas demandas surgiram: os meninos que antes dormiam juntos terão doravante seus quartos individuais que devem oferecer um programa de atividades semelhantes, mas atendendo algumas especificidades: Pedro tem habilidades funcionais motoras reduzidas que, de tempos em tempos, variam entre o uso de cadeiras de rodas e andadores; recentemente, vem sendo estimulado a andar de forma autônoma sem o uso de tecnologias assistivas situação essa que lhe dará a liberdade de escolher para onde quer ir – andando ou correndo a seu modo. Embora ele apresente dificuldades para aprendizagem de conteúdos educacionais, sua habilidade visual é adequada, mas, como qualquer pré-adolescente, sua habilidade funcional auditiva é, na opinião dos pais, bastante “seletiva”.

Quarto do Pedro
quarto do Pedro

Partido

Todos os ambientes foram desenvolvidos para atender às linguagens estéticas e às necessidades sociais da família (recepção de amigos e parentes), bem como às orientações da TO – terapeuta ocupacional e do fisioterapeuta frente aos condicionantes espaciais necessários ao pleno desenvolvimento das habilidades de locomoção e compreensão do Pedro na sua nova fase de vida. A casa deve prover e colaborar no pleno desenvolvimento de autonomia na execução das atividades cotidianas domésticas que vão desde aos cuidados com sua higiene pessoal, alimentação bem como a execução de tarefas que são de sua responsabilidade como guarda de roupas e objetos pessoais, realização de tarefas da escola com acompanhamento eventual da TO, recepção de amigos nos finais de semana e algumas atividades de fisioterapia.

Cozinha Adaptada
Cozinha Adaptada
Cozinha Adaptada
Cozinha Adaptada

O layout foi desenvolvido para todos os ambientes da casa e alguns elementos foram incorporados visando à locomoção segura. A partir dos estudos de circulação (em pé, com auxílio de andadores ou em cadeira de rodas) e, atendendo às formas de uso dos ambientes pelos meninos, todos os vãos de portas e circulações apresentam 0.90m livres. Algumas paredes receberam a fixação de barras de apoio (corredores, salas de estar, jantar, TV, cozinha, banheiro) para que Pedro possa andar apoiando-se por toda a casa. Assentos da cozinha, salas de jantar, estar e home office  (sofás, poltronas e cadeiras diversas) e banheiro são fixos e tem alturas que se adequam à transferências por cadeira de rodas.

No quarto de Pedro foram previstas as mesmas atividades de Marcelo com alguns diferenciais no mobiliário: a bancada de estudo é longa para comportar dois lugares (para ele e para a TO). Nela foi inserida uma prancheta com altura regulável revestida nas quatro laterais com material emborrachado e altura de 0,01m (evita a queda de cadernos e lápis quando inclinada); os gavetões com rodinhas ficam embaixo de uma das laterais da bancada e neles são colocados objetos e brinquedos. A frente é de acrílico transparente para que os objetos sejam facilmente identificáveis pelo menino. A cama é motorizada e biarticulada e sobre ela, no teto levemente rebaixado, foram embutidos dois spots que podem ser acionados para fins de leitura. Como Pedro adora desenhar, ao lado do armário e na parede foi colocada uma grande lousa branca com apoio para que ele fique em pé. Grande paixão do Rodrigo, a bicicleta adaptada juntamente com a cadeira de rodas que aos poucos ele vai largando, ficam pendurados na parede do quarto.

Banheiro adaptado dos meninos: Pedro e João
Banheiro adaptado dos meninos: Pedro e Marcelo
Lavabo adaptado
Lavabo adaptado
adaptação do banheiro dos meninos
adaptação do banheiro dos meninos

O banheiro recebeu mais uma porta que se abre (com folha de correr) para o quarto facilitando o acesso durante a noite. A pia do banheiro e do lavabo tem alturas reguláveis associadas a um sifão flexível. Ao lado da banheira há um assento e apoios laterais retráteis que tem por objetivo facilitar a troca de roupas, como exemplo. As pias do lavabo (que foi colocada no hall de circulação da cozinha) e do banheiro tem barra de apoio na frente facilitando as atividades de higiene. Os pisos todos foram selecionados com materiais antiderrapantes e de fácil manutenção. Tapetes foram embutidos e fixados no chão evitando escorregamentos.

quarto do casal